Wednesday, 24 June 2009

Mia Couto declara-se num "vazio" após escrever "Jesusalém"

Quarta, 24 Junho 2009 13:55 LUSA
O escritor moçambicano Mia Couto afirmou-se “assaltado por uma espécie de vazio” após escrever o livro “Jesusalém”, lançado em Maputo esta terça-feira, cujas personagens o deixaram “obcecado” durante os três anos de produção do romance.
Em declarações na capital moçambicana durante o lançamento da obra, Mia Couto referiu que os personagens da nova obra o impediram de ter “momentos de abandono” durante o tempo de elaboração do romance e, como qualquer escritor que termina um livro, afirmou que se sente “assaltado por uma espécie de um território de solidão".

No entanto, perante as “ameaças à democracia” moçambicana, que “está a ser posta em causa todos os dias” e “os desafios que continuam a pesar sobre o país”, o escritor assegura que não irá “ficar calado”. Continuará a escrever.

Sem apontar casos, Mia Couto repudiou os recentes episódios de violência no país.

No início do mês, na província de Nampula, norte, o líder do Movimento Democrático de Moçambique, o edil da Beira, Daviz Simango, foi alvo de um atentado e, na semana passada, membros do principal partido da oposição moçambicana, RENAMO, arrancaram arma a agentes da polícia à paisana, por suspeitarem-no de infiltração numa cerimónia desta força política.

“Estou a falar num momento em que a nossa democracia, que é uma conquista de todos nós, está a ser posta em causa todos os dias e está ser posta em causa gravemente por ameaças de violência, por comportamentos profundamente antidemocráticos”, afirmou Mia Couto.

“Nós escritores não podemos fazer de conta que esse assunto não é nosso, porque ficar calado é uma atracção contra a própria literatura”, até porque “há compromissos intelectuais que nós não podemos fugir”, disse o escritor mais traduzido de Moçambique.

“Há coisas que temos que fazer que são mais de ordem prática, de ordem presente, vivencial, que são o enfrentar das ameaças e dos desafios que continuam a pesar sobre o nosso país”, indicou.

“Nós não temos direito de ficar à margem. Não temos de dizer que nós apenas escrevemos, que a nossa intervenção está feita só na condição de escritor. Como cidadãos temos a obrigação de intervir como qualquer outro cidadão”, defendeu.

“Jesusalém”, obra hoje lançada em Maputo conta a história de Silvestre Vitalício, um homem que, abalado pela morte da mulher, Dordalma, se afasta do mundo, com os dois filhos, Mwanito e Ntunzi, e um velho criado ex-militar, e se refugia num lugar remoto, a que dá o nome de Jesusalém e onde aguarda a chegada de Deus, para pedir desculpa aos homens.

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