Wednesday 25 March 2009

A Opinião do Zambeze

Editorial

Repudiamos a censura que o presidente do MISA-Moçambique defende

Tomámos conhecimento do abominável documento prossecutório do ZAMBEZE, emanado pelo dito MISA-Moçambique, muito embora sem qualquer assinatura de alguém que não se envergonhasse dos seus métodos, e sem carimbo – esse sempre recorrível, entre nós, instrumento de autenticação. Mas demos-lhe crédito, mesmo assim, para o podermos refutar com toda a veemência e escárnio.
Achamo-lo “sem qualquer fundamento e elevação”, tanto mais ainda por não fazer referência ao órgão estatutário da organização que o emitiu e não revelar em que momento tal órgão ter-se-á reunido para o efeito. Mesmo assim, porque não nos arrependemos do nosso exclusivo compromisso com os leitores e com o público em geral, e porque nada temos a esconder, somos nós mesmos a publicar o que outros vários órgãos de Comunicação Social se recusaram a fazer desde o pretérito fim-de-semana, ou melhor, desde sábado “21 de Março de 2009”, véspera de Domingo, esse dia da semana habitualmente recomendado para defesa da “exclusiva verdade” divina!!...Só o «Notícias» o deu à estampa ontem, quarta-feira, não fosse este MISA-Moçambique ficar a falar sozinho…
A tal peça deste MISA-Moçambique – que a história da Imprensa Moçambicana irá, certamente, com a devida distância e ânimos a frio, registar como a mais brilhante obra de censura do período pós Constituição que proíbe qualquer tipo de censura – essa tal solicita obra de vassalagem, fala-nos “de uma série de textos pretensamente jornalísticos”, publicados “pelo ZAMBEZE” e alega que neles “se procura demonstrar uma pretensa subordinação das magistraturas judiciais e do Ministério Público a interesses do Partido no poder, sem que para tal sejam apresentadas quaisquer provas substantivas”.
Está o seu autor prestimoso, no seu direito de opinar!... Vem, no entanto, o precipitado juiz da Imprensa, a certa altura reconhecer que eles – entenda-se, os tais magistrados – tomaram as decisões que tomaram, derivando “de politicas criminais e correspondente legislação do período monopartidário”, logo sem qualquer responsabilidade individual.
Isso por si, admite que o que escrevemos não é mentira. Pode é ser doloroso para certas pessoas, neste momento em que se está a dar a conhecer aos cidadãos uma parte da História. Essas pessoas desejariam manter trancada a sete chaves estes factos, mas isso, santa paciência. As sentenças transitadas em julgado são públicas!
Os factos reportados na tal série de artigos são verdadeiros. Admitimos que podem não agradar ao actual presidente deste MISA-Moçambique, Sr. Tomás Vieira Mário e seus mais directos colaboradores que são bem conhecidos na praça pelas suas tendências partidárias, que aliás nunca esconderam.
Virem em defesa do partido Frelimo e de figuras que agiram como agiram, é sinal de tendência. Reconhecemos-lhes esse direito e essa “elevação e fundamentos”, mas não mais do que isso.
Pedem-nos provas substantivas, mas logo a seguir este MISA-Moçambique admite que os senhores versados nos artigos, fizeram o que fizeram em dado momento porque agiram defendidos por “políticas criminais e correspondente legislação do período monopartidário” e não por sua responsabilidade individual.
Que nós saibamos e que se saiba, o MISA é uma organização para defesa dos jornalistas em particular e da liberdade de imprensa e de expressão, em geral. Contudo, este actual dito MISA-Moçambique, atreve-se a julgar o direito exclusivo dos jornalistas e demais cidadãos de decidirem por si mesmos o que é e o que não é de interesse público, no contexto da diversidade constitucionalmente admitida e reconhecida.
Este MISA-Moçambique, de que alguns de nós se recusam a fazer parte, atreve-se inclusivamente a dizer que os textos do Zambeze a que alude trata-se de textos sem origem em qualquer facto de justificado interesse público e são escritos de forma leviana e publicados violando as princípios mais elementares de um jornalismo responsável, baseado na investigação dos factos. E vai daí vem pedir-nos para pormos cobro a esta campanha.
Qual campanha? Campanha de divulgação de factos que não podem se apagados da história para que as novas gerações os passem a conhecer?
Campanha de fazer as actuais gerações saberem que há pessoas que ficam vinte, trinta, quarenta anos, a fazer sempre as mesmas coisas como se não houvesse outras que vieram a seguir a eles que saberão certamente fazer o mesmo tão bem ou melhor, não se sabe, mas certamente de forma mais fresca e aromatizada? Isso é mau jornalismo?
Não será antes jornalismo inconveniente para certas pessoas e é isso que preocupa este MISA-Moçambique ou apenas o seu presidente?
A verdade sobre o interesse público ele, o Sr. Tomás Vieira Mário, presidente deste MISA-Moçambique, quer que emane dele? Quer impor-nos a sua agenda? Quer impor-nos a sua verdade? Quer impor-nos silêncio? Quer impor-nos censura?
O próprio comunicado do dito MISA-Moçambique que outros membros do Conselho de Direcção desconhecem, reconhece que os senhores aludidos nos artigos praticaram tais actos ao reconhecer que eles agiram como agiram, não a título individual, mas a titulo institucional ao tomarem certas decisões judiciais derivadas “de políticas criminais e correspondente legislação do período monopartidário”.
Será mesmo o MISA-Moçambique o autor do comunicado que se resumiu a uns momentos de trabalho individual de gabinete, no último sábado, 21 de Março corrente, de uma única pessoa, o presidente deste MISA-Moçambique?
Porque quererá o Sr. Tomás Vieira Mário esconder a história às novas gerações?
Porque quererão as mesmas pessoas do monopartidarismo permanecerem válidas eternamente?
O que impede, ética e deontologicamente o ZAMBEZE, os seus jornalistas, ou qualquer cidadão de trazer agora a público histórias verdadeiras da passagem de certos magistrados pela nobre Magistratura Moçambicana de que fazem parte tantas incógnitas figuras de reconhecida competência, mas tantas vezes ostracisadas pelos seus “eternos superiores hierárquicos”, como frequentemente nos contam?
Que justificado interesse público foi desrespeitado?
Quem define interesse público?
Não será do maior interesse público, quando se aproxima o momento de se constituir uma nova direcção da mais Alta Magistratura, a Imprensa falar de pessoas e dos actos que já praticaram, para que a escolha seja, o mais possível acertada?
Estará alguém por trás do MISA com medo da “campanha” do ZAMBEZE? Está com medo que alguém perca o tacho? Está com medo que Moçambique deixe de ser só e sempre do mesmo punhado de pessoas?
Será que o MISA-Moçambique é para defender a política da rolha?
Será que o presidente do MISA-Moçambique não entende que nós também repudiamos veementemente qualquer tentativa de censura à Imprensa?
Será que o presidente do MISA-Moçambique não tem suficiente capacidade para entender que em toda a parte do Mundo falar-se da história é normal, salvo em países onde existem pessoas com as mãos sujas de sangue que só se envergonham dos seus actos depois de já se terem servido das vantagens que os mesmos lhes proporcionaram nos momentos em que agiram como agiram?
Não nos venha o Sr. Tomás Vieira Mário, presidente do MISA-Moçambique, falar de “cometimento com a defesa e promoção da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa e do direito dos cidadãos a uma informação verdadeira”, e alegar que o MISA-Moçambique “renova o seu apelo a todos os órgãos de comunicação social nacionais, aos editores e jornalistas em geral, no sentido de tudo fazerem para uma maior credibilização e respeitabilidade da profissão, evitando fazer uso abusivo da liberdade de imprensa e aproveitamento oportunístico do prestígio moral da profissão na sociedade”.
Nós não temos qualquer compromisso com este MISA-Moçambique que elabora prossecuções com base em premissas de quem de facto está comprometido e sempre pactuou com certa imprensa que passa a vida a tentar esconder factos históricos verdadeiros.
Onde estava este MISA-Moçambique quando nós viemos a público dizer que o glorioso Eduardo Chivambo Mondlane, parceiro do Reverendo Urias Simango, não foi assassinado nos escritórios da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) em Dar-es-Salaam, mas, sim, na residência da americana Betty King e na procura da verdade um dos nossos jornalistas foi ameaçado de agressão por Marcelino dos Santos?
Se fossemos a seguir pelos critérios deste MISA-Moçambique, ou melhor, deste presidente do MISA-Moçambique, nunca nos teríamos atrevido a publicar uma verdade histórica irrefutável de que até deu conta disso, o Boletim da FRELIMO editado por Ian Cristie em tempo oportuno na longínqua data em que Mondlane foi retirado do reino dos vivos.
Alguém se deu ao escrupuloso trabalho de esconder das gerações que se seguiram a esse lamentável acontecimento, tão verdadeiro documento jornalístico e prosseguir fomentando a mentira até que a verdade veio ao de cima? Quando os guarda-costas foram instruídos a actuar contra Luís Nhachote onde esteve Tomás Vieira Mário?
Já dizia Heliodoro Baptista, “saberás que para haver História os homens mataram e morreram, morreram e mataram, mas nunca aceites ser mártir”… (Z)

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