Viva,
Aquilo que o embaixador Sueco disse é rotineiro no vocabulario politico do governo Moçambicano. Esse tipo de intervenções por parte de estrangeiros ja não aquecem nem arrefecem ao governo do dia e a muitos sectores da sociedade no geral. Talvez o Manuel Tome vai fazer uma referencia no seu discurso no parlamento so para não embarassar o embaixador, no sentido de que anda a falar sozinho.
Ate agora a democracia esta a crescer por via das intervenções que a oposição parlamentar faz no parlamento e atraves das muitas contribuições que muitos Moçambicanos teem feito atraves das NGOs, publicação de livros, jornais, dialogo directo com membros do governo, musica e arte no geral. Contudo, este tipo de contribuições não tem sido devidamente apreciadas, mas requerem uma analise mais cuidadosa para podermos compreender a magnitude das mudanças que ocorreram nos ultimos quinze anos.
Contrariamente ao embaixador Sueco e muitos outros que em nada contribuiram para as mudanças nos seus países, nós estamos no meio das mudanças e experimentamos essas mudanças de forma intensa e as vezes de forma perigosa. Nas actuais circumstancias em que a oposição politica se encontra no nosso país, não existem indicadores de que algum dirigente politico responsavel iria partilhar a idea de que a oposição deveria chefiar as comissões que fiscalizam areas tão sensiveis na gestao do aparelho do estado.
As varias correntes de oposição no país precisam de continuar a trabalhar mais para conquistar esse estatuto de fiscalizador no sentido mais abrangente e delicado. Ate agora a oposição tem girado em volta do dirigente da Renamo e me parece que existe uma resignação por parte de muitos politicos a sua volta em participarem no jogo politico tipico de democracias. A postura dos politicos que gravitam em torno de Dlhakama ou passam a vida a criticar-lhe ou fogem para abrir novas formações politicas. Ate agora o Dlhakama tem participado no jogo politico de forma inteligente eliminando os seus inimigos reais ou virtuais. Estes jogos pela manutenção no poder estão no centro das lutas politicas institucionais em sociedades democraticas. O mundo democratico esta cheio de exemplos deste tipo de jogos e como os politicos se 'passam as pernas' para continuar ou para aspirar a mobilidade.
Com todos os instrumentos democraticos que existem no país ninguem ate agora consegue passar a perna ao Dlakama, e muitas vezes limitam-se a dizer que em "sociedades democraticas um dirigente que perde eleições demite-se". Este tipo de constatações, embora descritivamente correctas, ignora as genealogias do poder e da sua manutenção em Africa e no resto do mundo. O poder assenta em premissas masculinas e femininas que diferem em Africa, Europa e America. Enquanto estas premissas e outras não tomarem outras trajectorias na sociedade no geral, as nossas democracias em Africa vão evoluir nas actuais condições contribuindo para uma modernidade tipica Africana.
E não creio que aquilo que o Thabo Mbeki fez na Africa Sul representa qualquer tipo de evolução politica no continente. Aquilo mostra sim a resistencia e a mestria de Jacob Zuma em jogar o jogo politico. Enquanto muitos analistas politicos, inspirados pela evolucao politica na Europa, ficaram presos aos argumentos morais, uma parte significativa dos Sul Africanos, apreciou a masculinidade de Zuma. O tipo canta e dança com as massas e as vezes ate canta liricas que inspiram imagens de violencia "give back my machine gun" ; é um poligamo assumido; esteve envolvido em casos de sexo; enfrentou com coragem o publico divulgando nas barras do tribunal passo a passo como a dormida aconteceu; veio com aquela de que era possivel um individuo purificar-se com agua (e aqui, independetemente de ser ou não verdade, o Cristianismo e as Religioes Africanas reconhecem esta possibilidade purificadora da agua); e finalmente conseguiu o apoio de Nelson Mandela. Toda estrategia (programada ou acidental) assentou numa interpretacao correcta do que é ser homem com feições masculinas na Africa do Sul de hoje e como uma parte importante dos Sul Africanos sentia de forma quase desesperada a falta de um homen no control do poder politico.
Eu penso que qualquer tipo de incremento do poder fiscalizador institucional em Moçambique tera que ser conquistado atraves destas lutas e interpretacoes correctas das necessidades e visoes masculinas que uma larga maioria dos Moçambicanos (homens e mulheres) apresenta. Ques dizer este incremento não virá atraves daquilo que embaixadores europeus e americanos dizem em privado ou em publico.
O embaixador Sueco, neste sentido, parece-me que tem muito pouco para ensinar a Frelimo e a Renamo, e outros partidos politicos na Africa contemporanea, porque em muitas partes do nosso continente, os chefes não são controlados mas aconselhados.
A luta continua.
VI
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