Sunday, 13 December 2009

Mboa reaviva luta clandestina

scrito por João Vaz de Almada

Lê-se: “Este é o grito de um jovem militante com o corpo esmagado pela PIDE, a sangrar pela boca, pelas narinas, por todo o corpo, enfim... E a alma!” É deste modo violento, irascível, dir-se-ia mesmo brutal, que Matias Mboa inicia a obra “Memórias da luta Clandestina” que esta segunda-feira foi lançada no salão nobre dos Caminhos de Ferro de Moçambique perante a presença de ilustres convidados, entre os quais o Presidente da República, Armando Guebuza.

Mboa, um dos intervenientes directos na luta que derrubou o colonialismo português, escreveu este livro para resgatar as memórias de uma luta “injustamente esquecida”. Mboa recordou que a luta de libertação nacional se desenrolou em três frentes: “A luta armada, a luta diplomática e finalmente a luta clandestina.

Perante massacres, prisões, torturas homens, mulheres e crianças sempre avançaram firmes contra a dominação estrangeira.” A maior parte das páginas deste livro foram escritas nas tenebrosas celas das prisões políticas, por isso este livro recorda não só a luta do povo moçambicano mas sobretudo aqueles que, abandonados pela sorte, caíam nas mãos do inimigo. Mboa não tem pejo em afirmar: ‘Memórias da Luta Clandestina’ é um livro triste, que conta o despertar do nacionalismo moçambicano mas sobretudo a triste sorte daqueles que caíram na tortura, massacre e fuzilamento.

Eu sou preso político por isso são coisas que eu vivi, não foi preciso perguntar a ninguém porque eu vi e vivi.” Teodoro White, que esteve encarregue da apresentação, lembrou a fuga de Mboa com Samora Machel e outros companheiros para a Tanzânia no dia 4 de Março de 1963. “Mas o mais interessante é a técnica, a táctica, a inteligência do recluso ao transformar aqueles apertos de mão, aqueles abraços, numa manobra para receber cartas, jornais, livros, ali mesmo perante o olhar do guarda que olha mas nada vê.” E acrescenta: “Perante estas 131 páginas de Matias Mboa sentimonos impotentes.

Os seus contornos estão marcados por uma dinâmica de luta, de acção humana, que nos leva a compreender, a descobrir, as entrelinhas da gesta heróica do povo moçambicano. A conjugação das fatalidades do dia-a-dia da luta clandestina está brilhantemente retratada nesta obra com bastante acção. O arrepio da PIDE, as sevícias por que passou, trazem- nos bem viva a luta de homens e mulheres comprometidos com a causa da independência do país. A dor transporta-se viva para o leitor.

Com Matias o leitor partilha muita dor e sofrimento mas também busca admiráveis exemplos de humanidade.”

@VERDADE – 12.12.2009

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