Bom-dia, meu caro Isaac
Como vai essa vida? Cá pelo meu lado vai tudo bem, felizmente.
Escrevo-te hoje para te falar de uma coisa que me está a preocupar desde há uns tempos a esta parte: a falta de qualidade de trabalho em muitos sectores do nosso país. Isto apesar do estímulo que é, ou devia ser, a atribuição da placa “made in Mozambique”.
Vou-te dar dois exemplos:
1. Há cerca de dois meses o Hotel Cardoso colocou um novo letreiro a neon, com o seu logótipo, na empena do prédio do hotel. Coisa bem grande e vistosa. Pois até há poucos dias à noite já só se lia Hotel Car. O doso não acendia. Agora devem ter
vindo reparar o letreiro e o nome já aparece quase todo. Só falta metade do o final. E falta um bocado do desenho do emblema.
2. O município de Maputo, numa acção que só merece as nossas saudações, implantou diversos novos semáforos também há pouquíssimos meses.
Mas é já frequente chegares a um destes novos semáforos e encontrá-los apagados.
Ora nos dois exemplos não chegaram a passar dois meses, ao que creio, sobre a instalação dos referidos equipamentos e já eles estão a dar problemas de funcionamento. Coisa difícil de aceitar, sejam quais forem os argumentos que se apresentem para justificar as falhas.
Em muitos sectores não existe o brio pelo trabalho bem feito. O que é preciso é despachar para receber o pagamento e, se aquilo der problemas logo a seguir,
o dono que suporte as consequências.
E, se calhar, o problema vem já de trás, da escola.
Sempre que alguém me fala das nossas escolas, neste momento, é para deitar as mãos à cabeça e lamentar a total falta de qualidade do nosso ensino.
E o problema é que, sabe-se lá como, as pessoas acabam por sair da escola ostentando diplomas que dizem que elas sabem fazer coisas que, em muitos casos, não têm ideia nenhuma de como se fazem.
Esses diplomas dão-lhes acesso a empregos e é só quando confrontados com a actividade prática do “diplomado” que os seus responsáveis se apercebem do tamanho da sua ignorância. Muitas vezes tarde demais, com contratos assinados e difíceis de
revogar.
Mas o maior problema, amigo Isaac, é que muitos desses diplomados mal formados acabam por encontrar emprego no mesmo sistema de ensino de onde acabam de sair. E os resultados são, como podes imaginar, lamentáveis. Professores que foram mal ensinados vão, por sua vez, ensinar ainda pior os seus alunos. De geração em geração o problema agrava-se cada vez mais.
Neste momento já é gravíssimo e, à medida que as pessoas melhor preparadas se forem afastando, pelas leis da idade e da morte, mais graves parecerão os problemas com a grande camada de impreparados a ter que assumir as vagas deixadas.
Tudo leva a acreditar que o grande objectivo do Ministério da Educação é a quantidade de gente que sai diplomada das escolas. É isso que fica bonito nas estatísticas. Não é a qualidade que esses diplomas traduzem.
Essa qualidade, ou melhor a falta dela, vamos senti-la em outras estatísticas: as estatísticas das obras mal feitas, dos desastres, do dispêndio de dinheiro com coisas que não funcionam ou funcionam mal.
Mas estas últimas estatísticas, ao contrário das outras, não aparecem nos documentos nacionais e internacionais. Não servem para sermos avaliados dentro e fora do país.
O que é preciso é dizer que formámos X milhares de alunos com uma determinada classe escolar. O facto de muitos deles não saberem nada de nada não afecta os belos números da estatística.
Mas depois as coisas não funcionam, ou funcionam mal porque quem as fez, ou quem as montou, não tinha a preparação adequada para aquele tipo de trabalho.
De vez em quando ouvimos os responsáveis da Educação a dizer que estão conscientes do problema e que medidas vão ser tomadas. Só que nunca mais ouvimos falar dessas tais medidas...
Esperemos que alguma coisa seja feita, com muitíssima urgência, antes que a situação se torne irreversível.
Um abraço para ti do
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