JANELA (IN) DISCRETA - A sala sete do Sinacurra!
ONTEM revivi um camarada que, não estando o seu corpo presente entre os mortais, os seus ensinamentos continuam a troar e vibrar ao longo de todo este imenso país. Samora Machel, um líder a quem foi erigida uma merecida estátua, inaugurada com pompa e solenidade. Um Presidente que ainda hoje se faz sentir em cada um de nós. Por isso, “Samora Vive.”
Maputo, Quinta-Feira, 20 de Outubro de 2011
Notícias
Hoje vou falar outra vez de Quelimane.
Manuel de Araújo, um amigo de longa data, com quem percorri estepes e planícies à busca, nas catequeses e missas dominicais, de valores morais e espirituais, e sobretudo planando à busca de escola e do saber, hoje intrépido analista sociopolítico, tem uma mania que me agrada: por onde passa fotografa tudo, desde aviões, casas, hotéis, cabanas, pessoas, animais, e depois mostra para o mundo através das redes sociais. Parece-me que usa o seu Blackberry para fotografar ao milímetro os fragmentos do seu quotidiano. Há dias postou no Facebook um dos seus fragmentos: a Escola Primária de Sinacurra.
Confesso que não consegui reprimir um chorrilho de lágrimas que denunciavam um misto de satisfação e desapontamento. Satisfação porque me deu um imenso prazer reviver quase duas décadas depois aquela escola, pequena, mas simpática e humilde, que terá sido indiscutivelmente um laboratório imenso de cérebros, alguns de conduta insuspeita, pensando e idealizando estratégias para o desenvolvimento deste país. Deu-me uma alegria imensa reviver automaticamente, como que por um clique flashpoint, os colegas de então, os professores, os funcionários, o director Madeira e aquele sino de um chocalho extremamente ruidoso e que ficava justamente à porta da sala sete, a minha sala de aulas.
O estrondo do sino era implicante, mas convenhamos que nos dava um prazer enorme ouvi-lo, principalmente ao fim da tarde. De onde saíamos ruidosamente degustando lanho e “pataníquas” (quando na verdade queríamos dizer pataniscas) ou enormes e espadaúdos cana-de-açúcar. Mas também fiquei desapontado, pois as fotos do Araújo mostram uma realidade arreliadora e revoltante. A escola está literalmente em escombros, qual ruína envergonhada por ter sobrevivido a momentos mais difíceis para naufragar em marés limpas e menos ásperas.
Parece um cenário de um filme de guerra, em que Rambo, zangado e feito macho, rebenta com tudo e todos O pior é que uma das fotos é justamente da minha sala sete, cujo tecto há muito que perdeu a sua função, deixando entrar desavergonhadamente água aos cântaros. Não consigo perceber a razão de uma escola primária degradar-se até aquele ponto. Entendo que um bar, uma discoteca de especialidade stripper, um dumba-nengue ou uma loja de bugigangas de terceira mão sejam devotados ao esquecimento e ao abandono. Agora uma escola?! Logo o meu Sinacurra?! Não dá para acreditar.
Aliás, parece-me que em Quelimane está tudo a cair aos pedaços. O emblemático Cinema Águia, o Cine Chuabo, as estradas esburacadas (ou as estradas é que estão nos buracos!), um sem fim de anormalidades que põem em causa a auto-estima dos viventes do pequeno Brasil. Parece-me que deve ser pensada uma espécie de “plano Marshall” para devolver a alegria contagiante das gentes daquela belíssima terra. As escolas, as “bases para o povo tomar o poder”, não podem continuar a ser recordadas com um franzir e careta de desdém do tipo “era ali que…”, devem continuar “a ser ali que….o Homem é forjado!”
Shaloom.
Manuel de Araújo, um amigo de longa data, com quem percorri estepes e planícies à busca, nas catequeses e missas dominicais, de valores morais e espirituais, e sobretudo planando à busca de escola e do saber, hoje intrépido analista sociopolítico, tem uma mania que me agrada: por onde passa fotografa tudo, desde aviões, casas, hotéis, cabanas, pessoas, animais, e depois mostra para o mundo através das redes sociais. Parece-me que usa o seu Blackberry para fotografar ao milímetro os fragmentos do seu quotidiano. Há dias postou no Facebook um dos seus fragmentos: a Escola Primária de Sinacurra.
Confesso que não consegui reprimir um chorrilho de lágrimas que denunciavam um misto de satisfação e desapontamento. Satisfação porque me deu um imenso prazer reviver quase duas décadas depois aquela escola, pequena, mas simpática e humilde, que terá sido indiscutivelmente um laboratório imenso de cérebros, alguns de conduta insuspeita, pensando e idealizando estratégias para o desenvolvimento deste país. Deu-me uma alegria imensa reviver automaticamente, como que por um clique flashpoint, os colegas de então, os professores, os funcionários, o director Madeira e aquele sino de um chocalho extremamente ruidoso e que ficava justamente à porta da sala sete, a minha sala de aulas.
O estrondo do sino era implicante, mas convenhamos que nos dava um prazer enorme ouvi-lo, principalmente ao fim da tarde. De onde saíamos ruidosamente degustando lanho e “pataníquas” (quando na verdade queríamos dizer pataniscas) ou enormes e espadaúdos cana-de-açúcar. Mas também fiquei desapontado, pois as fotos do Araújo mostram uma realidade arreliadora e revoltante. A escola está literalmente em escombros, qual ruína envergonhada por ter sobrevivido a momentos mais difíceis para naufragar em marés limpas e menos ásperas.
Parece um cenário de um filme de guerra, em que Rambo, zangado e feito macho, rebenta com tudo e todos O pior é que uma das fotos é justamente da minha sala sete, cujo tecto há muito que perdeu a sua função, deixando entrar desavergonhadamente água aos cântaros. Não consigo perceber a razão de uma escola primária degradar-se até aquele ponto. Entendo que um bar, uma discoteca de especialidade stripper, um dumba-nengue ou uma loja de bugigangas de terceira mão sejam devotados ao esquecimento e ao abandono. Agora uma escola?! Logo o meu Sinacurra?! Não dá para acreditar.
Aliás, parece-me que em Quelimane está tudo a cair aos pedaços. O emblemático Cinema Águia, o Cine Chuabo, as estradas esburacadas (ou as estradas é que estão nos buracos!), um sem fim de anormalidades que põem em causa a auto-estima dos viventes do pequeno Brasil. Parece-me que deve ser pensada uma espécie de “plano Marshall” para devolver a alegria contagiante das gentes daquela belíssima terra. As escolas, as “bases para o povo tomar o poder”, não podem continuar a ser recordadas com um franzir e careta de desdém do tipo “era ali que…”, devem continuar “a ser ali que….o Homem é forjado!”
Shaloom.
- Leonel Magaia - leoabranches@yahoo.com.br http://www.jornalnoticias.co.mz/pls/notimz2/getxml/pt/contentx/1319520
3 comments:
Um ser inteligente tem 4 dedos de testa. Este "catembense" os têm.
Além de que, neste texto, o autor lucubrou.
Zicomo
Meus caros,
Granda LeoBranches...escasseam adjectivos para elogiar este rapaz!
Ao ler este artigo deixei escapar algumas lágrimas no canto do olho, sério!
Aquela escola perto de casa onde aos finais de semana jogava-se a bola que se fartava.
Saudades e mais saudades...
Abrac
sou de uma geração pouco recente, mas ao ler esse texto fiquei muito comovido, é um retrato falado que demostra conhecimeno real da nossa terra. os meus parabens por esta aula bem danda em forma de texto
saudações
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