Monday 12 April 2010

Em Morrumbala: Polícia mata um cidadão e pede silêncio

Para confessar um suposto crime de roubo no distrito de Morrumbala, na Zambézia

· Duas mulheres, familiares da vítima, também foram castigadas em seu nome


Quelimane (DZ) - Tudo começou on dia 1 de Março do ano em curso, em que um cidadão de nome Marco Briate (malogrado), é acusado e um seu comparsa cujo nome não foi possível identificar de terem roubado dois bidões de óleo e um saco de arroz,
algures na vila deste distrito, o que levou a que fossem destacados elementos da
polícia não identificados pelo depoente, para deslocarem-se à casa deste (Marco)
acompanhados do seu comparsa que se encontrava algemado, por volta das 19h, na altura este não se encontrava no local, só encontraram as senhoras (Isabel e Laura Briate- esposa e irmã do Marco Briate).
Chegados ao local, o mesmo conta que os agentes vasculharam a casa da família Briate e não encontraram nenhuma prova indiciária que pudesse incriminar o Marco, e como não tivessem conseguido nenhuma prova, levaram consigo duas pessoas que estavam presentes, nomeadamente a esposa e irmã do Marco.
Conforme contou, Miguel Briate irmão mais velho do Malogrado, as duas começaram
a ser “chamboqueadas” como forma de pressiona-las para confessarem se tinham visto
onde estava o Marco ou o produto roubado.
Nessa altura o Marco estava na casa do tal comparsa com quem era acusado de
comparticipação no referido roubo. Passaram pela casa deste e encontraram algemaram-no e começaram a chamboquea -lo tendo -o levado ao Comando distrital da PRM de Morrumbala, isto na noite do mesmo dia e as senhoras voltaram para casa.

Na madrugada da terça-feira o Chefe das Operações do comando da PRM de Morrumbala, que o conhecemos por Mandra, acompanhado de outros colegas deslocaram-se a casa da família Briate, com o fito de simular em como o Marco fugiu da cela e obter confissão forçada da família deste se tinham visto os bens em causa. Alias, uma fonte
bem posicionada dentro da PRM, disse nos que o referido chefe das Operacoes é irmão do vice-ministro do Interior, José Mandra.
“Levaram de novo nas duas senhoras ao comando e começaram a serem investigadas”-
disse a fonte para depois acrescentar que “por volta das seis horas da manhã ao amanhecer as duas senhoras ao verem o Marco na Cela questionaram, esta atitude
não foi recebida com agrado, foram fortemente chamboqueadas e castigadas das 6h até 13h”- acrescentou o Miguel.
Já nesta manhã, as duas contam que viram o Marco a ser esfregado sal todo o corpo e
amarado cada braço ao seu pé, no local de tortura. Foi amarrado e pendurado ao um teto ou a um suporte como se de um cabrito em esfolamento se tratasse.
Terminado o castigo, fizeram-no descer, nessa altura o Marco já não conseguia falar ou gritar porque tinha perdido a voz. Já em baixo ajoelharam no e colocaram uma
pedra no colo e começaram a bater de novo, com este tratamento o Marco não aguentou e dois agentes da polícia carregaram-no de volta a cela.
Na tarde da terça-feira, Marco foi submetido de novo ao castigo.
Às 20 horas, o depoente Miguel Briate, deslocou-se a Esquadra para resgatar as duas mulheres (Isabel e Laura Briate), presas em nome do Marco e pedir que fossem soltas. A polícia disse que ele deveria voltar no dia seguinte, portanto, quartafeira,
as 8 horas.
Na quarta-feira, Miguel voltou para pedir falar com o comandante ou Chefe das Operações, tudo isso para o ver o seu parente. Mas, o agente que lhe atendeu disse que não valia pena, porque este encontrava-se muito doente e que as senhoras estavam fora das celas e não havia problemas.
Miguel Briate, foi ter com o Chefe das Operações para fazer-lhe entender no sentido de soltar as duas senhoras presas, este disse que as senhoras sairiam no fim do dia
porque estavam a fazer as últimas investigações.
Mais adiante, a fonte disse que o mais surpreendente é que o comparsa do seu irmão com o qual eram acusado no tal roubo não foi maltratado tanto como o Marco.
As 15 horas da quarta-feira, isto passados três dias, foram soltas as duas senhoras, nessa altura o Marco ainda estava vivo e aproveitou pedi-las para que se tivessem que trazer comida que fossem papas porque não conseguiria engolir coisa forte e
queixou – se que não estava a se sentir bem.
Na senda dos seus depoimentos, Miguel diz que tentou falar com o chefe da Policia
de Investigação Criminal (PIC), este respondeu que: “Marco não esta sentir nada, está a gingar”-rematou.
Logo cedo, a esposa levou papas de farinha de milho que serviriam também para o almoço. Esta coincidiu com a retirada do Marco da Cela, porque os seus colegas
(prisioneiros), estavam a gritar dizendo: “o Marco aqui está a morrer”-fim de citação
Foi segurado nos dois braços e levaram para a mangueira onde veio a perder forças.
Quando viram que o estado de saúde do Marco estava paulatinamente a degradar-se, o
chefe das operações pediu uma bicicleta para leva-lo ao Hospital local.
A caminho do hospital sob olhar atento da sua esposa, o Marco já na fase terminal, pouco antes de chegar ao hospital, na área da Administração perdeu a vida, nisto,
um preso que estava a acompanha-lo para hospital virou-se para a
esposa para dizer-lhe que o marido tinha morrido. O chefe das Operações não gostou da atitude e deu uma porrada ao preso porque este não queria que se soubesse
que o Marco morreu antes do hospital.
Chegados no banco de socorros, segundo a mesma fonte, acrescentou que o enfermeiro que não soube o nome tentou sem sucesso rejeitar o corpo uma vez que o mesmo tinha chegado sem vida.
O chefe das operações não queria que se soubesse que o Marco morreu pelo caminho e o
corpo permaneceu na morgue do hospital até dia seguinte.
Na sexta-feira a família Briate voltou a Esquadra para pedir esclarecimento e a polícia não quis assumir a autoria do crime alegando que o mesmo perdeu a vida no
hospital, só que a família confirma que o Marco saiu de casa saudável.
Gerou-se um ambiente de tensão e as duas partes entraram em alvoroço tendo a polícia
recorrido aos disparos com recurso de arma de fogo para dispersar a famílias que ameaçava trazer o corpo a esquadra.
A família Briate exigiu que a polícia se responsabilizasse pelas despesas de sepultura, mas o comandante negou, alegando que senão passaria a ser costume.
Depois de tanta pressão o Comandante aceitou sob condição de uma declaração onde a família assumiria que o Marco morreu no Hospital e que a polícia pagara o
valor em solidariedade ao malogrado por ter passado pela esquadra.
A família aceitou fazer a declaração, que foi produzido em duplicado tendo ficado uma copia para cada parte e o comandante tirou cerca de 1400,00mts para
custear as despesas do enterro tendo se efectivado no sábado dia 6
de Março.
Uma história triste. Um caso de violação dos direitos humanos.
*Equipa de investigação do Diário da Zambézia.
A vítima em observações no hospital

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