Friday 12 February 2010

Para onde nos querem levar?

Maputo (Canalmoz / Canal de Moçambique) - O grupo de 16 deputados da Renamo que tomou posse na Assembleia da República, quando o chefe de Estado presidiu à primeira sessão em que se elegeu a presidente do Parlamento, anda, aparentemente, zangado com Afonso Dhlakama, por considerar que o seu tradicional líder anda a usar “fantoches” para o chamar de grupo de “traidores”. Dhlakama, por seu turno reafirma que são, de facto, traidores, porque tinha ficado assente que não deveriam tomar posse, mas, mesmo assim, fizeram-se à Magna Casa do 24 de Julho, em Maputo. O certo, contudo, é que, um por um, acabaram todos por ir comer ao prato da “poção mágica” que os tem catapultado da capulana para o Pierre Cardin, até que a desonra – se é que isso, alguma vez, os possa vir a preocupar – os atire a todos, definitivamente, para o caixote do lixo da História.
Os números mostram bem o descrédito a que os eleitores os remeteram, nem que, para maior isenção, nos fiquemos pelos que nem às urnas vão e que são claramente a ala da cidadania mais farta de todos – tanto dos que estão no Poder, como dos que, até aqui, só têm fingido que lá querem chegar.
É difícil saber-se quem está a falar a verdade, entre Dhlakama e os 16 deputados. Não é a primeira vez que os vemos a darem o dito por não dito. Mas não é isso que nos traz ao tema. Entendemos que, se há realmente “traidores” e “fantoches”, serão todos os bem instalados à conta dos cargos na Assembleia da República e das verbas do Estado – uns e outros – que nada fazem em cada legislatura – como demonstram os resultados que estão à vista – pese o trabalho vergonhoso das sucessivas CNE’s e da mais recente versão do Conselho Constitucional, aplaudidas por alguns que, vindos de outras latitudes, insistem em demonstrar-nos que não passam também de outra estirpe de esfomeados.
Por trás do braço de ferro entre Dhlakama e os instalados no Parlamento que ali apenas têm conseguido fazer ruído, ainda há, no entanto, uma ampla camada esquecida e enraivecida pelas asperezas da vida. São milhões. No campo e nas vilas e cidades. Alguns com ideais frustrados e a cogitarem algo que precipite os acontecimentos. Sobretudo jovens, que se começam a convencer que, nem mesmo os diplomas com que os têm ardilosamente enganado, poderão ajudá-los a aproximar-se da boa vida que têm os que vivem pendurados nos nossos impostos, sem nada de palpável darem de retorno aos contribuintes.
Não será, certamente, Dhlakama a pessoa que os espevitará para novos confrontos sangrentos, nem eles, certamente, quereriam segui-lo ou optar pela violência continuada. Mas também não serão os “7 biliões” que Armando Guebuza inventou, para a Frelimo fazer política à custa do erário público sem parecer que nos está a meter a mão ao bolso, que irão acalmar os seus ânimos.
Não estamos livres de surpresas…
Um governo imposto à força da exclusão de alternativas viáveis e formado por quem apenas olha para os seus umbigos e usa o Estado para economia de custos de outra forma imputáveis aos seus interesses privados, coloca-nos em risco permanente, quanto mais não seja o de acabarmos por nos convencermos que andamos todos a remar contra a maré.
E quando todos nós estamos, agora, a sentir que a crise em Moçambique está no auge, ainda que nos bombardeiem com estatísticas falseadas a pintar o quadro com cores bonitas, vem agora o novo primeiro-ministro dizer-nos que acabou de visitar algumas províncias e constatou que há camponeses a produzir para alimentar a indústria nacional. Quê dessa produção sem chuvas? Quê dessa produção com seca? Como é que essa produção pode chegar às indústrias sem estradas em condições? Para onde nos estão a querer levar?