Tuesday 5 February 2008

REVOLTA POPULAR EM MAPUTO!

Com a devida venia publicamos a cronologia do Prof. Serra (publicada no seu blog www.oficinadesociologia.blogspot.com) sobre a revolta popular hoje em Maputo.


Para ja o nosso agradecimento a coragem do Professor ao nos trazer em primeira mao (especialmente aos mocambicanos e amigos de Mocambique nas provincias e na diaspora) e quase em tempo real aquilo que de outra forma saberiamos horas senao dias depois!

De facto estamos no mundo da globalizacao!

Um abraco, MA

Parece haver uma revolta popular em certos bairros periféricos da cidade de Maputo devido ao aumento dos preços do pão e das viagens em chapas. Cidadãos por mim ouvidos disseram-me que em certas zonas os chapistas não circulam com receio dos habitantes, havendo mesmo zonas com barreiras erguidas. Esta manhã um carro com polícias armados foi visto a dirigir-se para a zona de Malhazine. Tudo leva a crer que há uma relação do fenómeno com o aumento das novas tarifas, em vigor desde hoje.
Recorde postagens aqui e aqui.
1.ª adenda às 10:00: acabaram de me informar que a STV está a noticiar o fenómeno. Por outro lado, uma colega disse-me há momentos que não conseguiu passar na zona do Jardim por haver populares nas ruas muito exaltados e a destruir carros. Uma outra fonte deu-me conta de que a estrada nacional n.º 1 está encerrada por populares.
2.ª adenda às 10:20: um jornalista acaba de me informar via celular que crianças estão agitadas na Praça da OMM e que guardas da segurança privada Alfa evitaram que as bombas de gazolina ali existentes fossem incendiadas. Uma outra fonte disse-me que há tumultos na Avenida Eduardo Mondlane.
3.ª adenda às 10:25: segundo um jornalista falando-me via celular, populares estão agora, na Praça da OMM, a transformar bancas e vendedores de pão em alvos. E estão a dirigir-se para a Av.ª Kenneth Kaunda.
4.ª adenda às 11:00: um jornalista acaba de me informar via celular que está interrompida a circulação na estrada internacional n.º 1 junto ao Cemitério de Lhanguene, com muitos pneus barricando a via. Viaturas do transporte interprovincial estão estacionadas por precaução junto à 18.ª esquadra da área.
5.ª adenda às 11. 22: estrada barricada na zona do Bairro do Jardim, a polícia disparou para dispersar manifestantes, uma ambulância passou a caminho de Maputo.
6.ª adenda: a versão online de "O País" reporta o fenómeno da seguinte maneira: "Actos de vandalismo estão a acontecer em vários pontos da cidade de Maputo em protesto contra o agravamento da tarifa dos transportes semi-colectivos, vulgo “chapa cem”, a vigorar a partir de hoje, 5 de Fevereiro. Um número ainda não especificado de viaturas, incluindo particulares e da Polícia da República de Moçambique, encontram-se danificadas e várias vias de acesso, como a que liga a capital às restantes províncias do país, foram bloqueadas (a foto do pneu a arder numa estrada é desse jornal)."
7.ª adenda às 11:30: uma psicóloga acaba de me informar que há fogueiras e tiros em frente ao Hospital Central de Maputo, pessoal médico e paramédico intranquilo. Ambulâncias, pancadaria, gente a correr.
8.ª adenda às 11: 43: situação tensa em frente ao antigo Instituto de Educação Física, na Av.ª Eduardo Mondlane. Professores e estudantes inquietos. Uma professora acaba de me informar que já não se pode sair do edifício e que teme pelo seu carro.
9.ª adenda às 11:45: linhas telefónicas da empresa de telefonia móvel Mcel começam a ficar congestionadas.
10.ª adenda às 11:55: o sociólogo Carlos Bavo acabou de escrever o seguinte em comentário a esta postagem: "Caro prof., presenciei cenas de vandalismo na zona de Xiquelene. Neste momento, esporadicamente, ouvem-se tiros nos bairros Ferroviário, Hulene e Mavalane, provavelmente disparados pela polícia a partir da estrada que liga Xiquelene a Hulene. Impressionante é o envolvimento de jovens ainda menores em tais estragos na via pública. A agitação por estes lados do DU 4, particularmente nas terminais de chapas, é enorme. Carlos Bavo".
11.ª adenda às 12:00: um jornalista informou-me que manifestantes tentaram assaltar a agência do Banco Austral no Bairro do Jardim, mas que foram dispersos pela polícia, que disparou para o ar e usou gás lacrimogéneo.
12.ª adenda às 12:07: a Rádio Moçambique está a transmitir notícias da Taça das Nações de futebol que se realiza no Gana.
13.ª adenda às 12:10: um dos meus assistentes ligou-me por celular do Bairro de Inhagóia e disse-me que um polícia escapou ao linchamento por populares devido ao socorro prestado por colegas. Situação muito tensa lá.
14.ª adenda às 12: 20: oiço tiros, não faço a mínima ideia de onde partem, dificuldades no envio de mensagens via Mcel.
15.ª adenda às 12:25: comentário de um leitor nesta postagem, há momentos colocado: "Av. 25 de Setembro assaltado, zona de 33 andares, colocaram contentores de lixo na estrada e foram marchando em direcção ao Banco de Moçambique, não temos notícias sobre o que estarás se passando mais a frente."
16.ª adenda, às 12:32: A Rádio Moçambique começou o seu noticiário das 12:30 dizendo que em alguns bairros da cidade de Maputo houve agitação devido ao "aludido" (sic) aumento das tarifas de chapas. Igualmente disse haver problemas na Matola, onde há confusão, com a polícia tentando evitar o caos.
17.ª adenda às 12. 39: Rádio Moçambique informa que uma viatura da polícia foi queimada; carros de assalto presentes; retiradas as barricadas pela polícia, manifestantes voltam a colocá-las; tentativa de assalto às bombas de combustível da Total; ministro dos Transportes e Comunicações pede serenidade à população e disse que os preços dos chapas hoje entrados em vigor foram tudo o que o Governo conseguiu obter; confrontação directa entre populares e polícia em Malhazine; montras partidas.
18.ª adenda às 12: 40: mulheres e crianças estão em massa nos protestos.
19.ª adenda às 12: 43: vice-ministro do Interior, José Mandra, deverá fazer uma declaração dentro de minutos.
20.ª adenda às 12:46: vice-ministro do Interior, José Mandra, fala na Rádio Moçambique e pede calma às pessoas. Diz que preços de combustíveis subiram e por isso os preços do chapas subiram também; fala em estragos diversos, mas a situação está sob controlo; cinco feridos.
21.ª adenda às 12:47: um morto por baleamento segundo a Rádio Moçambique, que informou também que os chapas não circulam hoje na cidade do Xai-Xai, a cerca de 200 quilómetros de Maputo.
22.ª adenda às 12: 51: um dos meus assistentes acaba de me informar que populares queimaram a casa de um polícia que, no Bairro de Inhagóia, baleou três moradores do bairro. Esse polícia escapou ao linchamento, tal como referi em adenda anterior.
23.ª adenda às 13:00: um jornalista emocionado, ouvindo tiros (também os ouvi), acaba de me informar via celular que dois jovens (ela de 19 anos, ele de 22) foram baleados em sua casa por um polícia à paisana no Bairro de Inhagóia: moradores foram a casa do polícia para lhe queimar a casa, mas surgiu a polícia a disparar para o ar. Ligeira correcção da adenda anterior, portanto.
24.ª adenda às 13: 05: tiros na Av.ª 25 de Setembro.
25.ª adenda às 13:07: um dos meus assistentes comunicou-me via celular que jovens atacaram um chapa na Praça do Museu, partindo-lhe os vidros, atacando depois os vendedores de pequenas bancas locais.
26.ª adenda às 13:15: um amigo ligou-me via celular para me dizer que na Av.ª Eduardo Mondlane, quase a chegar ao "Ponto Final", populares atiravam pedras para os carros que passavam, partindo vidros, com a polícia a disparar para o ar. A cidade parece deserta.
27.ª adenda às 13: 25: polícia lança gás lacrimongéneo no Bairro de Inhagóia; o polícia que baleou dois jovens parece que, afinal, baleou cinco, chama-se Balate; barricadas removidas pela polícia na estrada, barricadas recolocadas pelos populares (informação via celular de um dos meus assistentes no terreno).
28.ª adenda às 13:40: lojas fechadas, cidade sem chapas agora.
29.ª adenda às 13:52: circulam viaturas na Av.ª Eduardo Mondlane, mas poucas e muito devagar. Parece estarmos num fim-de-semana ainda mais fim-de-semana do que é habitual.
30.ª adenda às 14:15: informa-me um jornalista via celular que um carro da Electricidade de Moçambique foi queimado no Bairro do Benfica.
31.ª adenda às 14:20: BBC em linha, falo para a emissora, canal em português, mais logo, 19 horas locais.
32.ª adenda às 14:25: chegará a altura em que procurarei analisar o que se está a passar. Assim respondo aos que me têem telefonado e enviado emails a perguntar quando analiso a situação.
33.ª adenda às 14;35: estão encerrados: bombas de combustível, escolas, comércio formal e informal. Situação inédita na cidade de Maputo, faz lembrar um pouco, em termos de agitação popular, a transição para a independência.
34.ª adenda às 14:37: STV em linha, falo para essa estação televisiva logo a partir das 19:44.
35.ª adenda às 14:45: acabam de me informar que a portagem da Matola foi encerrada.
36.ª entrada às 15:08: BBC reporta "revoltas nas ruas de Maputo", veja aqui, com link para este diário.
37.ª adenda às 15:20: um assistente meu em Inhagóia e alguém que quis falar comigo do Bairro do Choupal disseram-me que a situação está tensa, com as pessoas muito coléricas. Que se aguarda um informe governamental às 16 horas, que no Bairro do Choupal se cortaram árvores e se abriram valas nos passeios para barricar a estrada, que apenas passou um carro, de uma funerária, levando um morto. Moradores de Inhagóia continuam agastados com o polícia que baleou pessoas (vide adendas anteriores).
38.ª adenda às 15:36: um jornalista informa-me que as SAA, linhas aéreas sul-africanas, cancelaram os seus voos para Maputo.
39.ª adenda às 16:05: em comunicado conjunto, o Conselho de Ministros e o Conselho Municipal da cidade de Maputo apelaram à calma na cidade e falaram de "interesses que não são benéficos para as populações". Por sua vez, o vice-ministro do Interior, José Mandra, afirmou que nada se resolve com tumultos e que não é procedendo com tumultos que a situação dos preços se vai resolver (Rádio Moçambique, noticiário das 16 horas).
40.ª adenda às 16:10: um jornalista no terreno neste momento deu-me conta de existirem enormes filas de gente na Avenida 24 de Julho e de haver uma situação tensa defronte do edifício da Assembleia da República.
41.ª adenda às 16:15: um portal português afirma que "os protestos em Maputo foram convocados por sms". Confira aqui.
42.ª adenda às 17:00: jornalista informou-me que a polícia escolta viaturas na Av.ª 24 de Julho, depois de ter removido contentores de lixo que barricavam a avenida entre o edifício da Assembleia da República e a praça 16 de Junho.
43.ª adenda às 17:45: há indícios de aparente normalização em algumas áreas de Maputo. Mas há ainda bairros com problemas: Inhagóia, por exemplo. Um jornalista viu há momentos um chapa circular em Maputo, paragens têm gente à espera de chapas. Mas muita gente, a maioria, circula a pé. Para quem vai para a Matola pode notar isso, uma fila caminhando para lá, outra para cá.
44.ª adenda às 18:07: ao longo da Av.ª de Moçambique, nos bairros Luís Cabral e do Jardim, forte aparato policial, disparos sucessivos e tentativas de barricar estradas por parte de populares. Por outro lado, num outro ponto, a caminho do aeroporto, vários populares queixaram-se de terem sofrido atentados quando procuravam lá chegar, especialmente apedrejamento das viaturas. A Avenida do Trabalho está barricada com troncos de árvore, a polícia chegou, ouvem-se disparos (fontes de crédito por celular).
45.ª adenda às 18:45: prometo-vos que há-de chegar a altura em que procurarei analisar o fenómeno.
46.ª adenda às 20:50: regressado da STV, acabo de ser informado de que na Beira, para se evitarem tumultos, foi adiada a entrada em vigor da nova tarifa dos chapas após acordo alcançado entre o Governo e a Associação de Tranportes Semi-Colectivos (notícia da Rádio Moçambique que me foi enviada via celular por um jornalista).
47.ª adenda às 21:oo: fiquei muito impressionado por ver os vídeos da revolta em Maputo enquanto permanecia no estúdio da STV onde fui entrevistado. Mesmo muito impressionado.
48.ª adenda às 21:15: continuo a receber via email e via celular o pedido para iniciar a análise da revolta popular. Por agora não, estou algo extenuado. Mas posso desde já adiantar que a farei e que, fazendo-o, usarei alguns termos de que fiz uso em entrevista hoje para a BBC e para STV, a saber: sismo social, terramoto social, escala social de Ritcher, zona vulcânica social. Etc.
49.ª adenda às 21:20: um jornalista acaba de me mandar a seguinte mensagem: "Acabo de chegar. Situação drmática no troço J. Macamo-Matola. Portagem escancarada. Rede vandalizada. Pessoas a dormir no pátio da portagem. Pneus a arder. Polícia impotente. Não tenho palavras para descrever. É guerrilha urbana ou seja terramoto social".
50.ª adenda às 21:25: acho que vou parar um pouco, sinto-me extenuado. Perdoem-me.

1 comment:

Nelson said...

A serviço prestado pelo Dr. Serra foi extremamente valioso. Quando fomos aos serviços noticiosos da televisão foi para complementar(detalhes) do que o diário já nos tinha informado.
Está de parabens o Dr. Serra.