Saturday, 29 December 2007

Carta de Carlos Serra ao Presidente da Republica

Quanto mais flagrante é a desigualdade social, mais tendência têm os "fast thinkers" para exigir a neutralidade científica (Carlos Serra)
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Carta para o Senhor Presidente da República, Armando Guebuza



Senhor Presidente
Permita-me que regresse ao tema que me levou a escrever aqui a primeira das cartas que desde Janeiro deste ano lhe tenho dirigido sobre os mais variados temas.
Presidente: segundo o "Notícias" de hoje, toros de madeira preciosa ilegalmente abatida encontram-se abandonados e espalhados a 80 quilómetros da cidade de Mocuba e nos distritos de Maganja da Costa, Pebane, Gilé, Morrumbala, Mopeia, Guruè e Milange, província da Zambézia.
Essa é uma notícia alarmante, terrível, Presidente.
A situação do desmatamento no país no que concerne à nossa madeira preciosa agrava-se mês após mês, com a participação de estrangeiros e de nacionais, como o "Notícias" e os ambientalistas têm mostrado regulamente.
Mesmo a olho nu é triste olhar a Zambézia. Mas não só a Zambézia: Inhambane, Sofala, Cabo Delgado, Niassa, etc. Nada escapa: umbila, pau-ferro, panga-panga, chanfuta.
Trata-se, Presidente, de um autêntico, desumano saque, sem maneio, sem real controlo.
Tal como lhe escrevi na primeira carta - permita-me recordar - floresta é raíz, floresta é o conjunto das nossas raízes, desta terra amada, mas desta terra cada vez mais desmatada.
Presidente: enquanto nos desflorestam, nos desmatam, enquanto a nossa rica madeira desaparece, estão muitos, cada vez mais muitos, a enriquecerem e a sentarem-se nos sofás e nas cadeiras com ela fabricados, em orientais e ocidentais terras, em múltiplos mercados e confortos deste planeta.
Presidente: corremos o risco de perder as raízes.
Presidente: corremos o risco de deixar os nossos filhos e netos entregues a um país sem raízes e sem alma.
É tudo, Presidente.
Feliz 2008 para si e sua Família.
A luta continua.
Carlos Serra, In www.oficinade sociologia.blogspot.com

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