“E assim, sem que
tenhamos alcançado nenhum acordo, estando deveras insatisfeitos, a AMM e
a CPSU, em respeito pela dor e sofrimento do povo solidário, declaram,
hoje, dia 15 de Junho de 2013, a suspensão da greve geral dos
profissionais de saúde!”
Maputo (Canalmoz) – Ao fim
de 27 dias consecutivos de greve, os profissionais de saúde (médicos,
enfermeiros e outros técnicos) anunciaram a “suspensão” da paralisação
no Sistema Nacional de Saúde, sem que tenham chegado ao consenso com o
Governo.
No documento enviado ao Canalmoz pela Associação Moçambicana dos Médicos
(AMM) não se especifica se as negociações que vinham decorrendo com o
Governo continuam ou não com a suspensão da greve. Alega-se “respeito
pela dor e sofrimento do povo solidário” para a suspensão da greve.
Eis o documento na íntegra
A Associação Médica de Moçambique (AMM) e a Comissão dos
Profissionais de Saúde Unidos (CPSU) convocaram no dia 20 de Maio uma
greve geral dos funcionários de saúde, como último recurso legalmente
consagrado na Constituição da República (CR) para fazer valer os seus
direitos e resgatar a dignidade dos profissionais de saúde. Respeitando
todos os dispositivos legais, incluindo um pré-aviso de 7 dias, a AMM e
CPSU, pautaram sempre pela transparência, legalidade e abertura total e
completa a um diálogo franco, aberto e concreto, que foi traduzido num
diálogo infrutífero por parte do Governo.
Garantindo sempre os
serviços mínimos, os profissionais de saúde souberam agir de forma
solidária a esta causa que tinha, tem e terá sempre interesses
colectivos, lícitos e legítimos como prioridade. Cedo, nos apercebemos
que a causa transcendia as fronteiras do sector saúde, abarcando todas
as outras classes de profissionais do sector público. Percebíamos, a
cada dia que passava, que, de uma forma ou de outra, a dignidade era e é
um horizonte nosso que pretendemos alcançar.
O apoio e solidariedade
dos moçambicanos sobressaiu e esteve visivelmente patente ao longo
destas quatro semanas, sendo exemplos as várias manifestações que
tiveram lugar e, mostrou o quão somos unidos e temos ideais herdados e
bem patentes, ideais estes que remontam da luta de libertação nacional,
cujo exemplo foi a marcha pela dignidade realizada hoje.
O primeiro
passo para o alcance de algo é sempre sonhar. Sonhamos, acreditamos e
fizemos! Fizemos chegar nossos ensejos à toda nação moçambicana. Nem as
ameaças e intimidações destruíram nossos sonhos.
Assim, queremos aqui
agradecer publicamente todo este apoio e solidariedade dos moçambicanos
aos profissionais de saúde. Souberam cuidar de quem cuida! Souberam
cuidar de quem salva!
A justiça social e equidade não é um sonho
utópico. De utópico apenas tem a arrogância de quem não percebe. O
carácter oculto e aparentemente inexistente de uma atitude insensível
sobressaíram. Ouvimos, vimos e testemunhamos actos que só sabíamos
existir nos livros da história universal e em particular de Moçambique.
A
dor de um profissional de saúde em greve jamais deverá ser interpretada
de forma leviana. A nós nos dói esta situação! É uma dor incalculável,
que nos atrevemos a comparar à dor de um bisturi rasgando nossa pele sem
a devida preparação psicológica e sem anestesia. Mas sentimos esta dor,
minuto após minuto, hora após hora, dia após dia, durante estes 27
dias.
No entanto, também percebemos e compreendemos a dor dos
Moçambicanos, que sempre mostraram a sua solidariedade, e de forma
paciente souberam esperar pela resolução deste diferendo que opunha os
profissionais de saúde e a entidade patronal.
E assim, sem que
tenhamos alcançado nenhum acordo, estando deveras insatisfeitos, a AMM e
a CPSU, em respeito pela dor e sofrimento do povo solidário, declaram,
hoje, dia 15 de Junho de 2013, a suspensão da greve geral dos
profissionais de saúde!
Apelamos que não se deixem intimidar por
levantamentos de processos disciplinares. A greve é legal, sendo um
direito constitucionalmente consagrado. As faltas marcadas são
justificadas! Estas tentativas de intimidação devem ser imediatamente
reportadas quer à CPSU, quer à AMM, a todos os níveis, que para o efeito
tem um departamento jurídico para o devido tratamento.
Felicitamos a
todos os profissionais de saúde, pela coragem e determinação que
tiveram e mantém, dando os primeiros passos rumo à dignidade e à
valorização da nossa classe.
Maputo, aos 15 de Junho de 2013
(Redacção)
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