MOÇAMBIQUE, UM PAÍS DROGADO E PSICOADAPTADO.
A questão das drogas é muito mais séria do que uma questão moral ou jurídica.
Elas encerram a emoção num cárcere, esfacela o sentido da vida e destrõem o
mais nobre dos direitos humanos - A LIBERDADE. (CURY, 2000:38)
Liberta ou drogada a situação de Moçambique?
ELÍSIO MACAMO no prefácio que faz a obra de SERRA (2003) em “combates pela mentalidade sociológica” alega que o génio é também reflexo das circunstâncias.
Em dezembro de 2008, passei a ter contacto com um grande psíquiatra/psícologo brasileiro e porque não do mundo contemporâneo, chama-se ele AUGUSTO CURY. Tive acesso a uma das brilhantes obras suas “Nunca desistas de seus sonhos”, que me deixou perplexo pelos problemas que alega existirem no mundo contemporâneo, e a sua incrível e eloquente forma de abordar os tais problemas. Me aproximei a CURY por via de um amigão, porque tempos atrás acredito que lhe tenha escrito um e-mail dizendo que estava desmotivado com as aulas na minha faculdade e o mundo todo, não conseguia encontrar uma lógica e essência da vida. Ele reagiu a este e-mail e foi feio, enfim, foi quando em dezembro recebí a tal obra como presente.
Foi por estes e outros motivos que CURY entrou em minha vida, procurei explorar mais sobre seu pensamento, suas obras, etc; e neste caminhar me deparei com outra brilhante obra sua, “a pior prisão do mundo”. Uma obra fascinante que retrata um dos grandes problemas que a juventude contemporânea hoje vive. Diz CURY (2000) que a pior prisão do mundo não é aquela que coloca os homens por trás das grades, mas sim, aquela que aprisiona a mente, aquela que quebra o cárcere da emoção. CURY encontra explicação desta pior prisão de jovens na droga. Assim CURY tornou-se o meu favorito autor no momento.
Se as drogas são substâncias químicas ou não que quando ingeridas alteram o estado normal/emocional dos indivíduos, trazendo consigo um conjunto de problemas tanto a nível psicológico como social, etc, então pensei sobre o estado de dependência que os estados africanos particularmente de Moçambique se encontram face aos países “desenvolvidos”, do Ocidente.
Reflectindo em torno desta dependência, decidí desde então, encarar ou fazer uma analogia entre a droga que os jovens consomem e os tornam dependentes/aprisionados como alega CURY, com um conjunto de aparatos que os países desenvolvidos criam e instituem para manter os países africanos e os Negros sobre seu tecto, embora não esteja explícito. Tomaria estes princípios todos como drogas que fazem da África um continente continuamente dependente da Europa, assim como aprisiona os jovens. Arriscado nem?
Encaro eu, Moçambique como uma juventude que drogada precisa de mais droga, como se sucede a dependência deste país aos países “desenvolvidos”, mesmo que a cada ano as suas dívidas rumam a um crescimento galopante, mais se endividam. Porquê? Pergunta difícil de responder, mas me arrisco a dizer que assim como os jovens perdem a consciência dos seus actos pelos efeitos das drogas, Moçambique também vem perdendo a consciência do seu endividamento.
A juventude para BOURDIEU (1978) numa entrevista à Anne-Marie Métailié, se encontra numa verdadeira disputa com a velhice em muitas sociedades. Alega BOURDIEU (1978) que este conceito não é mais nada que uma palavra, uma palavra construída por “velhos” com finalidade de tornar os jovens irresponsáveis e alienados reservando por conseguinte a eles o poder e a sabedoria.
Neste confronto, os “velhos” constrõem um aparato de ideologias e princípios. Princípios estes que funcionam como meios ou camisa de ferro com vista a tornar os jovens sob a sua responsabilidade. Na esteira do confronto entre a juventude e a velhice, transportando em analogia este pensamento a uma outra esfera de análise, MACAMO (2006) em “a idéia de áfrica”, questiona-se sobre a idéia que se tem ou se foi construída da África. Por conseguinte, esta mesma construção tem trazido na óptica deste autor um conjunto de consequências indo em torno dos tipos de debates que são levantados, como é o caso de emancipação da África, procurando reivindicar um estatuto que a história não os deu, até...
MACAMO demonstra em seu jeito que África como uma construção social está associada a rótulos ou esteriótipos negativos, África como um continente selvagem, inferior, etc. Estas construções para MACAMO (2005) em “abecedário da nossa dependência”, estão na origem dos factores que justificam a prevalência da indústria de desenvolvimento, sendo desenvolvimento encarado como uma meta-narrativa. A ideia de meta-narrativa para LYOTARD citado por MACAMO (2005) se refere a quadros de referência que estruturam a forma como as pessoas interpretam a realidade. A grande meta-narrativa que Lyotard associou a modernidade foi a razão. Foi a crença na razão que transformou as sociedades ocidentais, pela ruptura com o século das luzes, onde todos os fenómenos se atribuiam as explicações divínas. Assim sendo, a pós-modernidade é identificado por Lyotard como sendo o fim das meta-narrativas. MACAMO nas suas refexões constata a existência de um paradoxo, se estamos numa época dos fins das meta-narrativas como alega Lyotard, o que justifica a existência do passeio da indústria de desenvolvimento como uma meta-narrativa em Moçambique e em demais países africanos??
CURY (2000), tentando responder as questões que colocou na sua obra “a pior prisão do mundo”, refere que a pior prisão do mundo não é a que restringe os movimentos do corpo, mas a que confina os pensamentos e controla a emoção e consequentemente engessa a capacidade de pensar impedindo a poesia da vida. Alega ainda que diversas doenças psíquicas causam este tipo de prisão, entre as quais a dependência psicológica ás drogas.
É sabido que existe uma forte dependência entre os países do sul para com os do norte, e vários motivos são levantados para explicar os porquês desta dependência. Conceberia neste rabisco a droga como um conjunto de tradições ideológicas que o ocidente tem usado para aliciar e manter a África/Moçambique em seus pés, sob seu domínio, que triste. É neste prisma que Macamo (2005) alega que o programa de reajustamneto estrutural e vários outros programas concebidos pelos países “desenvolvidos” são como máquinas de gerar dívidas, isto é, a sua acção não tem incidido na eliminação de dívidas, mas na sua criação.
Actualmente, as drogas são os factores principais que estão levando jovens à destruição, alega ZAGURI (2004). Neste prisma, pode-se fazer uma reflexão sobre o que se diz da situação dos Estados Africanos ou Moçambique quanto a soberania, paz, conflito, dependência política/económia, etc, veremos que por tráz das relações que se estabelecem entre estes dois mundos, muita idelogia foi e é construída com finalidade de manter a dominação e controle de um sobre o outro.
Se a Droga é toda e qualquer substância natural ou sintética que introduzida no organismo modifica suas funções, então podemos conceber o ocidente como uma droga para Moçambique??!. Se a Droga leva a dependência química impedindo que os jovens possam viver sem o consumo da droga, tirando dos jovens o fôlego e a capacidade de reagirem a qualquer estímulo para um pleno desenvolvimento, podemos conceber o ocidente como obstáculo ao desenvolvimento de Moçambique??!. Bem, como a droga cria um estado inconsciente, de alienação nos jovens é bem provável que Moçambique se encontra nesta situação, com dificuldades de discernir o que é certo ou errado para ele próprio, o sustentável e o não sustentável.
Além do prazer, a droga pode funcionar como uma forma de o adolescente/jovem afirmar-se como igual dentro de seu grupo. Existem regras no grupo que são aceitas e valorizadas por seus membros, tais como: o uso de certas roupas, o corte de cabelo, a parada em certos locais e a utilização de drogas. Neste prisma, se cada grupo estabelece um conjunto de regras das quais servem como mecanismos ou requisítos para que os outros possam aderirem ao grupo, é possível arrolar um conjunto de requísitos que Moçambique pós-independência teve que cumprir para entrar na economia mundial, de forma a ter acesso a ajuda externa, como é caso de aderir a uma economia descentralizada, etc; não que eu seja contra.
Diz CURY (2000) que as drogas causam nos jovens um drástico aprisionamento da mente humana. Acrescenta que infelizmente a dependência de drogas tem gerado velhos no corpo de jovens e assim o é Moçambique??!, país jovem, mas já velho???!!. Velho porque é como se encontrasse numa situação de precipício, fim, sem rumo próprio, a não ser que seja guiado, aí vem o ocidente.
Tentando reflectir sobre juventude e drogas: para onde caminhamos, para onde caminhamos, pergunto eu outra vez, enfim. CURY (2000), menciona um facto muito importante na relação que faz entre a droga e a juventude, a questão da psicoadaptação. “Psicoadaptação é a incapacidade da emoção humana de sentir prazer ou dor frente a exposição do mesmo estímulo” (CURY, 2000:33).
A repetição do mesmo elogio, da mesma ofensa, mesma paisagem, tela de pintura, faz com que a emoção se psicoadapte e perca a capacidade de reacção, provocando por conseguinte um alto grau de ansiedade e insatisfação. “A medida que os usuários se submetem aos intensos efeitos das drogas, vão se psicoadaptando a elas e, consequentemente só conseguem excitar a emoção diante de um estímulo potente, maior do que se vem consumindo” (CURY, 2000:35). Estando os jovens totalmente depedentes das drogas, procuram aumentar as dosagens, perdendo assim a sua consciência e liberdade, aprisionando os seus cárceres da emoção, estará acontecendo o mesmo com Moçambique???!!. Bem, só sei que a cada ano que passa tendem as dívidas externas a aumentar, tornam-se cada vez mais dependentes destas ajudas, psicoadaptando-se a tal, conseguindo manter a sua economia a funcionar apenas diante de um acréscimo das ajudas externas, um maior estímulo.
Será assim a relação entre Moçambique e Ocidente??. Uma relação de pura dependência e de psicoadaptação??. Neste prisma, Moçambique caminha para um abismo e para uma psicoadaptação eterna?. CURY (2000) alega que o jovem que se droga caminha para uma velhice, a uma prisão, a uma escravidão, cada vez mais atraído compulsivamente pela droga, a uma vida infeliz, a um alto grau de ansiedade e insatisfação, a uma pobreza no cerne da emoção, a uma dependência, a uma incapacidade de sentir o prazer da vida, sem capacidade de suportar qualquer tipo de dor, será para onde Moçambique caminha??.
Acontece que sob o domínio das necessidades imperiosas provocadas pela dependência, o usuário das drogas, os jovens e Moçambique continuarão a ingerí-las até mesmo contra sua própria vontade para eliminar o sofrimento e consequentemente, tentar obter algum prazer.
Moçambique neste quadro de orientação, totalmente drogada e psicoadaptada pela “ajuda externa” e demais políticas ideológicas vindas dos países do centro, parece mesmo como diz CURY (2000) que os “jovens podem ter uma idade biológica de 29 anos, mas emocionalmente talvez ultrapasse os cem anos” (CURY, 2000:53).
BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS
1. BOURDIEU, Pierre. A juventude é apenas uma palavra. Entrevista a Anne-Marie Métailié. publicada em Les Jeunes et le premier emploi, Paris, Association des Ages, 1978
2. CURY, Augusto. A pior prisão do mundo. São Paulo, ed. academia de inteligência: 2000.
3. MACAMO, Elísio. O Abecedário da Nossa Dependência. Maputo, CIEDIMA: 2005.
4. MACAMO, Elísio. Um país cheio de soluções. Maputo, produções lua: 2006.
5. SERRA, Carlos. Combates pela mentalidade sociológica. Maputo, imprensa universitária: 2003.
6. Zaguri T. Encurtando a adolescência. 10ª ed. Rio de Janeiro: Record; 2004.
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3 hours ago
1 comment:
Uma das consequencias do uso prolongado de substancias quimicas alteradoras do humor (ex.drogas,alcool,medicacao psicoactiva, etc) eh a estagnacao emocional, como resultado do efeito supressor dessas substancias; normalmente o uso destas substancias inicia-se na adolescencia dos individuos, pelo k o desenvolvimento emocional se estagna a partir deste periodo do desenvolvimento individual;assim a maturidade emocional de um dependente quimico se situa-se atrasada em reacao ah idade biologica; a "idade" emocional eh equivalente ah idade em k o individuo iniciou o uso de substancias quimicas,por exemplo se o individuo iniciou-se no uso aos 17 anos e agora tem 28 anos de idade biologica, a sua maturidade emocional estagnou-se por volta dos 17 anos; assim diria que Mocambique apesar de 34 anos de Independencia, tera uma idade emocional equivalente a 6 ou 8 anos, quando se iniciou a dependencia economica; nao deixa de ser um artigo interessante, convidando a uma reflexao de como sera necessario tratar essa dependencia;
saudacoes
Jose C.L.Pereira/Addiction Counsellor
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