Monday 5 July 2010

Entre Zambézia e Nampula

Comunidades localizadas no corredor da EN1 em perigo

Nampula (Canalmoz) - As comunidades localizadas junto à Estrada Nacional Número EN1, mais concretamente entre Mocuba, na Zambézia, e a cidade de Nampula, capital da província com o mesmo nome, estão a viver uma tragédia social caracterizada pelo desaparecimento de menores, abuso sexual de menores, exploração de mão-de-obra infantil e prática exacerbada de prostituição. O mesmo tipo de problemas reporta-se no corredor da N8, entre a vila de Namialo, distrito de Meconta, e a cidade portuária de Nacala.
A reportagem do Canalmoz escalou o troço entre Mocuba e a cidade de Nampula, de onde colhemos estes relatos de desaparecimentos de crianças, prostituição e abuso sexual de menores, bem como o trabalho infantil. A situação começa a rolar quando muitas raparigas, que residem nestas mesmas comunidades, se entregam prematuramente a condutores de veículos de longo curso, apenas designados por “camionistas”, em troca de valores monetários.
No cruzamento de Nampevo, que dá acesso aos distrito de Ilé, Gúruè e Namarroi, pela EN1, isto na província da Zambézia, apurámos junto da senhora Mafalda Lemos que a sua filha abandonou a casa para seguir viagem com um camionista e até à data desconhece o paradeiro dela. A família da jovem desaparecida encontrou o suposto amante da jovem, que a teria tirado da zona, mas este diz não saber do paradeiro da rapariga, alegando que “apenas lhe deu boleia da Zambézia até Nampula e nada mais sabe”. É a própria mãe da jovem adolescente desaparecida que nos conta desta forma até onde vai o seu desespero.
Ao longo deste mesmo troço disseram-nos que muitas “crianças são transportadas diariamente a convite dos camionistas para alegadamente os apoiarem durante a viagem” de ida. Mas “no seu regresso não as trazem”. “Elas nunca mais voltam”.
Por exemplo, na vila de Alto Molócuè contam-nos que estas ocorrências são frequentes. Muitos pais vêm suas filhas a abandonarem suas casas para seguirem os camionistas. Os rapazes também desaparecem com os camionistas, com a convicção de encontrar emprego nas zonas urbanas. Isto repete-se com jovens de ambos os sexos de localidades ao longo deste troço rodoviário.

Trabalho infantil

Enquanto as raparigas se prostituem, os rapazes tentam a todo o custo ganhar a vida como podem. Chegam a ser forçados a trabalhos impróprios para a idade deles.
Quando os camionistas chegam a certos locais, convidam as crianças para limparem os seus carros, desde as rodas até ao conforto interno. Pagam-lhes “entre dez meticais e duzentos meticais” “Fazem trabalhos árduos e aturados”.
As “crianças” deixam de frequentar as escolas para encontrarem meios de sobrevivência. Antes de se dedicarem à prostituição andam a pedir esmola pelas estradas. Mais crescidas dedicam-se então às práticas descritas. Este é um pequeno exemplo do desespero por que estão a passar as famílias que vivem no campo.

(Aunício da Silva)

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