Thursday, 18 December 2008

Ainda sobre a exportação da Madeira em toro




A triste trajectória da madeira zambeziana

Nampula (Canal de Moçambique) - O porto de Nacala, na província de Nampula é tido na actualidade como um dos mais fáceis por onde fazer a exportação e a importação do que bem o cidadão desejar, porque, segundo se diz, a fiscalização lá não é das melhores. Aliás, diz-se haver muita facilidade em Nacala, porque o pessoal que lá trabalha “é fixe, é nice” e poucas vezes dificulta “negócios”. Neste rol, a madeira em toro das espécies proibidas para exportação não processada fica fácil.
Depois de termos publicados muito recentemente o facto de a exportação da madeira em toro ser ainda uma realidade a partir do porto de Nacala, na província nortenha de Nampula, chegamos hoje a reportar através de informações que nos foram concedidas por intermédio de alguns dos trabalhadores dos exploradores chineses (trabalhadores que estão passando maus bocados) a trajectória da madeira explorada na província da Zambézia, sobretudo nos distritos de Gilé, Maganja da Costa e Pebane.
Segundo nos disseram alguns dos trabalhadores de algumas das concessões, a partir daquele ponto, a madeira é explorada e mais tarde carregada por camiões que consecutivamente escalam os distritos de Moma, Mogovolas, Meconta, Monapo, Mossuril, até ao porto de Nacala, sem precisar passar por posto de controlo algum.
Dizem as nossas fontes: “nós os trabalhadores é que sofremos, ficamos dias sem comer nada e sem beber e, como senão bastasse o patrão nada faz para o nosso bem”.
Mais adiante, as mesmas fontes referem que “quando o tipo de madeira a ser transportada é aquela cuja exportação em toro é proibida os proprietários são os que conduzem as viaturas, para não correrem risco algum” – dizem e acrescentam: “quando somos nós, os fiscais da Agricultura pouco nos poupam porque sabem que não temos dinheiro algum, mas os próprios donos levam consigo sacos de dinheiro”.
Quando encontrados, os motoristas nacionais são vítimas de maus tratos, tanto por parte dos patrões como por parte dos fiscais da Agricultura que não tem como tirar proveitos das situações.
Para apurar a veracidade destes factos, a reportagem do «Canal de Moçambique», trabalhou no distrito de Moma, para assistir o trânsito das viaturas, sobretudo camiões que fazem o transporte da referida madeira. De regresso, voltamos num camião que de facto transportava a madeira e, como tal, ficamos a saber por intermédio do respectivo condutor que na sua maioria o transporte acontece na calada da noite, para evitar correr risco algum e ainda mais “se a pessoa se aventura em andar de dia, quando for pegada pelas autoridades a responsabilidade é toda tua”.

Fiscais comunitários em risco

De acordo com as nossas fontes, os exportadores já deram ultimatos aos seus homens. “Caso sejam interditos por fiscais comunitários nada mais devem fazer senão passar por cima deles, nem que seja necessário assassiná-los para avançarem com o trabalho”.
Como senão bastasse e, porque eles, os fiscais comunitários não dispõem de meios suficientes e convencionais, são obrigados nalgum momento a ceder à passagem dos madeireiros em salvaguarda das suas vidas.
Dos respectivos fiscais comunitários, apuramos que as informações que nos foram facultadas pelos trabalhadores dos exportadores asiáticos, na sua maioria chineses, constituem verdade e sublinham: “tudo isso acontece porque nós não temos meios para nos protegermos, mas a verdade é única: as nossas florestas estão a acabar a cada dia que passa”.
Dos fiscais comunitários, apuramos igualmente que “os chineses andam a enganar o governo dizendo que não estão a fazer a exportação em toro de espécies proibidas, mas a verdade é que eles tiram o mondzo e o pau ferro, e nós estamos a ver isto todos os dias”.
O facto porém é que tem de haver gente no aparelho de estado ou com muito forte influência a lucrar com estas situações. A culpa não pode ser atribuída a quem faz negócios. A culpa e a responsabilização deve começar por certos moçambicanos que usam o poder para passar por cima das leis e permitir o que se está a passar.

(Aunicio da Silva)

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