' 'Fui militante da Frelimo ate uma altura em que houve esquecimento reciproco. Eles se esqueceram de mim e eu deles. tenho um cartao em casa ... adormecido" Esta frase e atribuida a Mia Couto Alguem confirma?
Tuesday, 25 June 2013
Monday, 24 June 2013
A Opiniao de Mia Couto: Guebuzistao
Era uma vez, nas
longínquas terras africanas, existia um reino para lá do comum. Algumas
pessoas chamavam-no “Pérola do Índico” e outras
simplesmente “Pátria de Heróis”. Mas havia uns que preferiam designá-lo “Guebuzistão”. Pouco importa o nome, bem poderia ser “Pátria Amada” ou “Pátria Qualquer Coisa”, mas tinha de ter um Rei.
O
Soberano, de nome desconhecido, tinha quatro paixões (só não se sabe se
é nesta ordem), designadamente helicóptero, piripiri, cachimbo e
ampliar o seu património (financeiro)
pessoal para lá de insuportável, adquirindo participações nas poucas
empresas que movimentavam a economia daquele reino. Mas há quem fala de
uma quinta paixão: adorava ser bajulado.
Como todo o Rei, ele tinha os seus funcionários – verdadeiros mestres em reproduzir o discurso da sua majestade – que fingiam estar a preocupados com o bem-estar do povo, quando, na verdade, acomodavam a corrupção e o nepotismo.
Diga-se, o reino parecia um covil de abutres com as unhas cravadas na garganta dos súbditos que eram forçados a viver à intempérie, sem transporte, um sistema de saúde condigno e uma educação decente.
Apesar
de as estatísticas mostrarem, vezes sem conta, o crescimento da
economia local, os súbditos continuavam a morrer de fome, miséria (i)
merecida e doenças curáveis. Mas o Rei cinicamente continuava a repetir até à náusea – qual um robô programado – qualquer coisa como
: “Estamos no bom caminho, rumo à prosperidade”.
Quando o povo pedia pão e água, o Rei e os seus sequazes serviam excessivamente NADA, quando não eram overdoses de promessas e discursos cheios de nada e de nenhuma coisa.
Nas suas habituais brincadeiras e com o apoio dos seus títeres, começou por falar de “Revolução Verde” que morreu antes de nascer, inventou a história de “Jatropha” que continua sem pernas para andar e, mais tarde, forjou uma tal de “Cesta Básica” que ninguém chegou a ver.
Aliás,
para entreter e domesticar o povo, compôs uma canção intitulada
“Auto-estima” e decidiu dividir o reino em três gerações. Engendrou
ainda uma guerra que denominou “Combate à Pobreza Absoluta” e, até
então, ninguém sabe em que estágio se encontra a luta. Mas uma coisa é
certa: ninguém deu o primeiro tiro, até porque os soldados de ontem não
têm motivos para lutar, uma
vez que levam uma vida abastada.
Cansado de receber o atestado de estupidez que era passado a todos os súbditos daquele reino, um jovem desconhecido decidiu rebelar-se. Sem
escudo,
apenas com uma azagaia, dispôs-se a fazer frente à monarquia e todos os
meios de repreensão modernos ao seu dispor. Chamaram o rapaz à razão,
mas ele fez orelhas moucas.
Inebriado pelo apoio que recebia do povo, o jovem seguia, sem escudo (apenas
com azagaia), desferindo violentos golpes ao regime. Num certo dia,
quando se preparava para arremessar mais uma lança, caiu nas mãos dos
carrascos. Foi encarcerado.
Motivo: levava consigo uma erva que naquele reino era proibida.
Paradoxalmente, prenderam-no por transportar apenas quatro gramas de uma planta proibida, mas ninguém prende os guardiões do Rei que exportam impune e sistematicamente FLORESTAS DE MADEIRA PROIBIDA para o reino de Bruce Lee.
Contudo, há quem
acredite que foi mesmo por causa do instrumento de combate. Dois dias depois, o rapaz foi liberto, mas não se sabe se ele viverá feliz para sempre.
PS: Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Thursday, 20 June 2013
De Guebuza a Museveni - os perigos da Escola de Dar Es Salam para a Democratizacao de Africa
De visita de trabalho a alguns municipios da Africa Oriental sou bafejado por quatro noticias que me preocupam! Alias que preocupam a qualquer mocambicano. Estamos a falar do assalto ao Chefe do Estado Maior das Forcas Armadas (e consequente perda de um computador e de tres pistolas), a perseguicao dos medicos grevistas mesmo depois de terem parado com a greve, o anuncio de quase retorno a guerra pela lideranca de Renamo e a continuacao das avarias propositadas no recenseamento eleitoral. A somar a estas inquetacoes e para contrastar com a 'Paz de Kigali', recebo no meu celular a noticia do espancamento do meu colega e amigo, Erias Lukwago, Presidente do Municipio de Kampala a semelhanca dos espancamentos que o actaul Primeiro Ministro do Zimbabwe, Morgan Tsvanguirai recebeu ha alguns anos atras. Estas noticias, que parecem separadas parece terem algo em comum - A escola politica de Dar es Salam, onde tanto Guebuza, Mugabe como Museveni beberam a 'arte da violencia'!
Ha dois meses reportei neste blog algo estranho - a realizacao de uma conferencia de governos locais da Commonwealth em Kampala, sem que Erias Lukwago, o Presidente do Municipio de Kampala, a cidade anfitria, fosse convidado! como e que uma organizacao do calibre da Commonwealth pode cometer uma 'gaffe' destas?
Para perceber os contornos desta aberracao visitei o meu colega, que explicou em primeira mao o que estava a acontecer em Kampala e pelos vistos nao foram precisos mais de dois meses para que a leitura do meu colega se consubstanciasse! Ha duas semanas tambem em Kampala, Yoweri Museveni mandou o seu filho, que e o chefe das forcas especiais, invadir dois jornais de Kampala (O Monitor e Red Pepper) mantendo-os encerrados por mais de duas semanas, alegadamente por terem publicado uma carta do seu Chefe de inteligencia que se encontra foragido algures em Londres!
Em casa, noto que definitivamente Armando Emilio Guebuza inspirado nas tacticas de Museveni, que tambem nao quer abdicar do poder (e tem a sua esposa como ministra) e de Mugabe, nao quer (tambem) abdicar do poder! Para isso vem ensaiando varias estrategias, (1) lancou a esposa no terreno para testar a sua popularidade no intuito de emular o modelo (Argentino) Kisner (esqueceu-se que O Kisner morreu logo depois da esposa tomar posse), (2) projectou a milionaria filha (Museveni tem o seu irmao bem como o filho bem posicionados na hierarquia militar) e o testa de ferro no Comite Central, (3) ensaiou um balao de oxigenio que pomposamente chamou de 'Revisao da Constituicao', com o intuito de tentar forcar um terceiro termo ou entao ensaiar um 'Modelo Putin', e para tal colocou Mulembwe como bode espiatorio, (4) 'provocou' a Renamo em Muxungue, (5)mandou prender e espancar o Secretario Geral da Renamo, com o intuito de arranjar um pretexto para uma possivel reaccao da Renamo que o possibilitaria a declarar um 'Estado de emergencia' e assim adiar quer as autarquicas quer as parlamentares e presidenciais, (6) ensaiou negociacoes para testar a possibilidade de um acordo com a Renamo para instituir um governo de transicao adiando assim sine die as eleicoes, (7) infiltrou seus sequazes da ONP e outros da securocracia na CNE e no STAE, (8)nomeou governadores e ministros de pe descalso e sem medula espinal, (9) acantonou no congresso de Pemba todos os que ousavam usar seus cerebros... e (10) expurgou a lideranca da ala juvenil do seu partido abrindo assim caminho para a sua consagracao vitalicia no comando da Frelimo e quica do pais!
O que nos preocupa nesta sequencia de eventos nao e o 'barulho dos maus', incluindo Guebuza, Paunde, Pacheco e companhia mas o silencio "dos bons" dentro (Mulembwe, Comiche, Katupha, Gamito, Jorge Rebelo) e fora da Frelimo, da Sociedade Civil, Os Bispos, os Sheiks, os jornalistas, a Comunidade Internacional, dos academicos e outros que em qualquer sociedade sa deveriam no minimodistanciar-se de tais praticas! Parec que nos esquecemos todos de que Hitler, foi eleito democraticamente e pouco a pouco foi construindo um estado monstruoso que acabou destruindo a Alemanha!
Nao menosprezemos a capacidade destruidora da Escola de Dar Es Salam desde Guebuza, Museveni, Mugabe, Zuma e companhia limitada! Quando pessoas da 'craveira' de Mazula fazem corro a estes atropelos e porque de facto o doente esta em coma!... e como para bom entendedor meia palavra basta, ficamos por aqui lembrando ovelho ditado- 'diga-me com quem andas que te direi quem es'!
E mais nao disse! Assante Sana!
Um abraco de Nairobi, Manuel de Araujo
Kampala mayor Erias Lukwago 'beaten by Uganda police'
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Mayor Erias Lukwago said he collapsed after tear gas was thrown into his car.
Mr Lukwago is an opponent of President Yoweri Museveni, and government critics saw the incident as an attempt to stifle criticism of Mr Museveni.
Meanwhile, Ugandan opposition leader Kizza Besigye was arrested for holding an unsanctioned rally.
'I collapsed'
Mr Lukwago was due to appear before a tribunal on Thursday, for the first day of a hearing which could possibly impeach him for abuse of office.
According to the BBC's Catherine Byaruhanga, police surrounded his home and then escorted him towards the building where the tribunal was being held.
But on the way, a tear gas canister was thrown into his vehicle.
"All I could inhale was just the smoke - it went deep into my lungs. I have a problem of high blood pressure... I collapsed there. So they picked me, dumped me into the waiting van and drove away at a terrific speed," Mr Lukwago said in an interview with the BBC from his hospital bed.
He said that police officers hit him in the chest and tore his clothes.
"Those people were accusing me of all sorts of things - incitement to violence. They hit me in the chest, tore my shirt and treated me in a very rough manner," he said.
Kizza Besigye has been accused by police of inciting a crowd to rally in support of Mr Lukwago.
"We were surprised to see Besigye appear there. Then he started addressing and inciting people as usual, yet he had no police permission to do that," deputy police spokesman Patrick Onyango told Reuters.
Conferência de Imprensa da RENAMO
Tuesday, 18 June 2013
5 mortos e 2 feridos confirmados em assalto a Paiol na Linha de Sena
Monday, 17 June 2013
Médicos suspendem greve em nome do povo
“E assim, sem que
tenhamos alcançado nenhum acordo, estando deveras insatisfeitos, a AMM e
a CPSU, em respeito pela dor e sofrimento do povo solidário, declaram,
hoje, dia 15 de Junho de 2013, a suspensão da greve geral dos
profissionais de saúde!”
Maputo (Canalmoz) – Ao fim
de 27 dias consecutivos de greve, os profissionais de saúde (médicos,
enfermeiros e outros técnicos) anunciaram a “suspensão” da paralisação
no Sistema Nacional de Saúde, sem que tenham chegado ao consenso com o
Governo.
No documento enviado ao Canalmoz pela Associação Moçambicana dos Médicos
(AMM) não se especifica se as negociações que vinham decorrendo com o
Governo continuam ou não com a suspensão da greve. Alega-se “respeito
pela dor e sofrimento do povo solidário” para a suspensão da greve.
Eis o documento na íntegra
A Associação Médica de Moçambique (AMM) e a Comissão dos
Profissionais de Saúde Unidos (CPSU) convocaram no dia 20 de Maio uma
greve geral dos funcionários de saúde, como último recurso legalmente
consagrado na Constituição da República (CR) para fazer valer os seus
direitos e resgatar a dignidade dos profissionais de saúde. Respeitando
todos os dispositivos legais, incluindo um pré-aviso de 7 dias, a AMM e
CPSU, pautaram sempre pela transparência, legalidade e abertura total e
completa a um diálogo franco, aberto e concreto, que foi traduzido num
diálogo infrutífero por parte do Governo.
Garantindo sempre os
serviços mínimos, os profissionais de saúde souberam agir de forma
solidária a esta causa que tinha, tem e terá sempre interesses
colectivos, lícitos e legítimos como prioridade. Cedo, nos apercebemos
que a causa transcendia as fronteiras do sector saúde, abarcando todas
as outras classes de profissionais do sector público. Percebíamos, a
cada dia que passava, que, de uma forma ou de outra, a dignidade era e é
um horizonte nosso que pretendemos alcançar.
O apoio e solidariedade
dos moçambicanos sobressaiu e esteve visivelmente patente ao longo
destas quatro semanas, sendo exemplos as várias manifestações que
tiveram lugar e, mostrou o quão somos unidos e temos ideais herdados e
bem patentes, ideais estes que remontam da luta de libertação nacional,
cujo exemplo foi a marcha pela dignidade realizada hoje.
O primeiro
passo para o alcance de algo é sempre sonhar. Sonhamos, acreditamos e
fizemos! Fizemos chegar nossos ensejos à toda nação moçambicana. Nem as
ameaças e intimidações destruíram nossos sonhos.
Assim, queremos aqui
agradecer publicamente todo este apoio e solidariedade dos moçambicanos
aos profissionais de saúde. Souberam cuidar de quem cuida! Souberam
cuidar de quem salva!
A justiça social e equidade não é um sonho
utópico. De utópico apenas tem a arrogância de quem não percebe. O
carácter oculto e aparentemente inexistente de uma atitude insensível
sobressaíram. Ouvimos, vimos e testemunhamos actos que só sabíamos
existir nos livros da história universal e em particular de Moçambique.
A
dor de um profissional de saúde em greve jamais deverá ser interpretada
de forma leviana. A nós nos dói esta situação! É uma dor incalculável,
que nos atrevemos a comparar à dor de um bisturi rasgando nossa pele sem
a devida preparação psicológica e sem anestesia. Mas sentimos esta dor,
minuto após minuto, hora após hora, dia após dia, durante estes 27
dias.
No entanto, também percebemos e compreendemos a dor dos
Moçambicanos, que sempre mostraram a sua solidariedade, e de forma
paciente souberam esperar pela resolução deste diferendo que opunha os
profissionais de saúde e a entidade patronal.
E assim, sem que
tenhamos alcançado nenhum acordo, estando deveras insatisfeitos, a AMM e
a CPSU, em respeito pela dor e sofrimento do povo solidário, declaram,
hoje, dia 15 de Junho de 2013, a suspensão da greve geral dos
profissionais de saúde!
Apelamos que não se deixem intimidar por
levantamentos de processos disciplinares. A greve é legal, sendo um
direito constitucionalmente consagrado. As faltas marcadas são
justificadas! Estas tentativas de intimidação devem ser imediatamente
reportadas quer à CPSU, quer à AMM, a todos os níveis, que para o efeito
tem um departamento jurídico para o devido tratamento.
Felicitamos a
todos os profissionais de saúde, pela coragem e determinação que
tiveram e mantém, dando os primeiros passos rumo à dignidade e à
valorização da nossa classe.
Maputo, aos 15 de Junho de 2013
(Redacção)
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Semanário
Saturday, 8 June 2013
A Opiniao de Nicolau Parruque
Solução da greve dos médicos está no diálogo
SR. DIRECTOR!Permita-me, Excia, fazer chegar aos meus compatriotas a questão de fundo nos últimos dias que é a greve dos profissionais da Saúde, com o objectivo de reflectirmos sobre as suas causas e as respectivas implicações.
“Um Governo que não tem uma perspectiva clara para o futuro perderá o rumo e fatalmente sucumbirá face ao inesperado”, dizia um dos meus professores. É o que estou a assistir actualmente.
Estamos mergulhados num dilema muito grande, e ainda temos problemas de governação. Ninguém responde pelo desempenho dos Recursos Humanos do MISAU. Basta! Não podemos permitir que a política interfira nas acções da Saúde.
O MISAU veio a público, através da sua porta-voz, insultar os profissionais que lidam com vidas humanas como se se tratasse de estivadores. Não é possível os nossos dirigentes usarem um meio-termo não pejorativo para os seus subordinados?
Os nossos governantes bem com os profissionais da Saúde devem pôr a mão na consciência. Porque estão em jogo VIDAS HUMANAS e não vejo razões para que se demora tanto a resolver este conflito.
Continuamos a assistir situações bárbaras de atropelo da ética e direitos de qualquer trabalhador, o que, de certa maneira, desmotiva o pessoal da Saúde.
Suponho que o Governo está à espera que a greve complete 30 dias para levantar processos disciplinares contra os faltosos de modo a expulsá-los, o que vai aumentar ainda mais a escassez de quadros e complicar tudo o que já foi feito e previsto. Isso vai aumentar casos de cobranças ilícitas. Muitas coisas poderão sair mal no MISAU e complicar-se ainda mais a vida do povo. Dialogar é muito bom e parece que os nossos dirigentes não têm essa cultura.
O bom senso deve prevalecer entre o Governo e os profissionais da Saúde. Para tal é necessário, de facto, diálogo, que vai culminar com o retorno dos grevistas aos seus postos de trabalho o mais urgente possível.
Tenho dito.
- Nicolau Parruque in Noticias, 08 de Junho 2013
A Opiniao de Pedro Nacuo
DIZER POR DIZER… - Sonhando num reencontro médicos grevistas/doentes
Sonhando, como sonhar não é proibido e, sobretudo, porque é gratuito, num reencontro entre os médicos grevistas e os seus doentes (pacientes), vou cá desfilando um sem número de ideias sobre como será a conversa entre estas partes, sempre juntas, depois de quase um mês de divórcio forçado.Sonhando com o doente que olhando para o seu médico dirá (sem dizer) que, entretanto, este meu médico abandonou-me durante este período em que não fui nem controlado nem medicado, por o Doutor ter estado numa manifestação a que se deu o nome de greve e, assim, de facto, para além da dor que sentia aqui, agora também sinto ali, bem como deste lado… que pode ser o prolongamento da mesma doença. Ela cresceu, visto que também as doenças crescem.
Sonhando na dificuldade de o médico convencer ao paciente que gosta dele, que o acarinha, que estava em greve contra outras pessoas ou grupo de pessoas, que não ele, porque o salário que lhe é dado, apesar de ser, por hoje, dos mais gordos das classes profissionais da Função Pública, é, mesmo assim, muito magro.
Sonhando na dificuldade de o médico dizer ao doente que estava a lutar para que o Governo aumentasse mais o seu salário, por isso teve de abandonar quem precisava dele, o seu querido doente, a quem sempre disse que lhe estava a ajudar para que a morte demorasse a vir, que morresse mais tarde e não tão já.
Sonhando na dificuldade que o doente terá para fazer a ligação entre a sua doença e o tal governo, para que se convença que de facto é ao governo que se tem de atribuir a culpa de não ter sido tratado pelo médico durante um mês, sabendo que não terá sido o governo a faltar ao serviço, a fechar as enfermarias, os consultórios, as farmácias, as morgues, nem os cadeados que fecharam as portas de acesso ao seu hospital terão sido comprados e colocados pelo tal governo.
Sonhando num doente, que é simples POVO, a obrigar-se a compreender que na qualidade de pobre haverá outros mais pobres ainda que na sua luta contra essa pobreza não lhes importam os meios, ainda que outros passem pelo sacrifício de vidas humanas, desde que o fim seja o ser menos pobre que a maioria dos pobres.
Sonhando também na modéstia de um médico que dirá ao seu doente: estava enganado, tu não tens culpa, a culpa é de quem nem sequer passa por esta porta por onde entraste e, provavelmente, precisa de serviços de outros médicos, normalmente de fora deste país. Se calhar nem esse, mas precisamos de trabalhar mais para que o pão não falte a ninguém nesta casa.
Sonhando com aquele médico, mais modesto ainda, que dirá: a minha/nossa luta vai prosseguir, mas esta batalha foi perdida, justamente porque fizemos contas na terra, olhando para o céu, lá onde possivelmente é possível esquecer os outros, dando-nos a nós mesmos a importância que achamos ter…
Sonhando com aquele médico que dirá: fui e sou criança (como o são todos perante o POVO), por isso só agora faço as contas e descubro que o resultado é ter feito sofrer o meu POVO, não o governo, porque este, como todos outros governos, passa, mas sempre ficarei com o POVO, donde vim e aonde vou! Desculpe-me, POVO, meu pai, minha mãe, que me fizeste e me educaste! Eu também tenho família que sofreu neste período turbulento!
Sonhando numa organização de Direitos Humanos que defenda os direitos humanos, que numa situação litigiosa que envolva qualquer coisa e o direito à vida defenda este, por saber que é o mais importante de todos os direitos humanos (esqueçam a repetição).
Sonhando com o médico e doente a reconciliarem-se, ambos chegando a algumas conclusões interessantes, menos egoístas, menos exclusivistas do tipo se nós estamos zangados com o dinheiro que recebemos e significa o tecto dos funcionários do Estado, pelo menos em comparação com os professores, polícias… na verdade a nossa luta deve ser direccionada para outros objectivos, que incluem fazer com que o governo não mais se engane a dar muitíssimo dinheiro de ordenamento a uns e pouquíssimo a outros.
Sonhando numa culpa, sim, dada ao governo que em vez de ir tentando equilibrar os salários, conforme as competências e qualificações dos cidadãos, pelo contrário vai procurando cavar mais abismos que, num futuro próximo, podem tornar o país ingovernável, exactamente por causa das diferenças injustificáveis.
Sonhando num Estado que tratará os seus cidadãos, tal como ele mesmo disse, de forma igual, para que não se prolongue a ideia que fez dos cursos de Medicina e Direito os mais concorridos, porque é lá onde há muito dinheiro. Para que não se prolongue a ideia de que trabalhar nas Alfândegas, ainda que não se seja muita coisa do ponto de vista de formação, significa ser muito diferente dos outros moçambicanos com o mesmo número de anos escolásticos e competências equiparáveis.
Sonhando, enfim, num Estado que promove a formação dos seus cidadãos, mas para abraçarem profissões para as quais têm vocação, não à guisa de muito dinheiro, porque para ter muito dinheiro há muitos caminhos, alguns dos quais, infelizmente, passam por cometer crimes de toda a ordem.
Sonhei demais? Não é proibido, tal como foi dito acima. Ainda há lugar para sonhar em mordomias para os nossos dirigentes, mas apenas as justificáveis. São essas que não lhes desligam do rabo-de-palha, que fazem com que os comparsas façam e desfaçam, porque eles sabem quem são e de que vivem. Vamos sonhar o altruísmo, a moralidade, a consciência plena de que somos pobres, mas todos, para que todos lutemos contra a pobreza! Pena, o espaço só dava para dizer, quase sem dizer!
- Pedro Nacuo
GREVE NA SAÚDE - Médicos escrevem ao chefe do Estado
A carta contesta o facto de o Orçamento do Estado para a Saúde ter baixado nos últimos seis ou sete anos em cerca de 50 por cento enquanto em alguns sectores aumentou 10 vezes mais.
O documento afirma também que a actual situação em que se encontra o SNS deriva do silêncio dos governantes face às preocupações reiteradamente apresentadas pelos profissionais da Saúde, que se sentem desconsiderados, injustiçados, desmoralizados e revoltados.
Os subscritores da carta denunciam ainda situações de coacção, intimidação, demissão e repressão exercidas sobre os profissionais da Saúde envolvidos na greve e, segundo a carta, são medidas contraditórias com o reconhecimento da legitimidade da greve e não aceitáveis num Estado de Direito, o que contribui para o agravamento da situação.
Revela também que este grupo associa-se à Ordem dos Médicos de Moçambique e outras instituições no repúdio à detenção do presidente da AMM, Jorge Arroz.
A referida missiva lamenta e condena a minimização da gravidade da situação da greve, ocultando os problemas existentes e denegrindo as justas e legítimas reivindicações dos profissionais da Saúde.
Segundo o documento, este grupo constatou que, contrariamente ao que se tem propalado, os serviços mínimos têm sido assegurados na quase totalidade dos hospitais do país, embora com algumas deficiências que é necessário colmatar.
É com base nestas questões que os médicos apelam à intervenção do Chefe do Estado, na qualidade do mais alto magistrado da nação, no sentido de se encontrar uma solução para as preocupações dos médicos.
Tuesday, 4 June 2013
Mensagem do Presidente do Municipio de Quelimane em solidariedade aos Doentes em todo o territorio nacional, aos Municipes de Quelimane, a Classe Medica e a todos os Funcionarios do Sistema Nacional de Saude