Monday 9 November 2009

MDM atira “dinossauros” para fora do Parlamento

Por Raúl Senda
Teodato Hunguana; Ossumane Aly Dauto; Rosa da Silva; Salimo Abdula; Isaú Meneses; António Hama Thai; Virgínia Videira; Alfredo Gamito; Abdul Razak e Helena Taipo (Frelimo), Eduardo Namburete; Fernando Mazanga; António Muchanga; Manual Lole e Rui de Sousa (Renamo) são a face visível de uma longa lista de candidatos a deputados da Assembleia da República que poderão não fazer parte da VII legislatura em virtude de não terem sido eleitos. O efeito Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi determinante. Porém, alguns dos nomes da Frelimo poderão ser repescados, tendo em conta que constam em listas onde há “ministeriáveis”.

Com excepção da pro­víncia do Niassa, todas as províncias terminaram o apuramento intermédio dos resultados das eleições da passada quarta-feira. Sem especificar, uma fonte bem colocada garantiu-nos que há problemas na direcção do STAE provincial do Niassa, o que culminou com o não cumprimento de prazos da divulgação dos resultados. Soubemos que um quadro sénior desta direcção terá sido corrido na madrugada do dia 28 de Outubro, na sequência de tais problemas. Contactado pelo SAVANA, Lucas José, chefe do Gabi­nete de Imprensa no STAE central, disse que até à hora que saiu do escritório (cerca das 17 horas desta quarta-feira), não tinha conheci­mento do assunto.



Hecatombe política



Dados disponíveis apon­tam para uma situação catastrófica da Renamo, a conquista de mais de 2/3 pela Frelimo e a entrada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) na As­sembleia da República.

Crendo nos resultados divulgados pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), se o MDM tivesse sido autorizado a concorrer em todo o território nacional, teria conseguido um mínimo de 17 assentos para a Assembleia da Repú­blica.

Partindo de dados até aqui publicados e fazendo uma extrapolação teórica de votos a favor do candidato Daviz Simango, chega-se à con­clusão de que cerca de 17 assentos poderiam já ter sido assegurados por este grupo partidário que, para muitos, constitui a grande revelação deste processo eleitoral. Aliás, mesmo “mutilado” em nove círculos eleitorais con­se­guiu o lugar de terceira maior força política depois da Frelimo e da Renamo.

É nesta perspectiva que muitos analistas consideram que além de ser o partido revelação, o MDM também sai como grande prejudicado das decisões consideradas de conveniência e de cariz partidário dos órgãos elei­torais.

Entendem que a exclusão do MDM abriu mais espaço para que a Frelimo chegasse ao cenário angolano da “vitória retumbante” com dois ter­ços.

A desilusão causada pelas exclusões de partidos poderá ter contribuído nas absten­ções, que embora sem dados oficiais terão rondado nos 60%.



Queda de colossos



Na cidade de Maputo o efeito MDM deixou de fora conhecidas figuras da Frelimo, nomeadamente, Os­sumane Aly Dauto (18) e Teodato Hunguana (17), este último que pretendia regres­sar a casa após prestar serviço no Conselho Cons­titu­­cio­nal (CC), Rosa da Silva, Governadora da Cidade de Maputo (15) e Zélia Langa (16). Porém, é preciso frisar que na lista da Frelimo para a cidade de Maputo há alguns ministeriáveis, o que abre portas para repescagens.

Além das acima citadas, o efeito MDM impediu que figuras como Eduardo Nam­burete (3) e Fernando Ma­zan­ga (2), todos da Renamo, ascendessem ao parla­men­to.

Lembre-se que pelos dados disponíveis, na cidade de Maputo a Renamo elege apenas um deputado, neste caso o cabeça de lista, o mágico António Timba.

Enquanto isto, pela cidade de Maputo o MDM elegeu Ismael Mussá. Lucinda da Conceição e Agostinho Macuácua são outros nomes do MDM que foram eleitos.

O eleitorado jovem terá sido fulcral no sucesso do MDM na capital do país. Daviz Simango e MDM con­se­guiram muitos votos em Assembleias de Votos mon­tadas na Escola Secundária da Polana, Josina Machel e na Escola Primária 3 de Fevereiro, zonas onde reside a elite frelimista.

Embora tenha ainda chan­ces de ascender ao par­lamento, já que a lista da Frelimo para cidade de Maputo possui muitas figuras “ministeriáveis”, ao não conseguir entrar directamen­te na Assembleia da Repú­blica, reduz-se a possibili­dade de Hunguana vir a ocupar a presidência do Parlamento.

Estes dados deixam na situação muito mais com­plicada António Hama Thai e Virgínia Videira na sua qualidade de suplentes.

O fenómeno MDM veio alterar a tradição eleitoral dos citadinos da capital. É que em 2004, a Frelimo ele­geu 14 deputados na cidade de Maputo, contra dois da Renamo, num universo de 16 deputados. Em 1999 (16 mandatos) a Renamo entrou com dois. Em 1994 (18 assentos), a Renamo elegeu um. Para o presente pleito a capital ganhou mais dois mandatos (18).



Província de Maputo



Na Província de Maputo, o maior peso vai para a cidade da Matola. Aqui o MDM foi excluído, contudo, dados conseguidos por Daviz Simango, candidato presi­den­cial deste partido, indi­cam que o rapper Edson da Luz, mais conhecido por Azagaia chegava ao Parla­mento como cabeça de lista e Isabel Mucavele (2) tam­bém tinha muitas possibili­dades de ser eleita deputada.

Lembre-se que Daviz Simango terá conseguido, na Província de Maputo, um total de 27 mil votos, o corres­pondente a 10%.

Tida como sendo uma província que vota na Freli­mo, mais uma vez a Renamo manteve a tradição que é de eleger um deputado. Trata-se de José Samo Gudo que era a cabeça de lista.

Tal como se vaticinava, o polémico e extremamente incómodo deputado António Muchanga (3), apesar da sua visibilidade não conseguiu renovar o seu mandato na AR.

Em Gaza, a Frelimo man­te­ve a tradição e mais uma vez a Oposição sair sem nenhum deputado. O mesmo verificou-se em Inhambane. Aqui o MDM poderá sair sem nenhum deputado enquanto que a Renamo volta a eleger um parlamentar, neste caso a delegada política provincial, Gania Mussagy Manhiça.



Quedas rocambolescas em Sofala



Em Sofala, sobretudo na cidade da Beira, o chamado efeito MDM voltou a arrasar. No entanto, a entrada do MDM beneficiou o partido no poder que pela primeira vez na história democrática moçambicana ganhou a maioria.

Dados disponíveis até ao momento, dos 20 lugares destinados ao círculo elei­toral de Sofala, 11 foram para a Frelimo, enquanto que o MDM (5) Renamo (4).

O fenómeno MDM fez com que a Renamo não conse­guisse eleger figuras como: Manuel Lole (actualmente deputado). Lembre-se que Manuel Lole (10) foi acusado pelo MDM como tendo sido uma das pessoas que liderou o grupo que supostamente terá tentado assassinar Daviz Simango em Agosto pas­sado, em Nacala Velha, província de Nampula.

Na companhia de Manuel Lole, está Manuel Bissopo (candidato à presidência do município de Dondo pela Renamo, nas eleições autár­quicas de 2008). Bissopo (6) em conluio com Fernando Mbararano e Faque Feraria terão sido os principais responsáveis pela agitação que culminou com a expulsão do Daviz Simango da Rena­mo no ano passado, após este ter sido proibido de concorrer pela Renamo à Presidência daquela autar­quia. A expulsão de Simango da Renamo deu origem àquilo que eles próprios apelidaram de “Revolução de 28 de Agosto”.

Mário Barbito (9) outra figura da Renamo que sem­pre se opôs a Daviz Simango e Fernando Correlo (13) também ficaram de fora.

Lembre-se que em 2004, com um total de 22 mandatos, a Renamo elegeu 16 deputa­dos, contra seis da Frelimo. Em 1999 (21 assentos), a Renamo entrou com 17. Em 1994 (21), a Renamo teve 18.

Na Frelimo, apenas Isaú Meneses (19) é que fica fora do Parlamento das figuras mais conhecidas.

Por sua vez, o MDM elegeu Eduardo Augusto, José Manuel de Sousa (presi­dente da Associação dos Pescadores do banco de Sofala e porta-voz do parti­do), Lutero Simango (actual­mente deputado pela Rena­mo e irmão mais velho do Daviz Simango, presidente do MDM), Geraldo Carvalho (a cara da Revolução 28 de Agosto) e Agostinho Ussore (antigo assessor de Afonso Dhla­kama).

Contudo, o desempenho do MDM na cidade da Beira, foi totalmente diferente das zonas rurais. Por estas bandas o partido de Daviz Simango quase que não conseguiu eleger um único deputado. O efeito sete milhões (Fundo de Iniciativas Locais) terá sido determi­nante, segundo alguns ana­lis­tas políticos.

Quem terá acabado politi­camente é Raul Domingos, presidente do Partido para a Paz, Democracia e Desen­volvimento (PDD). Depois de se ver excluído da corrida às presidenciais pelo Conselho Constitucional, com a eli­minação da barreira dos 5% e como cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Sofala, Raul Domingos tinha espe­rança de voltar ao Parla­mento. Contudo, a intenção não se concretizou e mais uma vez o líder do PDD ficou fora da Assembleia da Repú­blica.

Em Manica (16), depois de ter dividido o número de man­datos (7), com a Frelimo em 2004, os resultados disponíveis indicam que o partido de Afonso Dhlakama conseguiu apenas quatro mandatos contra 12 da Frelimo. Nestas eleições, Manica ganhou mais dois mandatos, subindo para 16, contra 14 de 2004.

Também em Tete foi afastado o MDM. A Renamo que já teve a liderança foi copiosamente derrotada em 2004: Frelimo- 14 mandatos, Renamo- 4. O cenário voltou a repetir-se nas presentes eleições, onde tudo indica que a Renamo terá apenas dois mandatos contra 18 da Frelimo.

Com estes resultados fica de fora o deputado Rui de Sousa (5), jovem fiel ao líder da Renamo.

Tomás Mandlate, o pro­fessor primário tornado governador e depois ministro da Agricultura, em 9º, as­segurou o lugar na “casa do povo”.

A Zambézia é uma das grandes mágoas do MDM. Para este círculo eleitoral, o MDM tinha apostado em figuras como João Colaço (antigo deputado e assessor de Afonso Dhlakama). Cola­ço era o cabeça de lista. Constavam na referida candi­da­tura pessoas como Carlos Reis (4), Linette Olofsson (6) e Manecas Daniel (11).

Contrariando a tradição, o voto zambeziano parece que deixou de ser rebelde, a crer nos resultados até aqui divulgados.

Em 2004, a Renamo con­se­guiu 29 mandatos e a Frelimo 21.

Dados tornados públicos até ao momento indicam que a Frelimo poderá ocupar 29 dos 45 assentos e a Renamo os outros 16. Assim, figuras como o General Jerónimo Malagueta (28) não serão eleitas. Ivone Soares (19), chefe do Gabinete Eleitoral, também está em apuros.



Ponta de lança de Guebuza



Por sua vez, a Frelimo deixa fora personalidades como Salimo Abdula (38), presidente da CTA e parceiro de Armando Guebuza em vários interesses empresa­riais, bem como Aida Li­bombo (43), actual vice-ministra da Saúde.

Também em Nampula o MDM foi excluído deste círculo que elege 45 de­putados (menos cinco que em 2004).

A Renamo fez uma cam­panha cuidada na pro­víncia. Afonso Dhlakama montou a sua base nos últimos meses na cidade de Nampula. Os seus comícios foram muito concorridos. A Renamo já foi líder neste ponto de Mo­çambique, do­minando so­bretudo os dis­tritos costeiros.

A Frelimo sentiu essa ameaça e destacou para Nampula figuras influentes como Joaquim Chissano e o Secretário-Geral Filipe Paún­­­de. Manuel Tomé é o cabeça de lista.

O candidato presidencial da Frelimo, Armando Gue­buza foi duas vezes durante a campanha eleitoral. Foi nesta província onde Gue­buza encerrou a sua cam­panha.

Em 2004, 27 mandatos foram para a Frelimo e 23 para a Renamo. No actual cenário e de acordo com dados divulgados, dos 45 assentos destinados para a província, 30 poderão ficar com a Frelimo e os outros 15 com a Renamo. Issufo Quiti­ne, antigo chefe da bancada parlamentar da Renamo, ocupava a 16 ª posição. Faleceu poucos dias após a divulgação dos primeiros resultados.

A se confirmar esse ce­nário, figuras como Alfredo Gamito (33), Abdul Razak Noormahomed (35), Helena Taipo (40) e Dionísio Che­reua (suplente número 1) ficam fora do PRarlamento no próximo quinquénio. Mas na lista desta província há também ministeriáveis, o que abre possibilidades para repescagens.

No Niassa, Maria Moreno, cabeça de lista do MDM, fica de fora. Lembre-se que nas autárquicas de 2008 concor­reu e perdeu a presidência do município de Cuamba.

A perdiz já foi forte neste extremo norte, mas em 2004 foi esmagada pela Frelimo. A perdiz tem três mandatos e a maçaroca nove. Mesmo assim, o go­vernador Arnaldo Bimbe está fora da corrida. A província menos populosa do país ganhou mais dois man­datos (14). Projecções ac­tuais indicam que 13 dos 14 assentos poderão ser ocupa­dos pela Frelimo e o outro (um) pela Renamo.

Já em Cabo Delgado, outro bastião da Frelimo, o domínio da Renamo em regiões como Montepuez, Chiúre e Mocímboa da Praia foi suprido pela Frelimo. Em 2004, o partido de Afonso Dhlakama conseguiu 4 man­datos contra 18 da Frelimo.

Projecções actuais indica­m que o cenário vai-se repetir e a Frelimo continuará com 18 mandatos do total de 22 assentos.



ALGUNS NOMES SONANTES FOR A DO PARLAMENTO



FRELIMO



Maputo- Cidade (18 mandatos)



15 - Rosa da Silva



17 - Teodato Hungwana



18 – Ossumane Aly Dauto

Suplentes:



1 – António Hama Thay



5 - Maria Videira



6 – Esperança Bias



Sofala (20 lugares)



19 - Isaú Meneses



Tete (20 mandatos)



1 - Açucena Duarte (suplente)



Zambézia ( 45 lugares)



32 – Aida Libombo



38 – Salimo Abdula



Nampula (45 lugares)



33 – Alfredo Gamito



35 – Abdul Razak Noormahomed



40 - Helena Taipo



RENAMO



Cidade de Maputo



2 – Fernando Mazanga



3 – António Eduardo Namburete



18 – Sudecar Novela (LÍDER DOS MUKHERISTAS)



Maputo- Província (16 mandatos)



2 – Aly Ismael Lalá



3 – António Muchanga



Sofala



6 – Manuel Bissopo



9 – Mário Barbito



10 – Manuel Lole



13 – Fernando Correlo



Tete



5 – Rui de Sousa



Zambézia



28 – Jerónimo Malagueta



Nampula



16 - Ossufo Quitine (falecido)



MDM



Inhambane



3-Benedito Marime



Niassa



1-Maria Moreno (antiga chefe da bancada da Renamo)



SAVANA – 06.11.2009

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