Falência iminente devido a políticas governamentais
— “Enquanto houver filhos e enteados a palavra concorrência terminará no papel”, Faruk Gadit
— “Quando se está nos momentos de dor por vezes falamos antes de pensar”, Emanuel Chaves,
Aeroportos de Moçambique
Por Raul Senda
Três anos após se lançar ao mercado, a transportadora aérea privada Air Corridor, baseada em
Nampula, anunciou, esta semana, a paralisação “temporária” dos seus serviços. Segundo os gestores
da empresa, a interrupção dos voos, que consequentemente poderá resultar no encerramento da
empresa e perca de 260 postos de trabalho, deriva das políticas governamentais cujo desiderato é
proteger o monopólio estatal e de um conjunto de sabotagens protagonizadas pela Empresa
Aeroportos de Moçambique (ADM). A direcção da Air Corridor aventa levar à barra do Tribunal a
empresa que gere os aeroportos nacionais. No entanto, a ADM, em contacto com o SAVANA, nega
todas as acusações.
Depois de a histórica e tradicional transportadora Oliveiras declarar falência em meados de Novembro de
2007 devido à anarquia que reina no mercado dos transportes, esta semana foi a vez da primeira
transportadora aérea privada nacional vir ao público anunciar a “paralisação temporária” das suas actividades.
Embora os gestores da companhia afirmem publicamente que a interrupção é temporária, o SAVANA tem
em seu poder informações segundo as quais a paragem ora anunciada será definitiva.
Consta-nos que a direcção da empresa já se reuniu com trabalhadores onde lhes terá comunicado que,
enquanto vão esperando pelas novas ordens, os que têm possibilidade de se enquadrarem noutras
instituições podem fazê-lo.
Filhos e enteados
As reticências dos proprietários da empresa derivam do facto de não haver condições no mercado para
continuar com o negócio.
Falando ao SAVANA, Faruk Gadit, administrador para a área dos Recursos Humanos e Serviços
Administrativos da Air Corridor, disse que desde que a empresa entrou no mercado em Agosto de 2004, o
executivo moçambicano tem feito um esforço enorme no sentido de obstruir o desenvolvimento da companhia.
Referiu que a única coisa que a sociedade teve do Governo foi a licença e o resto são perseguições.
Faruk Gadit diz que a sua empresa é mais acarinhada pelas autoridades sul-africanas que as
moçambicanas, apesar dos proprietários da mesma serem nacionais.
A título ilustrativo, Gadit afirma que há dois anos, a companhia pediu, junto ao Governo moçambicano, uma
autorização para voar para a região de Lanseria, em Joanesburgo, uma rota que não era explorada pela
companhia aérea estatal, mas o executivo limitou-se ao mutismo.
No entanto, enquanto o pedido vegetava no Ministério dos Transportes e Comunicações, a LAM lançava
spots publicitários anunciando a abertura da rota de Lanseria. O Governo, segundo Gadit, nunca chegou a
responder ao pedido na Air Corridor.
ADM
Faruk Gadit contou ao nosso jornal que a última avaria da sua aeronave, e que culminou com a paralisação
dos voos, deveu-se a um incidente ocorrido na noite do dia 10 de Janeiro, na pista do Aeroporto de Nampula,
na qual uma ave de grande porte danificou um dos reactores do avião quando este se preparava para
descolar.
Este facto verifica-se pela segunda vez em menos de três anos do funcionamento da Air Corridor, quando
na praça há empresas que estão a operar há mais de 40 anos sem que coisa idêntica lhes tenha sucedido.
Por duas vezes consecutivas as aeronaves da Air Corridor foram obrigadas a aterrar no Aeroporto de
Nampula sem iluminação na pista, pondo em perigo vidas de dezenas de pessoas que vinham a bordo.
Gadit disse que, na última vez que um avião da sua companhia foi obrigado a aterrar numa pista sem
iluminação, a equipa de tripulantes foi avisada a menos de cinco minutos de aterragem, enquanto que o
problema durava havia várias horas.
Contou o nosso interlocutor que o mesmo já não se verificou com a companhia estatal. Os pilotos das
Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) foram informados sobre a falta de iluminação na pista do Aeroporto de
Nampula quando ainda se encontravam em Quelimane.
“Veja que no incidente de Junho do ano passado, as autoridades aeroportuários deixaram-nos sobrevoar a
cidade de Nampula cerca de 30 minutos, o que fez com que gastássemos mais de 1300 quilogramas de
combustível. Com o dispêndio daquela quantidade de combustível, já não seria possível alternarmos para um
outro aeroporto numa situação em que estava em causa vidas de 58 pessoas que vinham a bordo. Imagine
este nível de irresponsabilidade”, lamentou Gadit.
Outro factor estranho que o nosso interlocutor contou tem a a ver com o comportamento dos técnicos da
empresa ADM, justamente quando se trata da descolagem ou aterragem dum voo da sua empresa.
Segundo o administrador dos Recursos Humanos e Serviços Administrativos da Air Corridor, quando uma
aeronave da LAM ou de outras companhias, sobretudo estrangeiras, pretende aterrar ou descolar, nota-se
uma movimentação de viaturas da ADM ao longo da pista a fiscalizar, bem como há posicionamento dos
bombeiros.
A mesma coisa já não se verifica quando se trata de aeronaves da Air Corridor. Ao questionar-se a
direcção da ADM limita-se ao silêncio.
Disse que não entende as razões dessa reacção, porque a sua companhia desembolsa semanalmente 110
mil meticais, por cada aeronave, para o pagamento das taxas aeroportuárias.
A direcção da Air Corridor disse ao SAVANA que não está colocada de lado a possibilidade de vir a
processar a empresa ADM. Essa hipótese será analisada pelos donos da companhia nos próximos dias.
Custos
Todos os incidentes que a companhia tem tido registado verificam-se no espaço sob responsabilidade da
empresa ADM, devido àquilo que a direcção da Air Corridor apelida de “desleixo dos gestores das infraestruturas
aeroportuárias”. Contudo, a ADM nunca se responsabilizou pelos danos.
De acordo com os gestores da Air Corridor, só na reparação de motores, os incidentes provocados por
pássaros provocaram danos na ordem de dois milhões de dólares americanos.
O valor acima citado não inclui outros prejuízos como combustíveis, reparação dos danos, perda de
credibilidade, paralisação de actividades entre tantos outros.
Desinformações
A direcção da companhia lamentou ainda o conjunto de desinformações que têm circulado na comunicação
social e alimentada pelos concorrentes, cujo objectivo principal é pintar a negro o nome da Air Corridor, facto
que contribui grandemente para afugentar clientes.
E, no meio dessas operações caluniosas, Gadit indica que os fomentadores e difusores dessas
informações esquecem que as aeronaves são inspeccionadas constantemente visto que, para voar, é preciso
cumprir, no mínimo, com os padrões de segurança aérea da Autoridade Internacional de Aviação Civil e do
Instituto de Aeronáutica Civil de Moçambique.
É azar
Em declarações ao SAVANA, a direcção da empresa Aeroportos de Moçambique (ADM) refuta todas as
acusações que lhe são imputadas, referindo que nunca iria tentar sabotar os voos da Air Corridor, porque
quando se fala de segurança aérea o que está em jogo não é a companhia, mas, sim, vidas humanas que
viajam nesses aviões.
Emanuel Chaves, director de operações da ADM, disse que os gestores da Air Corridor estão num
momento de choque e tristeza devido ao sucedido e por isso “falam coisas sem pensar”.
“Não é nossa política discriminar esta ou aquela companhia, porque dentro dos aviões viajam pessoas e
são essas pessoas que queremos proteger. Tenho certeza de que depois de superar este momento de dor e
se concentrarem, os donos da Air Corridor virão ao público dizer outra coisa”, disse Chaves.
Sublinhou que a Air Corridor está numa situação delicada por isso as acusações que tece não lhes
espantam. No entanto, Chaves disse que não iria retorquir, para evitar degradar ainda mais a já precária
situação da empresa.
O director de operações da ADM disse ao nosso jornal que há uma convenção internacional sobre a
segurança aérea e que todos aeroportos devem seguir.
Segundo as normas internacionais da aviação civil, as autoridades aeroportuárias devem tomar medidas
para evitar que pássaros circulem dentro de aeroportos, precisamente devido ao grande potencial de
acidentes que as aves representam para as aeronaves em circulação. Em certos aeroportos, existem
equipamentos especializados para este fim.
Chaves concorda que empresas aeroportuárias são responsáveis pelos danos causados aos aviões nos
aeroportos sob sua gestão. Mas, segundo ele, tal acontece se se verificar que tais medidas de segurança não
estão a ser seguidas. “A partir do momento em que os gestores dos aeroportos se preocupam em evitar isso e
que demonstre claramente, é isenta de qualquer indemnização. É o que está a acontecer. A ADM está a
investir muito no melhoramento das condições de segurança nos nossos aeroportos”, frisou.
Emanuel Chaves lamentou a situação em que a companhia Air Corridor se encontra e disse ainda que a
empresa está a ser atormentada por um conjunto de azares que mesmo ele não consegue entender.
Acrescentou que os aviões da Air Corridor não são os únicos que se envolvem em choques com pássaros,
mas a partir do momento em que provocam danos avultados é caso para lamentar.
Reconheceu que o problema é que tudo de mal que acontece com esta companhia é muito mediatizado, e
quando são outras companhias nada se fala.
“São coisas que até procurei saber, mas não tive nenhuma solução. Os problemas da Air Corridor
verificam-se também noutras companhias e nada se veicula na imprensa. Isso é muito estranho”, disse.
Ministro de férias
Na manhã desta quarta-feira, o nosso jornal contactou telefonicamente o ministro dos Transportes e
Comunicações, António Munguambe, ao que referiu que nada podia comentar, porque está fora do país em
gozo de férias.
“Não estou dentro do assunto que me está a falar, estou neste momento fora de Moçambique a gozar as
minhas férias, nada posso comentar”, disse.
In SAVANA
Former Aberdeen & Dunfermline boss Calderwood dies
-
Former Aberdeen and Dunfermline Athletic manager Jimmy Calderwood has died
aged 69.
34 minutes ago
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