Tuesday 19 October 2010

24 anos do acidente de Mbuzini: Recorda-se hoje memória de Samora

RECORDA-se hoje, em todo o país, a memória inesquecível de Samora Moisés Machel, primeiro Presidente de Moçambique independente. Efectivamente, Samora morreu há 24 anos quando o avião Tupolev-134 em que viajava de regresso a Maputo, vindo de Mbala, Zâmbia, em mais uma missão internacional de busca da paz para o país, região e continente, se despenhou nas colinas de Mbuzini, na África do Sul, provocando outras 34 vítimas que integravam a sua comitiva.

Maputo, Terça-Feira, 19 de Outubro de 2010:: Notícias
As causas reais do desastre de aviação estão ainda por esclarecer, 24 anos após a sua ocorrência. Há, no entanto, indicações de que o avião teria seguido um rádio-farol montado intencionalmente pelo regime do “apartheid”, a tese mais forte, mas há outras versões, muito pouco prováveis, que apontam a erros da tripulação russa. O dossiê não está defintivamente encerrado, pois há interesse tanto do Governo moçambicano como do sul-africano de ver esclarecidas as causas deste acidente.

Para recordar Samora Moisés Machel estão a ser promovidas em todo o país várias manifestações de índole político, cultural e social, tudo na perspectiva de reavivar a vida e obra do proclamador da independência nacional.

Em Maputo, por exemplo, estudantes, académicos, agricultores, artistas, desportistas, religiosos, políticos e outros sectores da juventude decidiram homenagear Samora Machel promovendo um debate sobre os seus sonhos: “Sonho e luta de Samora Machel”.

Em Gaza, mais concretamente em Chilembene, terra natal de Samora Machel, serão promovidas várias manifestações culturais, elevando a vida e obra do “Pai da Nação”.

Os jovens reconhecem em Samora Machel um líder carismático, combatente pela liberdade, homem íntegro e estadista de estatura universal, sendo que com esta homenagem pretendem evidenciar os valores patrióticos de justiça social e de repúdio a todos males que enfermam a sociedade, defendidos pelo fundador da República de Moçambique.

O Partido Trabalhista endereçou-nos uma mensagem através da qual se associa a todo o movimento de exaltação de Samora e recorda que o primeiro presidente de Moçambique morreu em defesa da paz, da unidade nacional, do desenvolvimento e do bem-estar dos moçambicanos. Para esta formação política, a única forma de recordar Samora é prosseguir com os desígnios pelos quais Samora lutou até a morte: a paz e a unidade nacional o desenvolvimento sócio-económico.

QUEM FOI SAMORA?
Maputo, Terça-Feira, 19 de Outubro de 2010:: Notícias
De seu nome completo, Samora Moisés Machel nasceu a 29 de Setembro de 1933 em Madragoa, hoje Chilembene, distrito do Chókwê, em Gaza. Samora entrou para a escola primária com nove anos, quando o governo colonial português entregou a “educação indígena” à Igreja Católica. Terminado o nível, Samora Machel quis continuar a estudar, mas os padres só lhe permitiam seguir Teologia. É assim que decide partir para Lourenço Marques, hoje Maputo, à procura da vida. Aqui teve a sorte de se empregar no hospital seguindo o curso de Enfermagem, tendo depois sido colocado na Ilha da Inhaca.

Samora Machel começou a interessar-se pela causa nacionalista ao tomar conhecimento de vários acontecimentos que se davam pelo mundo: a formação da República Popular da China, com Mao Tsé-Tung; a independência do Gana, com Kwame Nkrumah, seguida pela independência de vários países africanos. Mas foi o seu encontro com Eduardo Mondlane, alto funcionário das Nações Unidas, de visita a Moçambique, aliada à perseguição política de que era alvo que o levaram a tomar a decisão de abandonar o país em 1963 e juntar-se à FRELIMO.

Na altura a FRELIMO já tinha chegado à conclusão de que não seria possível o alcance da independência sem a proclamação da insurreição geral armada e Samora Machel foi integrado num grupo de recrutas que iria receber treinamento militar na Argélia. No seu regresso tornou-se imediatamente comandante. Criou o Destacamento Feminino para envolver as mulheres na luta de libertação nacional. Em 1970 em sessão do Comité Central foi eleito Presidente da FRELIMO, na sequência da morte de Eduardo Mondlane, seu fundador.

Nos anos seguintes, Samora Machel conseguiu organizar a guerrilha de forma não só a neutralizar a ofensiva político-militar portuguesa, comandada pelo general Kaulza de Arriaga – um homem de visão militar a quem foi dado um enorme exército de 70 mil homens e mais de 15 mil toneladas de bombas para acabar com a FRELIMO. Dirigiu uma ofensiva diplomática em que granjeou apoios para a luta de libertação nacional. A seguir ao golpe de Estado em Portugal, 25 de Abril de 1974, Samora Machel definiu a paz como sendo inseparável da independência e expandiu as operações militares contando com a fraqueza do exército colonial. Tudo porque o então Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Mário Soares, se deslocara a Lusaka para propor à FRELIMO um cessar-fogo e a realização de referendo para decidir se os moçambicanos queriam ou não a independência.

Proclamada a independência nacional, a 25 de Junho de 1975, Samora Machel anunciou a nacionalização da saúde, educação e justiça e um pouco mais tarde das casas de rendimento criando a APIE. Conseguiu o apoio popular, principalmente da camada juvenil para as operações de grande vulto, tais como o recenseamento da população e a troca da moeda colonial pelo metical e ainda para a implementação de outras políticas relativas ao aumento da produção e da produtividade e luta contra a corrupção.

No plano externo sempre seguiu uma política de angariar amizades e apoios para Moçambique não só entre os amigos tradicionais como também dos demais e produto disso conseguiu um acordo de boa vizinhança com Pieter Botha, da África do Sul, em regime de “apartheid”. Organizou acordos com o Banco Mundial e com o Fundo Monetário Internacional no sentido de acabar com a guerra e relançar a economia nacional vindo depois a morrer em acidente de aviação passam hoje precisamente 24 anos.

1 comment:

Nelson said...

"As causas reais do desastre de aviação estão ainda por esclarecer, 24 anos após a sua ocorrência. Há, no entanto, indicações de que o avião teria seguido um rádio-farol montado intencionalmente pelo regime do “apartheid”, a tese mais forte, mas há outras versões, muito pouco prováveis, que apontam a erros da tripulação russa. O dossiê não está defintivamente encerrado, pois há interesse tanto do Governo moçambicano como do sul-africano de ver esclarecidas as causas deste acidente"

TENHO MINHAS DÚVIDAS