Depois de registar baixas o ano passado

Açúcar nacional recupera mercado doméstico

Moçambique reafirma não dispor de açúcar para exportar para os Estados Unidos América, em virtude do preço naquele mercado ser menos atractivo, em comparação com o preço da União Europeia.

Maputo (Canalmoz) – A Distribuidora Nacional de Açúcar (DNA) voltou a recuperar as vendas de açúcar no mercado interno, depois das pequenas descidas verificadas no último trimestre de ano passado, que foram agravadas no primeiro trimestre de 2009.
O facto, de acordo com o CEPAGRI – Centro de Promoção da Agricultura, reflecte o ciclo normal de procura e vendas domésticas. No segundo trimestre de 2009, a indústria vendeu no mercado doméstico, um total de 43.268 toneladas de açúcar, distribuídas por 14.081, 17.971 e 11.216 toneladas nos meses de Abril, Maio e Junho, respectivamente.
No período em análise, as vendas corresponderam a uma média mensal de 14.423 toneladas. O CEPAGRI refere igualmente que comparado com as vendas realizadas no mesmo período do ano passado, registou-se um aumento de apenas 1% das vendas. O incremento deve-se, entre outros factores, às compras antecipadas pelos comerciantes registadas no mês de Maio para fazer face ao aumento do preço de açúcar que se esperava e se concretizou no mês de Junho. Em compensação, a procura veio a reduzir no mês de Junho como consequência dos altos níveis de stocks das compras realizadas no mês anterior.

Balanço do consumo doméstico

A combinação entre as vendas e importações legais do segundo trimestre de 2009, resultou num consumo real do trimestre superior ao estimado. Mesmo se considerarem-se apenas as vendas domésticas, estas continuam acima do consumo anual estimado. Todavia, refere-se que no período em análise houve um défice negativo que se revelou pela inexistência do açúcar contrabandeado no país. Este desaparecimento do contrabando deve-se a vários factores, entre os quais a redução de açúcar produzido no vizinho Zimbabwe devido aos problemas económicos que aquele país está a atravessar neste momento. No entanto, se esta situação for ultrapassada, o contrabando pode voltar a eclodir se não forem tomadas as devidas providências do lado de Moçambique.

Nível de preços domésticos

O CEPAGRI aponta que a DNA realizou um reajustamento dos preços que resultou num ligeiro aumento dos mesmos a partir de Junho: o preço de açúcar amarelo subiu de 19,70Mt/quilo para 17,53Mt/quilo, uma subida de 5%, enquanto o preço de açúcar branco foi elevado de 18,31Mt/quilo para 19,33Mt/quilo, o que corresponde a um aumento também de 5%. O aumento de preços da DNA foi acompanhado pelo aumento do preço no mercado retalhista sobretudo de Maputo.

Exportações ao nível de volumes e receitas

A indústria açucareira arrancou com exportações de 2009 no segundo trimestre conforme estava previsto. Durante o período em alusão, foram exportadas, 26.000 toneladas de açúcar amarelo destinadas, na sua totalidade, aos mercados preferenciais da União Europeia no âmbito das Quotas Complementares que são adicionalmente solicitadas pelas refinarias europeias. Estas exportações foram valoradas em 13,7 milhões de dólares para os cofres do Estado.
Em termos das estimativas, está prevista para o ano de 2009 uma exportação total de 200.000 toneladas. Em princípio, todo o açúcar será destinado para a União Europeia. Entretanto, o CEPAGRI refere ainda que existem duas opções de mercados atraentes para exportações preferenciais de açúcar de Moçambique na União Europeia: a primeira opção é no âmbito do acordo dos APEs (Acordos de Parceria Económica) e a segunda, no âmbito da Iniciativa EBA (Tudo Menos Armas).

Não há açúcar para EUA

Para o mercado preferencial dos EUA, a embaixada solicitou o pronunciamento de Moçambique sobre a disponibilidade de açúcar para aquele mercado. A indústria açucareira nacional respondeu que não dispõe de açúcar para exportar para aquele mercado em virtude do preço dos EUA ser menos atractivo em comparação com o preço da União Europeia (Iniciativa EBA).
No que diz respeito ao mercado da SACU, Moçambique obteve uma quota negativa para o ano de 2009 de acordo com a distribuição que é feita em função do excedente, que é determinado entre a produção, subtraindo o consumo interno, e as exportações preferenciais.
Com a entrada em vigor do novo regime açucareiro da UE o preço previsto tanto no âmbito dos APEs como da Iniciativa EBA é de 336 milhões de dólares por tonelada. Se este preço for a vigorar, as receitas de exportação serão de 67 milhões de dólares. Portanto, mesmo com o recorde esperado no volume de exportação, as receitas irão baixar devido à redução dos preços na UE no âmbito do novo regime.

Novo regime açucareiro da União Europeia

No âmbito do novo regime açucareiro da União Europeia o Protocolo de Açúcar ACP/UE é liberalizado a partir de 1 de Outubro do corrente ano (2009). Em compensação, foi já assinado o Acordo de Parcerias Económicas (APE) para substituir o Protocolo de Açúcar ACP/UE e espera-se pela divulgação dentro dos próximos dias.

Importações

As importações de açúcar baixaram significativamente durante o segundo trimestre de 2009, em relação ao trimestre anterior, pois, enquanto no trimestre passado as importações contaram com as da DNA, no trimestre em análise esta distribuidora não realizou nenhuma importação. O CEPAGRI, recorrendo aos relatórios da Intertek Testing Services (ITS), indica que o total de açúcar importado sujeito a inspecção por aquela entidade durante o segundo trimestre de 2009 foi de 670.175 toneladas que totalizou um volume de 11.584 toneladas de açúcar importado durante o primeiro semestre do ano em curso. As referidas importações foram valoradas em 1,4 milhões de dólares CIF.

Kawena injecta cerca de 4,5 milhões MT nos cofres do Estado

A Kawena, que possui uma concessão para importar livre de direitos o açúcar e outros produtos para os mineiros moçambicanos trabalhando na África do Sul, aumentou consideravelmente as suas importações em Moçambique, no período em alusão, mesmo em relação ao mesmo período do ano anterior. No segundo trimestre de 2009, a Kawena importou um total de 600 toneladas contra 245 toneladas importadas no primeiro trimestre e 495 toneladas importados no segundo trimestre do ano passado, o que significa uma receita para os cofres do Estado (direitos aduaneiros e sobretaxa) de perto de 4,5 milhões de Meticais.

Stocks de açúcar no final do trimestre

De acordo com o CEPAGRI, a indústria iniciou o segundo trimestre com um stock de 27.567 toneladas de açúcar. A combinação destes stocks e a produção realizada durante o trimestre resultou em disponibilidade de açúcar de 66.753 toneladas durante o trimestre em análise.
Com as vendas e exportações realizadas no trimestre, a indústria açucareira fechou o trimestre com um stock negativo de 2.515 toneladas de açúcar. Esta aparente ausência de açúcar, segundo a fonte, foi compensado pelas importações que foram realizadas pela DNA no primeiro trimestre. Por outro lado, tratando-se de um período de plena campanha não haverá dificuldade porque as empresas poderão, imediatamente, cobrir qualquer défice do açúcar no mercado doméstico.

(Emildo Sambo)