Wednesday 6 February 2008

REVOLTA POPULAR EM MAPUTO!

Com a devida venia, voltamos a actualizar o nosso blogue com base na cronologia do Prof. Serra (www.oficinadesociologia.blogspot.com)


Maputo fantasmada hoje

Esta manhã Maputo está ainda sem chapas. E também sem os autocarros dos TPM. Uma senhora do Bairro de Inhagóia disse-me que há muita gente na estrada, mas que não há chapas, embora circulem viaturas. Um jornalista confirmou o facto e acrescentou que alguns chapistas afirmaram que o preço dos combustível tem de baixar. Alguns interprovinciais arrancaram de forma tímida. Enquanto isso, há escolas e lojas encerradas. Ar desolador por todo o lado, com inúmeros contentores de lixo ocupando estradas ou tombados, muito lixo espalhado. O diário "Notícias" não exibe hoje a sua versão online. A cidade está fantasmada.
1.ª adenda às 8:57: tal como afirmei à STV e à BBC, tivemos ontem um sismo social de magnitude eventualmente moderada numa hipotética escala social de Ritcher. Deixem-me propor-vos que fizemos face a tremor social com uma magnitude digamos que entre 5 e 6, algo que provocou muitos danos, mas que não abalou edifícios sociais. Todavia, o sismo revelou uma coisa: a criação de uma área vulcânica definitiva, apontando para futuros sismos sociais caso surjam medidas estatais impopulares. Ontem, o vice-ministro do Interior afirmou que o Estado agiria duramente em caso de perturbação da ordem. Mas uma acção policial musculada em nada vai resolver os problemas dos quais os preços dos chapas e do pão foram e são apenas a ponta do iceberg - tal como afirmei à STV. E temos agora o Estado entalado, refém das suas próprias medidas e a contas com uma impopularidade que importará estudar no futuro: por um lado, correu tardia e receosamente em socorro dos revoltosos (as eleições estão próximas e temos uma Maputo que, a braços com uma urbanização imparável e inúmeros problemas sociais, guarda ainda a memória dorida das explosões de Malhazine) e voltou à estaca anterior no tocante às tarifas dos chapas, quando antes não teve qualquer pejo em autorizar a subida. Por outro, tem agora de fazer face à aparente greve dos chapistas, que não aceitam o retorno às tarifas anteriores. A greve dos chapistas paraliza empresas e funcionalismo público. Enquanto isso, o preço do pão mantém-se.
2.ª adenda às 9:18: falo amanhã, a partir das 7:30, no programa "café da manhã" da Rádio Moçambique, a propósito da revolta popular em Maputo.
3.ª adenda às 9:21: chamei ontem a atenção na STV para o facto de que a revolta popular tinha grandes contingentes de jovens e de mulheres. Tentar atribuir a esses jovens e a essas mulheres o papel de arruaceiros irracionais é ofender quem sofre, é ofender o povo, é defender que o povo é bovino, que é carneiro, que é fácilmente manipulável por "forças externas". Tentar atribuir à revolta popular o selo de uma determinada cor política é uma maneira penosamente pouco inteligente de fugir à realidade dos problemas. Tentar vestir a revolta com cores étnicas não tem qualquer indicador comprovante. Quem se revoltou tinha apenas uma etnia: a do protesto, a da dor, a do sofrimento. Tentar remeter para os preços internacionais do petróleo e da farinha de trigo a razão de ser dos preços internos tem obviamente lógica em cima, mas não tem lógica em baixo, lá ou cá onde vive quem passa dificuldades.
4.ª adenda às 9:34: tal como coloquei como hipótese ontem na STV, a geografia da revolta de ontem estava e está préfigurada nos linchamentos urbanos, na privatização da justiça que eles representam, especialmente em Maputo e Beira. São exercícios de insatisfação, de protesto popular contra um Estado distante ou impopular. Veja-se o caso do Bairro de Inhagóia. Este é um campo que tentarei trabalhar no futuro.
5.ª adenda às 9:41: quais foram os alvos dos descontentes? Tudo aquilo que simbolizava propriedade, poder, símbolo de mal-estar: lojas, bombas de gazolina, padarias, bancas de venda de pão, viaturas, chapas, etc.
6.ª adenda às 9:47: atiram pedras às viaturas na estrada nacional n.º 1, informação que me acaba de ser prestada via celular.
7.ª adenda às 9:59: cenário dantesco, parece que saiu de um filme de guerra, ali na estrada nacional n.º 1, logo a seguir ao Hospital José Macamao para quem vai para a Matola: muitos obstáculos na estrada, sinais de destruição por todos os lados.
8.ª adenda às 10:08: filas enormes na portagem de Maputo, que funciona a meio-gás.

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