Saturday, 24 October 2009

A Opiniao de Domi Chirongo!

ALELUIA! SINTO-ME MOÇAMBICANO



Há dias andava desidentificado, bebendo 2M (convencionado dois maridos – Machel e Mandela), cambaleando nas melhores praças para ser visível e desprezado, e finalmente ficar livre da seriedade. Há dias estava passeando pela noite adentro quando fui interceptado por dois polícias fardados a rigor. Porém, um magro que dava pena ver transportando a pesada AKM e a outra gorducha que mal conseguia caminhar. Parecia uma mukwerista qualquer e nela nada se assemelhava a uma dançarina de música pop. Mas por incrível que pareça, foi a que mais me fez dançar. Com essa dupla fiz flexões e abdominagens jamais feitas! Percorri a cidade inteira, só porque não queria mostrar o meu talão de B.I. já que o meu cartão de eleitor havia deixado em casa no cofre. Sim, é sagrado. Só sairá no dia 28 de Outubro para o grande dia.



E o passaporte? Ah, queimei quando o empresariado local se recusou a custear as despesas da minha participação na Feira Internacional do Livro do Zimbabwe. Na verdade, tinha decidido fazer uma manifestação mais pacífica: percorrer totalmente nu pelas artérias movimentadas da cidade, apenas com o livro “Lutar por Moçambique” na mão e ir desaguar na praça da independência. Mas essa ideia ficou descartada, foi então que me sobrou a atitude de rasgar o passaporte e depois queimar. Se estou arrependido? Não! O que é isso...Não estou arrependido. Isso é para pessoas que tem falta de auto-estima. Eu tomei a decisão acertada naquele momento, o resto é fofoca. Se ouvirem por aí que queimei a bandeira de Moçambique ou rasguei dinheiro não acreditem. É fofoca pura! É fofoca mesmo. E da grossa. Nem se quer me passou pela cabeça tal facto. Eu só escangalhei o meu passaporte.



Hummmmm, já estou a escutar algumas pessoas a especular sobre a carta de condução. Não tenho carta de condução. Nunca tive. Não é por não querer, mas por falta de dinheiro.



Se vos contar sobre o meu sofrimento, depois do acto de rasgar o passaporte, não vão acreditar. Juro que não vão acreditar. Passei a andar com talão de B.I. durante anos. Porém, tinha vergonha de exibir esse mesmo talão. Vocês sabem como é. No meio de pessoas sérias exibir um talão para se identificar não fica bem. Ainda por cima o meu talão tinha apanhado chuva daquela vez que a baixa da cidade transformou- se em lagoa. Imaginem identificar- me assim quase despedaçado. Era para dizerem que sou o quê?



Sim, foi apenas por respeito à polícia que nunca quis exibir aquele talão. Os polícias que sempre me abordaram eram pessoas sérias. Eram autoridade, entendem? Não dava mesmo para eu me apresentar daquela forma despedaçada. Se vocês estivessem no meu lugar, acredito que também haveriam de preferir passear com a autoridade ou aceitar descansar nos calabouços a ter que se identificar com aquele talão. Falo-vos com toda a franqueza!



Ontem, fui aos Serviços de Identificação, acho que é assim como se designa. Ali mesmo depois daquela lixeira, onde fica aquele maluco “dread lock” que está sempre a sorrir e a dar socos na sua própria testa. Quando lá cheguei pedi a funcionária para prorrogar a validade do talão. E ela ao invés de responder ao meu pedido começou a vasculhar uma série de B.I.’s que presumo sejam de defuntos. Olhei para ela impacientemente e de repente ela tira-me um B.I., novinho em folha, e diz-me já está pronto! Era o meu B.I.! Não me contive, comecei a gritar de alegria tal e qual na aldeia. Os outros cidadãos iam me saudando – “Parabéns”, “tens sorte!”, “é por causa das eleicções”, “milagre”, etc, etc.



Bom, este texto apenas serve para chamar atenção àquelas pessoas que estão desesperadas como eu estive. Atenção compatriotas, não se apoquentem, um dia também terão o B.I.



Quanto ao resto, deixem-me passear (e exibir o B.I.) pelo belo Moçambique e tomara que encontre aqueles dois polícias.



Domi Chirongo

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