DIZER POR DIZER… - Sonhando num reencontro médicos grevistas/doentes
Sonhando, como sonhar não é proibido e, sobretudo, porque é gratuito, num reencontro entre os médicos grevistas e os seus doentes (pacientes), vou cá desfilando um sem número de ideias sobre como será a conversa entre estas partes, sempre juntas, depois de quase um mês de divórcio forçado.
Maputo, Sábado, 8 de Junho de 2013
Notícias
Sonhando
com o médico que encontra o seu paciente, cujas complicações de saúde
conhecia muito bem e sempre recomendou o seguimento das suas
orientações, que sempre controlou, uma das quais é apresentar-se
regularmente ao médico para controlar a sua evolução, sem o que a sua
saúde poder-se-ia deteriorar, dando lugar, inclusive, à sua morte
precoce ou evitável.
Sonhando com o doente que olhando para o seu médico dirá (sem dizer) que, entretanto, este meu médico abandonou-me durante este período em que não fui nem controlado nem medicado, por o Doutor ter estado numa manifestação a que se deu o nome de greve e, assim, de facto, para além da dor que sentia aqui, agora também sinto ali, bem como deste lado… que pode ser o prolongamento da mesma doença. Ela cresceu, visto que também as doenças crescem.
Sonhando na dificuldade de o médico convencer ao paciente que gosta dele, que o acarinha, que estava em greve contra outras pessoas ou grupo de pessoas, que não ele, porque o salário que lhe é dado, apesar de ser, por hoje, dos mais gordos das classes profissionais da Função Pública, é, mesmo assim, muito magro.
Sonhando na dificuldade de o médico dizer ao doente que estava a lutar para que o Governo aumentasse mais o seu salário, por isso teve de abandonar quem precisava dele, o seu querido doente, a quem sempre disse que lhe estava a ajudar para que a morte demorasse a vir, que morresse mais tarde e não tão já.
Sonhando na dificuldade que o doente terá para fazer a ligação entre a sua doença e o tal governo, para que se convença que de facto é ao governo que se tem de atribuir a culpa de não ter sido tratado pelo médico durante um mês, sabendo que não terá sido o governo a faltar ao serviço, a fechar as enfermarias, os consultórios, as farmácias, as morgues, nem os cadeados que fecharam as portas de acesso ao seu hospital terão sido comprados e colocados pelo tal governo.
Sonhando num doente, que é simples POVO, a obrigar-se a compreender que na qualidade de pobre haverá outros mais pobres ainda que na sua luta contra essa pobreza não lhes importam os meios, ainda que outros passem pelo sacrifício de vidas humanas, desde que o fim seja o ser menos pobre que a maioria dos pobres.
Sonhando também na modéstia de um médico que dirá ao seu doente: estava enganado, tu não tens culpa, a culpa é de quem nem sequer passa por esta porta por onde entraste e, provavelmente, precisa de serviços de outros médicos, normalmente de fora deste país. Se calhar nem esse, mas precisamos de trabalhar mais para que o pão não falte a ninguém nesta casa.
Sonhando com aquele médico, mais modesto ainda, que dirá: a minha/nossa luta vai prosseguir, mas esta batalha foi perdida, justamente porque fizemos contas na terra, olhando para o céu, lá onde possivelmente é possível esquecer os outros, dando-nos a nós mesmos a importância que achamos ter…
Sonhando com aquele médico que dirá: fui e sou criança (como o são todos perante o POVO), por isso só agora faço as contas e descubro que o resultado é ter feito sofrer o meu POVO, não o governo, porque este, como todos outros governos, passa, mas sempre ficarei com o POVO, donde vim e aonde vou! Desculpe-me, POVO, meu pai, minha mãe, que me fizeste e me educaste! Eu também tenho família que sofreu neste período turbulento!
Sonhando numa organização de Direitos Humanos que defenda os direitos humanos, que numa situação litigiosa que envolva qualquer coisa e o direito à vida defenda este, por saber que é o mais importante de todos os direitos humanos (esqueçam a repetição).
Sonhando com o médico e doente a reconciliarem-se, ambos chegando a algumas conclusões interessantes, menos egoístas, menos exclusivistas do tipo se nós estamos zangados com o dinheiro que recebemos e significa o tecto dos funcionários do Estado, pelo menos em comparação com os professores, polícias… na verdade a nossa luta deve ser direccionada para outros objectivos, que incluem fazer com que o governo não mais se engane a dar muitíssimo dinheiro de ordenamento a uns e pouquíssimo a outros.
Sonhando numa culpa, sim, dada ao governo que em vez de ir tentando equilibrar os salários, conforme as competências e qualificações dos cidadãos, pelo contrário vai procurando cavar mais abismos que, num futuro próximo, podem tornar o país ingovernável, exactamente por causa das diferenças injustificáveis.
Sonhando num Estado que tratará os seus cidadãos, tal como ele mesmo disse, de forma igual, para que não se prolongue a ideia que fez dos cursos de Medicina e Direito os mais concorridos, porque é lá onde há muito dinheiro. Para que não se prolongue a ideia de que trabalhar nas Alfândegas, ainda que não se seja muita coisa do ponto de vista de formação, significa ser muito diferente dos outros moçambicanos com o mesmo número de anos escolásticos e competências equiparáveis.
Sonhando, enfim, num Estado que promove a formação dos seus cidadãos, mas para abraçarem profissões para as quais têm vocação, não à guisa de muito dinheiro, porque para ter muito dinheiro há muitos caminhos, alguns dos quais, infelizmente, passam por cometer crimes de toda a ordem.
Sonhei demais? Não é proibido, tal como foi dito acima. Ainda há lugar para sonhar em mordomias para os nossos dirigentes, mas apenas as justificáveis. São essas que não lhes desligam do rabo-de-palha, que fazem com que os comparsas façam e desfaçam, porque eles sabem quem são e de que vivem. Vamos sonhar o altruísmo, a moralidade, a consciência plena de que somos pobres, mas todos, para que todos lutemos contra a pobreza! Pena, o espaço só dava para dizer, quase sem dizer!
Sonhando com o doente que olhando para o seu médico dirá (sem dizer) que, entretanto, este meu médico abandonou-me durante este período em que não fui nem controlado nem medicado, por o Doutor ter estado numa manifestação a que se deu o nome de greve e, assim, de facto, para além da dor que sentia aqui, agora também sinto ali, bem como deste lado… que pode ser o prolongamento da mesma doença. Ela cresceu, visto que também as doenças crescem.
Sonhando na dificuldade de o médico convencer ao paciente que gosta dele, que o acarinha, que estava em greve contra outras pessoas ou grupo de pessoas, que não ele, porque o salário que lhe é dado, apesar de ser, por hoje, dos mais gordos das classes profissionais da Função Pública, é, mesmo assim, muito magro.
Sonhando na dificuldade de o médico dizer ao doente que estava a lutar para que o Governo aumentasse mais o seu salário, por isso teve de abandonar quem precisava dele, o seu querido doente, a quem sempre disse que lhe estava a ajudar para que a morte demorasse a vir, que morresse mais tarde e não tão já.
Sonhando na dificuldade que o doente terá para fazer a ligação entre a sua doença e o tal governo, para que se convença que de facto é ao governo que se tem de atribuir a culpa de não ter sido tratado pelo médico durante um mês, sabendo que não terá sido o governo a faltar ao serviço, a fechar as enfermarias, os consultórios, as farmácias, as morgues, nem os cadeados que fecharam as portas de acesso ao seu hospital terão sido comprados e colocados pelo tal governo.
Sonhando num doente, que é simples POVO, a obrigar-se a compreender que na qualidade de pobre haverá outros mais pobres ainda que na sua luta contra essa pobreza não lhes importam os meios, ainda que outros passem pelo sacrifício de vidas humanas, desde que o fim seja o ser menos pobre que a maioria dos pobres.
Sonhando também na modéstia de um médico que dirá ao seu doente: estava enganado, tu não tens culpa, a culpa é de quem nem sequer passa por esta porta por onde entraste e, provavelmente, precisa de serviços de outros médicos, normalmente de fora deste país. Se calhar nem esse, mas precisamos de trabalhar mais para que o pão não falte a ninguém nesta casa.
Sonhando com aquele médico, mais modesto ainda, que dirá: a minha/nossa luta vai prosseguir, mas esta batalha foi perdida, justamente porque fizemos contas na terra, olhando para o céu, lá onde possivelmente é possível esquecer os outros, dando-nos a nós mesmos a importância que achamos ter…
Sonhando com aquele médico que dirá: fui e sou criança (como o são todos perante o POVO), por isso só agora faço as contas e descubro que o resultado é ter feito sofrer o meu POVO, não o governo, porque este, como todos outros governos, passa, mas sempre ficarei com o POVO, donde vim e aonde vou! Desculpe-me, POVO, meu pai, minha mãe, que me fizeste e me educaste! Eu também tenho família que sofreu neste período turbulento!
Sonhando numa organização de Direitos Humanos que defenda os direitos humanos, que numa situação litigiosa que envolva qualquer coisa e o direito à vida defenda este, por saber que é o mais importante de todos os direitos humanos (esqueçam a repetição).
Sonhando com o médico e doente a reconciliarem-se, ambos chegando a algumas conclusões interessantes, menos egoístas, menos exclusivistas do tipo se nós estamos zangados com o dinheiro que recebemos e significa o tecto dos funcionários do Estado, pelo menos em comparação com os professores, polícias… na verdade a nossa luta deve ser direccionada para outros objectivos, que incluem fazer com que o governo não mais se engane a dar muitíssimo dinheiro de ordenamento a uns e pouquíssimo a outros.
Sonhando numa culpa, sim, dada ao governo que em vez de ir tentando equilibrar os salários, conforme as competências e qualificações dos cidadãos, pelo contrário vai procurando cavar mais abismos que, num futuro próximo, podem tornar o país ingovernável, exactamente por causa das diferenças injustificáveis.
Sonhando num Estado que tratará os seus cidadãos, tal como ele mesmo disse, de forma igual, para que não se prolongue a ideia que fez dos cursos de Medicina e Direito os mais concorridos, porque é lá onde há muito dinheiro. Para que não se prolongue a ideia de que trabalhar nas Alfândegas, ainda que não se seja muita coisa do ponto de vista de formação, significa ser muito diferente dos outros moçambicanos com o mesmo número de anos escolásticos e competências equiparáveis.
Sonhando, enfim, num Estado que promove a formação dos seus cidadãos, mas para abraçarem profissões para as quais têm vocação, não à guisa de muito dinheiro, porque para ter muito dinheiro há muitos caminhos, alguns dos quais, infelizmente, passam por cometer crimes de toda a ordem.
Sonhei demais? Não é proibido, tal como foi dito acima. Ainda há lugar para sonhar em mordomias para os nossos dirigentes, mas apenas as justificáveis. São essas que não lhes desligam do rabo-de-palha, que fazem com que os comparsas façam e desfaçam, porque eles sabem quem são e de que vivem. Vamos sonhar o altruísmo, a moralidade, a consciência plena de que somos pobres, mas todos, para que todos lutemos contra a pobreza! Pena, o espaço só dava para dizer, quase sem dizer!
- Pedro Nacuo
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