• Em jeito de resposta ao Grande Africanista Kandiyana wa Matuva Kandiya
“A prudência é solteirona, rica e feia. Cortejada pela impotência... Mergulha no rio quem gosta de água. O tolo não vê a mesma árvore que o sábio.”
William Blake
Numa sociedade em que fazer referência às obras de figuras como Miguel Ângelo e Leonardo Da Vinci, num debate de arte, dá direito para os nossos grandes doutos – como o africanista Kandiyana wa Matuva Kandiya – rotular-nos de pessoas de “civilização ocidental”, fica difícil discutir a arte. Mais difícil ainda é
quando esses doutos críticos de artes cénicas vem ao debate defender personalidades e instituições, com a errada presunção de que se expressam sempre com a urbanidade que lhes faltou, quando em público vaiaram e até prometeram perseguir os artistas de “Um Solo para Cinco”. Mas discutamos algumas das fantasias do artigo publicado no Jornal “Domingo”:
1- O primeiro erro de Kandiyana é assumir que as instituições e as personalidades que as representam e que vilipendiaram uma obra de arte de uma forma inaceitável são mais importantes que os coreógrafos criadores do bailado, a partir de Augusto Cuvilas, passando por Ximene, até as bailarinas que corporizam “Um Solo para Cinco”, desde a sua primeira exibição em 2003, no Cine África, sob os auspícios da Companhia
Nacional de Canto e Dança. Este facto leva-o a discutir todas vilezas que o interessam, menos o tema em causa que é a nudez na arte e na cultura Moçambicana e Universal. Enquanto para ele vale o primado das figuras e instituições para nós vale o primado do artista e da obra de arte. E quer goste ou não, Kandiyana e
os seus devem respeito a uma obra de arte.
2- A outra divergência entre das Dores e o arauto Kan diyana tem a ver com a sua concepção de obra de arte, que o leva a comparar “Um Solo para Cinco” com um tal fulano “que respondia pelo apelido de Massango” e que, supostamente, em companhia de sua esposa e sogra, foi visto nu pelo Kandiyane a “marchar triunfalmente” pela “25 de Setembro”. Para o génio de Kandiya, a única diferença está apenas no
recinto, pois um acontece num palco fechado e outro na 25 de Setembro. Não iremos ensinar o wa Matuva Kandiya o que é uma obra de arte, pois, com a lição ético-moral de cariz africanista que nos dá no seu artigo, acreditamos saber, mas a comparação infeliz (e gongoricamente infeliz) que há de ter ocorrido num momento
de eclipse do seu génio de crítico, só dignifica as personalidades em que acredita, e menospreza barbaramente a arte, que não é feita por dementes como o seu conhecido Massango, a não ser que tal acto tenha sido criado por um coreógrafo de renome como Cuvilas.
3-O Kandiyana, no rolo das suas presunções, defende um particularismo cultural, acusando-nos de tentar “demonstrar que tudo que se fez e se faz” na Europa “é sinal de desenvolvimento cultural melhor que a do seu país”. Esta é uma das mentiras numa urdidura de factos que o leva a contra-argumentar sobre as suas próprias invencionices, não fosse ele um homem que deplora a malcriadez! E para defender as suas próprias mentiras remata que em matéria de cultura não há povos atrasados nem selvagens e dá como exemplo o caso do “Monarca M`Swati III, tido e achado absolutamente normal pelo povo swati...” Quem disse ao Kandiyana que o Povo Swati acha o direito do Rei escolher uma donzela por ano absolutamente normal? As
manifestações pela democracia e os indícios de instabilidade naquele País não terão a ver com isso? A obrigação de uma mulher se entregar aos caprichos sexuais do Rei será um exemplo superior a um bailado com cenas de nudez? Só Kandiyane que é um grande conhecedor das artes cénicas pode ter tanta segurança nos equívocos.
4- O Kandiyana mente ainda mais quando afirma que “feliz ou infelizmente cada cultura de um povo só é boa para esse mesmo povo”. A verdadeira cultura nunca está desprovida do sentido universal do homem. E, sem querer dar exemplos disso, espero que o nosso articulista não seja desses africanistas de fachada, que falam de África e vivem de dobrada à moda do Porto ao jantar com o respectivo vinho.
5- Duma forma provocatória que não se pode considerar malcriadez, porque é obra de génio da crítica das artes cénicas, e o génio e as personalidades nunca são malcriadas, o Kandiya insinua sobre uma tal peça em que “os actores serão a esposa ou namorada, a sogra, a irmã ou a cunhada e demais familiares do Dom Midó
das Dores a desfilar”. Num maquiavelismo intelectual, o nosso Filósofo confunde a nudez da sua esposa, da cunhada, da avô e dos demais familiares seus com a nudez dos actores e bailarinos numa peça, e com isso tenta ardilosamente confundir-nos a todos. Para ele, é tudo igual, não fosse a sua maior referência de grande
Africanista o filho do Carpinteiro, que o fornece a ferramenta teórica para um debate de artes cénicas.
Por fim, recomendamos ao Kandiya para que nas suas referências para um debate de arte, no qual para além do que aprendeu na catequese, destaca Mahatma Gandhi e M‘Swati III, pelo menos inclua também o José Craveirinha. Quando o tema é a Nudez ou o Obsceno na arte, ele não fica de fora, veja-se o Poema “Ode à Teresinha” em que escreve: “tu, prostitutazinha virginal dos serralheiros/ soldadores/ tripulantes/
recrutas sem cheta/ terceiros oficiais e informadores/ todos ávidos da evolução técnica mais impúbere/ do teu ângulo azul-escuro de anjo de cama/ namorados que levam de cada idílio contigo/ a cosmopolita recordação das tuas gonorreias”... Se “Um Solo para Cinco” é uma obra de arte, então há de ser comparável a um quadro de Malagatana, Naguibi, como o fez Machado da Graça, num artigo de arte que
Kandiya não menciona, porque não insultou as figuras, é comparável à uma poesia de Craveirinha. Por isso, se lhe sobrar tempo, há de ler “Uma Abordagem do Tema da Prostituição na Poesia de José Craveirinha”, um pequeno livro de Fátima Ribeiro, para perceber que não há leitão nenhum que se ri da mãe por ser uma porca, mas sim uma porca que não reconhece o filhote por ser leitão...uf! há de saber o diabo que críticos de arte temos!!!
*Escritor
King's Christmas message to come from former hospital chapel
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This year's royal Christmas message will be delivered from the Fitzrovia
Chapel in central London.
58 minutes ago
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