Wednesday, 15 December 2010

O Vale do Zambeze e a incompetência governamental

EDITORIAL

Pelos piores motivos, o Vale do Zambeze e o gabinete(GPZ) que deveria comandar o desenvolvimento desta zona vital de Moçambique, estão de novo na ribalta.

Só para recordar, o Vale do Zambeze ocupa uma área de 225 000 Km2 (cerca de 27,7% da superfície do país), com uma população de 3,755 milhões de habitantes (25% da população moçambicana, 56% da população das quatro províncias do Centro do país por onde passa o grande rio.

O Zambeze é o quarto maior rio de África e o que possui maior caudal de entre os rios africanos que desaguam no Índico. A sua bacia ocupa uma área de 1 390 000 quilómetros quadrados, pouco menos de metade da superfície da bacia do Nilo.

O vale do Zambeze, em termos da África Austral, representa:

1. a maior reserva de água do sub-continente, que a partir de 2020 não disporá de água suficiente; neste momento basta salientar que, somente, no Lago da Cahora Bassa existe mais água que em toda a África do Sul;

2. a maior reserva de energia renovável para toda a África Austral, que entre 2007 e 2010 estará carente de energia;

3. a maior reserva de carvão de coque, de alta qualidade;

4. a zona de melhor potencial agrícola, em termos de vastidão de terras e de qualidade, assim como nas reservas de água.

Contudo, a produção alimentar em Moçambique depende mais das chuvas do que da irrigação, apesar de todo o potencial existente.

O GPZ tinha, e é enunciado no pretérito porque já é passado, tinha funções de planificação, promoção, direcção, coordenação e supervisão do desenvolvimento da região abrangida pelo Vale do Zambeze

Criado pelo Decreto do Conselho de Ministros 40/95, de 22 de Agosto, o GPZ não conseguiu em todos os anos de sua existência integrar o desenvolvimento da irrigação em programas de desenvolvimento rural de âmbito mais vasto, de forma a que a agricultura seja mais rentável para os pequenos agricultores.

E se se procuram exemplos para demonstrar a incapacidade governamental em desenvolver a agricultura, o caso do Vale do Zambeze é paradigmático.

E não é de agora a incompetência dos governantes. Já na administração anterior, o então responsável pelo gabinete foi corrido por pobre e má figura pois não conseguiu despertar do grande sono todo o potencial de desenvolvimento do Vale.

A Frelimo, a seu tempo, denunciou os planos coloniais de desenvolvimento da região, recorrendo à potencial implantação maciça de colonos na região, o que serviria de tampão para o avanço da luta de libertação.

Porém, 35 anos depois da libertação total do país, a direcção que dirige os destinos de Moçambique, continua a debater-se com dilemas que vêm dos tempos das machambas estatais e dos importados kolkhozes da já extinta União Soviética. É insultuoso e um claro atestado de incompetência, ver as populações do Vale a trabalhar a terra de enxada de cabo curto, exactamente como o faziam há um século os seus antepassados.

O Vale, sendo uma das zonas mais ricas do país, exige políticas ousadas e corajosas. Exige por exemplo que se pense se não haverá necessidade de se encorajar a emigração de famílias com grande tradição de produção e grande produtividade agrícola e que possam introduzir os moçambicanos nos “grandes mistérios” do desenvolvimento agrário. Exige que também ali se use mão dura para os que se sentam em cima de terra que não usam há espera de um qualquer potencial investidor estrangeiro para amealhar uns milhões com especulação fundiária.

Há alguns anos o advogado Almeida Santos, bem conhecido dos moçambicanos, disse que "quem tem o Vale de Zambeze não pode ser o país mais pobre do mundo".

Desgraçadamente, e muito por culpa dos dirigentes que temos, o Vale do Zambeze está lá e nós continuamos na cauda do desenvolvimento mundial.

Como nos lembra todos os anos o relatório da Organização das Nações Unidas.

SAVANA – 10.12.2010

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