Pré-campanha
Uma das coisas que vemos, muitas vezes, nos relatórios dos observadores de processos eleitorais no nosso continente é a referência à utilização, por parte do partido governamental, de bens do Estado para a sua propaganda eleitoral.
Lamento muito dizê-lo mas a sensação que tenho é que isso está a acontecer, em larga escala, na actual “presidência aberta” de Armando Guebuza por todo o país.
Segundo o SAVANA da semana passada e outros órgãos de informação, uma sondagem da opinião pública revelou uma queda percentual na popularidade do Chefe de Estado. E, coincidindo com esta informação, aí o temos a percorrer todo o país, neste ano eleitoral, província atrás de província, fazendo comícios populares e reuniões, não só com os departamentos do Estado como também com as organizações locais do Partido Frelimo.
E, é óbvio, tudo isto está a ser pago com os dinheiros do Estado, isto é, de todos nós. Quer sejamos militantes e simpatizantes da Frelimo, quer o sejamos da Renamo, do MDM, do Pimo ou de qualquer outro partido. Ou até quer não o sejamos de nenhum partido.
E o preço que todo este processo está a custar não deve ser pequeno. Fala-se de seis helicópteros que terão sido alugados para deslocar toda a comitiva que acompanha Armando Guebuza nestas suas deslocações. E alugar helicópteros por este tempo todo (já vão vários meses que começou este carrocel e não sabemos quando ele termina) deve custar, como se costuma dizer, os olhos da cara.
Da nossa cara.
Vão-me dizer que o Presidente da República tem feito “presidências abertas” com frequência mesmo em períodos não eleitorais.
É verdade mas, precisamente porque este ano vamos ter eleições, nomeadamente eleições presidenciais, ele deveria evitar fazê-lo neste ano.
Seria de todo útil que os cidadãos fossem capazes de distinguir claramente entre Armando Guebuza – Chefe de Estado e Armando Guebuza – Dirigente da Frelimo e candidato desse partido às eleições presidenciais deste ano.
É compreensível que o candidato Guebuza queira fazer uma pré-campanha eleitoral para reforçar as suas hipóteses de vitória em Outubro.
Mas então que o faça com os fundos próprios do seu partido. E, o que seria o ideal, que suspenda o seu mandato presidencial enquanto se dedica à propaganda eleitoral.
Temos tido notícias, de vez em quando, que Afonso Dhlakama também anda por algumas zonas do país a fazer a sua pré-campanha eleitoral. Não me consta, no entanto, que esteja a utilizar, nas suas deslocações, fundos do Estado.
O próprio Dirigente do MDM veio a Maputo para dirigir um comício do seu partido (o que acabou não fazendo por razões de saúde). Será que a viagem da Beira para Maputo foi paga pelo Orçamento Geral do Estado?
Tudo isto mostra que a nossa democracia ainda está muito longe de cumprir os parâmetros daquilo que são os processos democráticos nos países mais desenvolvidos.
Aproveitando-se da falta de cultura democrática da esmagadora maioria da nossa população, quem tem o Poder vai-se beneficiando, na esperança de tirar partido em Outubro, quando chegar o momento de ir colocar os votos nas urnas.
As deslocações permanentes e a cobertura informativa esmagadora que recebem dos órgãos de informação do sector público são, do meu particular ponto de vista, completamente incorrectas em termos democráticos neste ano de eleições.
Tenho plena consciência de que esta minha opinião não vai alterar nada e vamos continuar a assistir a cada vez mais do mesmo.
Mas, pelo menos, fica aqui um alerta para que se não julgue que estamos todos cegos e não vemos, e percebemos, o que se está a passar.
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