Livros moçambicanos (III) por Jorge de Oliveira
Sauzande Jeque
Mirante do Zambeze
1. De todos os textos que se tem a sorte de ler existem alguns que nos marcam e que devem ser, provavelmente, das melhores narrativas escritas na literatura moçambicana. Belíssima prosa, pena é que sejam uma raridade entre nós. «Por isso o Zambeze é grande» de Carneiro Gonçalves é um deles.
2. É um texto que recomendo a todos amigos, alunos e interessados na literatura do nosso país. Não sei se o Sauzande leu Carneiro Gonçalves e ficou envenenado pela nostalgia do Zambeze ou se, coincidentemente, também apanhou por tabela, mas a verdade é que não é possível ler estas crónicas sem nos lembrarmos daquele conto. E desse rio que é parte da beleza de Moçambique.
3. «Às vezes custa muito entrar na cabeça de algumas pessoas a ideia de que a liberdade de expressão a que todo o povo tem direito neste país também abrange os órgãos de informação que podem e devem denunciar o que está errado».
4. A propósito de recordações, já agora, ao percorrermos estas peripécias vem-nos à mente a voz do Sauzande, na rádio, a lê-las; sendo impossível dissociá-las daquela tonalidade acústica que, ao longo de vários anos, se manteve presente na emissão nacional estatal. É dos radialistas moçambicanos mais famosos.
5. O que nos mostram estas crónicas? Contam-nos factos conhecidos pelo autor, como o da cobra no prédio, ladrões de autoclismo ou dos xiconhocas que inventam coisas sobre «pessoas arrancam corações». Sabem, ainda bem que o SJ, se associa à luta contra os boateiros; essa foi uma das lutas que Papá Samora não conseguiu acabar. Fiquei pasmado ao ouvir, há poucos meses, dizer que, nos subúrbios de Maputo, certas pessoas acreditam que um nigeriano mete vermes nas mulheres (através da relação sexual) ou que existe um Homem que se transforma em cão. Absurdo. Parvoíce. Abaixo o boato.
6. «Cidade de Tete: Que futuro? E como todo mundo conhece todo mundo, até se pode saber com precisão matemática que o Sr. Fulano de tal hoje foi dormir na casa dois e sicrano passou a noite na boîte do KUDEKA».
7. São palavras de denúncia. Vale a pena devorar estes textos para perceber o quotidiano da zona centro e parte do norte e, mais do que isso, que tem sido rara a crónica em Moçambique; ou que esse é um estilo que os moçambicanos gostam, mas que, depois de Areosa Pena, a espécie de cronistas está em extinção.
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41 minutes ago
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