Thursday 16 July 2009

Dispersão das vítimas de xenofobia dificulta mecanismos de assistência social

- consideram organizações ligadas ao fenómeno

Enquanto isso, alerta-se para a necessidade de tomada urgente de “medidas cautelares”, pois aqui em Moçambique “em algumas zonas do país há rumores de que podem ocorrer actos de xenofobia”. “Há Organizações da Sociedade Civil, juntamente com o Centro de Estudos Africanos, que estão a fazer um estudo em algumas áreas críticas onde possivelmente possam ocorrer actos de xenofobia em Moçambique”, diz António Gaspar, Organização para Resolução de Conflitos.

Maputo (Canal de Moçambique) – O Governo e as Organizações da Sociedade Civil, (OSC), não sabem quantificar, até este momento, quantos dos mais de 40 mil moçambicanos que foram vítimas dos ataques xenófobos na África do Sul, no início do ano passado, terão regressado àquele país. Quantos ainda se encontram em solo moçambicano, aonde estão e o que estarão a fazer, também não sabem. O facto está a dificultar, sobremaneira, a implementação dos mecanismos de assistência e integração social a este grupo social que vive momentos difíceis, pois desde que o problema amainou ficou, diga-se, “marginalizado”.
A falta de recursos, sobretudo financeiros, para a implementação de projectos desenhados para prestar todo tipo de apoio às vítimas, constitui um outro entrave.
A Cruz Vermelhas de Moçambique diz ter desenhado, o ano passado, um projecto com vista a dar integração socioeconómica e profissional aos moçambicanos vítimas de xenofobia na vizinha Terra do Rand, mas o mesmo não chegou a ser efectivado devido “à falta de financiamento por parte do empresariado nacional”. Não se avança o orçamento do referido projecto, mas avança-se apenas que tinha duração de seis meses e devia beneficiar 750 famílias.
Enquanto isso, as organizações da Sociedade Civil, alertam para tomada de medidas cautelars perante o cenário porque “há rumores de que os moçambicanos já não têm boa relação com os estrangeiros. Cita como exemplo as províncias de Manica e Sofala, onde supostamente os moçambicanos vêm mal os zimbabweanos”.
Algumas dessas organizações como a FDC e a OREC (Organização para Resolução de Conflitos) avançam que neste momento está curso um estudo visando saber se o que se diz é ou não verídico, isto é, pretende-se saber até que ponto possam ocorrer actos de vingança e xenofobia em Moçambique.
António Gaspar, membro da OREC disse ao Canal de Moçambique que “esta é a segunda vez que se debate a situação dos moçambicanos que foram vítimas de xenofobia na África dos Sul. Entre outros problemas nós temos estado a ouvir que há sinais de eclosão da mesma situação em Moçambique. Para prevenir a situação há Organizações da Sociedade Civil, juntamente com o Centro de Estudos Africanos, que estão a fazer um estudo em algumas áreas críticas onde possivelmente possam ocorrer actos de xenofobia em Moçambique”.

PNUD disponibiliza-se a prestar apoio

Entretanto, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, (PNUD), através do jurista Tomas Vieira Mário, simultaneamente presidente do MISA-Moçambique, disponibilizou-se a prestar qualquer tipo de apoio aos moçambicanos vítimas de xenofobia na África do Sul. Mas para tal, “deve haver uma área específica na qual temos que apoiar. A dificuldade é que são muitas pessoas dispersas, mas o PNUD disponibiliza-se para dar o seu contributo numa área bem identificada, isso no âmbito do nosso Programa de Redução da Pobreza Absoluta na instituição”.

O Documentário

O documentário intitulado “A Fronteira do Amor e Ódio”, ontem apresentado em Maputo, pela Fundação Para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), ilustrando o cenário triste pelo qual diariamente passam nas suas zonas de origem, as vítimas do acto repulsivo, deixou muitos participantes sensibilizados.
O realizador do documentário, Camilo Sousa, recebeu aplausos, pelo facto de ter trazido uma realidade dramática, mas com o propósito de mostrar que a África do Sul, o chamado “el-dourado” para alguns moçambicanos, nem sempre constitui uma boa escolha para construir uma vida longe das origens.

Os depoimentos das personagens...

O documentário é educativo. As personagens, algumas das quais viveram mais de 20 anos na África do Sul, revelam uma que lhes falta todo tipo de apoio. Algumas decidiram não mais regressar àquele país vizinho. Outras, ainda que revivam memórias chocantes do sucedido, ainda não se sentem integradas no contexto moçambicano. Têm vontade de voltar àquele país alegadamente porque “aqui o custo de vida é elevado”.
“A vida na África do Sul é fácil mas aqui em Moçambique é difícil. Nós ainda não estamos a estudar, o tempo está a passar e não sabemos sequer escrever a letra “A”. Não temos casa e não gostam de nós aqui”, diz no documentário uma das filhas de Francisco Zunguze.
No mesmo contexto, a menina, com o rosto visivelmente entristecido, entre outros depoimentos conclui que tem necessidade de ver os pais voltarem para África do Sul. Mas adianta: “se nos matricularem e nos darem casa para morar podemos ficar”.

(Emildo Sambo)



2009-07-16 06:06:00

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