Tuesday 21 July 2009

Moçambicanos no exterior precisam de acompanhamento

SR DIRECTOR!

Antecipo os meus agradecimentos pela publicação desta opinião, que muito acredito que agora seja minha, mas que, no fundo, é de tantos outros compatriotas. Assisti com mágoa algumas reportagens televisivas, inclusive li nos jornais e ouvi pela rádio, o sofrimento a que muitos moçambicanos vivendo no exterior estão votados, como se eles não tivessem um país, que tanto faz para os outros povos.
Maputo, Terça-Feira, 21 de Julho de 2009:: Notícias


Há cerca de dezasseis ou dezassete anos que alguns moçambicanos não conseguem documentação junto das autoridades suázis, numa autêntica violação dos direitos humanos por parte dos nossos vizinhos. É chocante! E disseram isso de viva voz aos órgãos de informação moçambicanos, à margem da recente visita da Primeira-Dama da República ao Reino da Suazilândia.

É chocante, sobretudo quando esse país é uma cópia genuína de Moçambique, do ponto de vista de história, cultura e hábitos dos seus dois povos. É chocante quando sabemos que temos uma embaixada lá e cá um “super” Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, que pouco ou nada fazem em prol dos cidadãos nacionais que foram procurar alternativas de vida no exterior. Quando devia ser entendido como um benefício para Moçambique, porque é mais alguém que resolve um problema pessoalmente, sem que o Estado entre em pânico pelo sustento desse cidadão. Quando cá o nosso cidadão emigrante é assim tratado, algo desprezado por quem de direito, noutros países acontece exactamente o contrário.

Lá fora os cidadãos na diáspora são bem acompanhados pelos seus respectivos governos, na presunção de que esses cidadãos estão a ajudar o Estado a resolver o problema de desemprego interno. Cá não. Queremos ver moçambicanos na diáspora a regressarem desempregados, às vezes pelo simples facto de não terem conseguido um papel com que se identificassem.

O que está a acontecer na Suazilândia com aqueles moçambicanos que estão a tentar obter um documento de identificação há bons pares de anos é muito grave. E a máscara das nossas embaixadas está a cair, porque revelam cada vez mais que andam indiferentes em relação aos assuntos dos cidadãos do seu próprio país. Não intervêm nesse aspecto, ajudando o cidadão. Quer dizer, se o Presidente da República não visita um país, os moçambicanos ali residentes não se reúnem, porque não se conhecem, uma vez que as embaixadas não os reúnem e, muito menos, conhecem os problemas que os mesmos enfrentam. Tem valido a louvável característica governativa do Chefe do Estado ao pretender, sempre que pode, ouvir também os seus concidadãos na diáspora. A Imprensa mostrou-nos essa triste realidade durante a recente visita do Chefe do Estado à Suíça, em que os moçambicanos lá residentes (e temos alguns até de cinco estrelas!), durante o encontro com o estadista moçambicano, nem se conheciam, apesar de viverem juntos e, se calhar, a partilharem espaços e esquinas suíços.

Sou de opinião que as embaixadas moçambicanas no estrangeiro precisam de mudar de actuação, sobretudo enquanto forem representantes de todos os moçambicanos em cada país onde se encontrem instaladas. A Primeira-Dama, o Presidente da República, o Ministro, etc., etc., nem sempre visitarão esses países ou se reunirão com os seus compatriotas ali radicados. A embaixada deve ser exemplo de boa prestação pública aos seus concidadãos, pensando e servindo os cidadãos deste país nas suas zonas de jurisdição, tal como assistimos cá com os cidadãos de outros países, porque as suas embaixadas são activas e patrióticas. As nossas até parecem estar a fazer um favor aos cidadãos do seu próprio país, e não um dever ou protecção constitucional.

Da outra vez foram os cidadãos moçambicanos radicados no Quénia que se queixaram, via Imprensa, do abandono a que estão votados, descrevendo um cenário desolador enquanto cidadãos deste país de Mondlane. Não têm documentos há décadas. Temos um ministério cá que se devia assustar com esse tipo de preocupações, pois, essas coisas não dignificam os moçambicanos na diáspora, que sempre, na comparação entre os outros povos, devem ser empurrados para a carruagem da terceira classe.

Como se não bastasse e já que as instituições que velam pela nossa política externa funcionam assim, agora até outros países vêm raptar cidadãos moçambicanos aqui mesmo dentro para serem julgados fora, sem nenhuma garantia de cidadania ou dignidade lá.

Mas, curiosamente, internamente nós podemos buscar bons exemplos de amparo aos nossos concidadãos que procuram a vida noutras paragens do mundo. É o caso dos mineiros. Bonito e louvável tem sido o exemplo do Ministério do Trabalho, quanto aos cidadãos moçambicanos recrutados para trabalharem nas minas ou farmas da África do Sul, pois é notório que este sector não está alheio à sua responsabilidade em relação a estes compatriotas. Quando um mineiro se acidenta ou perde a vida, lá fora, todo o país sabe e os passos seguintes, incluindo datas fúnebres. Cada greve ou situação de uma mina que fecha todos nós sabemos se há ou não moçambicanos afectados, porque existe um sector atento que põe o país ao corrente do que está a acontecer. E é sua obrigação, tal como devia acontecer com outros sectores, quando se trata de serviço ao cidadão. Urge dignificarmos os nossos compatriotas. Também temos orgulho de nação exemplar.

* JAIME AFONSO In Noticias, 21.07.09

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