Thursday, 2 October 2008

A CRISE DA ECONOMIA AMERICANA


Paul comprou um apartamento, no começo dos anos 90, por 300.000 dólares financiado em 30 anos. Em 2006 o apartamento do Paul passou a valer 1,1 milhão de dólares. Aí, um banco perguntou a Paul se ele não queria dinheiro emprestado, algo como 800.000 dólares, dando o seu apartamento como garantia. Ele aceitou o empréstimo, fez uma nova hipoteca e ficou com os 800.000 dólares.

Paul, vendo que os imóveis não paravam de se valorizar, comprou 3 casas em construção dando como entrada algo como 400.000 dólares. A diferença, 400.000 dólares que Paul recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou um carro novo (alemão) para ele, deu um carro (japonês) a cada filho e com o resto do dinheiro comprou TV de plasma de 63 polegadas, 43 notebooks, 1634 cuecas. Tudo financiado, tudo a crédito. A esposa do Paul, sentindo-se rica, começou a usar cartão de crédito.

Em Agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam a cair. As casas que o Paul tinha dado entrada e estavam em construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez...

A solução era voltar a negociar com os bancos a própria casa, para se financiar e usar o dinheiro para comprar outras casas e depois vender com lucro. Parecia fácil. Só que toda as pessoas tiveram a mesma ideia e ao mesmo tempo. As taxas de juro que o Paul pagava começaram a subir e o Paul percebeu que o seu investimento em imóveis se transformara num desastre.

Milhões tiveram a mesma ideia do Paul. Tinha casas para vender como nunca. Paul foi aguentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as das 3 casas que ele comprou, como milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações dos carros, das cuecas, dos notebooks, da TV de plasma e do cartão de crédito.

Quando as casas que o Paul comprou para revenda ficaram prontas, ele tinha que pagar um grande montante. Só que Paul achou que quando surgisse esse momento já teria revendido as 3 casas mas, ou não havia compradores ou os que havia só pagavam um preço muito inferior ao que o Paul tinha pago por elas. Paul começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa em que ele morava e das 3 casas que ele tinha comprado como investimento. Os bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul.

Paul optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os bancos que não quiseram acordo. Paul entregou aos bancos as 3 casas que comprou como investimento perdendo tudo o que tinha investido. Ele e sua família pararam de consumir...

Milhões de Pauls deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que tinham feito com base nos preços dos imóveis. Os bancos tinham transformado os empréstimos de milhões e milhões de Pauls em títulos negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com o valor facial. Com a falência dos Pauls esses títulos começaram a não valer nada. Milhões de milhões em títulos passaram a não valer nada e esses títulos estavam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos.

Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos com base no preço de mercado desse imóvel... Preço que caiu brutalmente. Por exemplo, um empréstimo feito com base num imóvel avaliado em 500.000 dólares, de repente passou a valer 300.000 dólares e mesmo pelos 300.000 não havia compradores.

Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, como os esquemas de pirâmide, eram especulação pura. A falência dos milhões e milhões de Pauls atingiu fortemente os bancos americanos que perderam milhões de milhões de dólares. A farsa do crédito fácil um dia tinha de acabar e acabou.

Com a falência dos milhões de Pauls, os bancos pararam de emprestar com medo de não receber. Os Pauls pararam de consumir porque não tinham crédito. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito dos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado.

O medo de perder o emprego fez a economia travar. Recessão é sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir.

O FED começou a trabalhar de forma árdua, reduzindo fortemente as taxas de juros e as taxas de empréstimo interbancários. O FED também começou a injectar muitos milhões de milhões de dólares no mercado, fornecendo liquidez. O governo Bush lançou um plano de ajuda à economia sob forma de devolução de parte do imposto de renda pago, visando incrementar o consumo, porém, essas acções levam meses a surtir efeitos práticos.

Essas acções foram correctas e, até agora não é possível afirmar que os EUA estejam, tecnicamente, em recessão.

O FED trabalhava. O mercado ficava atento e as famílias esperançosas. Até que na semana passada o impensável aconteceu. O pior pesadelo para uma economia aconteceu: a crise bancária, aforradores correndo para levantar as suas economias, boatos generalizados, pânico. Um dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, tornou-se insolvente.

O FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP Morgan Chase, para que o banco não falisse. Depois disso o Bear foi vendido para o JP Morgan por 2 dólares por acção. Há um ano elas valiam 160 dólares. Durante esta semana dezenas de boatos voltaram a surgir sobre falência de bancos. Desta vez seria o Lehman Brothers, um banco de referência internacional. O Lehman Brothers declarou falência, pondo no desemprego mais de 26 mil pessoas e provocando uma queda de mais de 500 (quinhentos) pontos no índice Dow Jones, que mede o valor ponderado das acções das 30 maiores empresas negociadas na Bolsa de Valores de New York - a maior queda em um único dia, desde 1929...

O mercado e as pessoas seguem sem saber o que os espera no próximo futuro imediato. O que começou com o Paul hoje afecta o mundo inteiro. O desastre pode estar apenas a começar. Só o tempo o dirá.

FED sigla como é conhecido o Federal Reserve System dos EUA

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