Tuesday 18 May 2010

“Presidência aberta” em Nampula




Chefes tradicionais de Lalaua exigem salários ao chefe do Estado

Gestão danosa dos famosos “7 milhões” persegue Armando Guebuza

No distrito de Moma, perante o Presidente da República, a população da região mineira de Mavuco pediu indemnização ao Governo local pela destruição, por fogo posto, de uma aldeia dos garimpeiros. No comício realizado no posto administrativo de Larde, foram exibidos documentos que comprovam o envolvimento do administrador Ramos em esquemas de corrupção, com base na gestão danosa do Fundo de Investimento de Iniciativa Local.

Nampula (Canalmoz) – A “presidência aberta” do presidente da República, Armando Guebuza, na província de Nampula, vai já no seu quinto dia. Até ontem, já percorreu cinco dos sete distritos que constavam da agenda. Em todos os distritos por onde passou, o chefe do Estado é confrontado com a gestão danosa dos “sete milhões”, mas não só. No distrito de Lalaua, por exemplo, os chefes tradicionais, que, desde há cerca de quatro anos, vêm sendo benificiados pelo Governo, exigiram ao PR a fixação de um salário para o melhoramento das suas condições de vida.
Naquele distrito, Guebuza ficou a saber que os chefes tradicionais, para além de exigirem um salário pelo trabalho que prestam ao Governo, sobretudo ao partido Frelimo, de que ele é presidente, garantindo-lhe a vitória nos processos eleitorais, também querem fardamento, para serem mais bem identificados.
Por outro lado, os chefes tradicionais exigem também o melhoramento das vias de acesso, tendo em conta que viajar até Lalaua é um martírio total. Nos mais de cem quilómetros de distância desde a vila-sede de Lalaua até ao vizinho distrito de Ribáuè, as condições são más, e a ligação com o distrito de Mecubúri encontra-se interrompida por terra.

Distrito de Moma

Já no distrito de Moma, onde Armando Guebuza trabalhou ontem, o administrador do distrito, Alberto Ramos, não teve sorte com as intervenções da população. Os cidadãos que se deslocaram do posto administrativo de Chalaua para o posto administrativo de Larde, onde foram apresentar ao chefe do Estado os problemas que vivem, denunciaram a ausência de interesse do Governo local pelo melhoramento das condições de vida da população daquele posto.
Um cidadão de nome Issá disse que “o Governo do distrito de Moma não apoia o desenvolvimento de Chalaua e sempre faz de tudo para que os esforços da população redundem num fracasso”. Ele disse também que o Governo daquele distrito “queimou a nossa aldeia em Mavuco e perdemos muitos bens, desde congeladores, motas e muitas outras coisas, por isso exigimos que nos paguem”.
Issá disse ao chefe do Estado que, aquando da campanha eleitoral, foi prometida à população de Chalaua a construção de um centro de formação profissional, promessa que viria a mudar a seguir aos resultados favoráveis ao partido Frelimo, e agora o centro vai ser construído no quilómetro seis, nos arredores da vila do distrito.
Eugénia Viagem também se deslocou de Chalaua para Larde, movida pela intenção de denunciar casos sobre os quais acha que só o PR pode pôr termo à situação. Eugénia disse que “o Governo do distrito persegue, enviando notificações aos que fazem denúncias em relação à má governação deles, começando pelo próprio administrador e incluindo o chefe do posto”.
A senhora pediu ao PR para que diga aos seus representantes no distrito e nos postos administrativos para que considerem os problemas apresentados pelos Conselhos Consultivos Locais, “porque eles espelham os problemas da população”.
Eugénia disse que, em relação ao sector da educação, a corrupção é cada vez maior, citando como exemplo o Fundo de Apoio Directo às Escolas, que é desviado pelos directores das escolas para a construção de casas convencionais para eles mesmos.
Os residentes de Chalaua querem igualmente que seja devolvido o minério que perderam durante a destruição por fogo posto, que, segundo dizem, foi executada pelas autoridades policiais locais, com a alegação de que estavam a expulsar os imigrantes ilegais que se dedicam ao comércio de minérios naquele ponto de Moma.
Ambos os intervenientes do comício informaram ao chefe do Estado que, em Chalaua, o Fundo de Investimento de Iniciativa Local, vulgo “7 milhões” não beneficia ninguém.
Por seu turno, os residentes de Nahaloco, um dos nove bairros que formam, no seu conjunto, a localidade de Thopuito, e que é onde reside o régulo local, Matapa, exigem a expansão da energia eléctrica da rede nacional de Cahora Bassa.
Disseram aqueles cidadãos que a linha que transporta energia para a fábrica das areias pesadas passa por cima do mesmo bairro, e que, há tempos, foram simuladas as ligações, com a montagem de postes para a iluminação, mas, mais tarde, a Electricidade de Moçambique veio desmontá-los, alegando que “na Frelimo é assim”.

As rondas dos “sete milhões”

No distrito de Lalaua, a população estava aparentemente de acordo com a gestão do fundo. Mas diferente sorte teve Daniel Ramos, chefe do posto administrativo de Larde, que, na presença do PR, foi acusado de gerir a favor dos seus interesses o famoso FIIL.
No comício realizado neste posto administrativo, foram exibidos documentos que comprovam o envolvimento do administrador Ramos em esquemas de corrupção, com base na gestão danosa do Fundo de Investimento de Iniciativa Local.
Na ocasião, foi exibida a cópia de um cheque emitido em nome do seu gabinete, quando, na verdade, o destinatário era apontado como sendo mutuário dos “sete milhões”.

Queixas contra a “Kenmare”

Os residentes da localidade de Thopuito reportaram ao chefe do Estado a desigualdade salarial entre cidadãos nacionais e estrangeiros que prestam serviços à empresa “Kenmare”, que se dedica à exploração das areias pesadas de Moma.

(Aunício da Silva)

No comments: