Wednesday, 8 August 2007

Quem ganha com a ‘Inhaminguizacao’ do pais? Ou seja um Diagnostico a um paciente (Moçambique) em coma!

Dedico este artigo agente da PIR perecido em Inhaminga e a populacao de Inhaminga que uma vez mais foi vitima de agendas obscuras!


Me enganava redondamente quando no meu artigo publicado no semanário Zambeze de 19 de Agosto de 2004, com o titulo ‘Sera Namburete o xeque-mate de Dlakhama’ afirmava categoricamente que ‘Se alguém tinha duvidas de que a democracia em Moçambique, e por sinal a liberdade de expressão, vai de vento em popa, então as duas ultimas semanas serviram para atirar tais duvidas ao caixote de lixo’.

Cometia eu um erro crasso de julgamento. Um erro grave, mas perceptível porque humano. Grave porque fazia um juízo de valor sobre uma realidade social em que eu era participante e quica actor. Perceptível porque, nesses casos corre-se o risco de ver apenas ‘aquelas coisas que queremos ver’, nos deixam ver ou então de ‘sermos influenciados pelo desenrolar dos acontecimentos’, pelas nossas amizades, inimizades, proximidades, vizinhanças, ambicoes, aspiracoes etc etc.

Mas será que alguém pode escapar a essa fatalidade? Uns diriam que sim, que e possível escaparmos. Outros diriam que não, que não era possível! Poderíamos discutir essas possibilidades ate ao fim do ano sem se calhar chegarmos a nenhum consenso. Contudo, para mim o importante não e apenas a discussão da imparcialidade de per si. Mas sim o facto de estarmos cientes de que somos seres participantes num laboratório social e que as nossas ideias, accoes e inaccoes influenciam e são influenciadas por vários eventos a que não podemos escapar!

Porque e que considero que me enganei? Me enganei porque parece que havia sinais que apesar de serem pouco perceptíveis, estavam ali para serem vistos. Tais sinais mostravam que a paz que nos rodeava era efémera e que a realidade era bem diferente daquela que eu conseguia enxergar. Tão diferente que mal meu artigo estava sendo impresso, estava em alvoroço Inhaminga! E não so, aqui em Maputo, mesmo nas minhas barbas, segundo o Savana de 20 de Agosto de 2004, a publicidade paga sobre a obra do meu amigo Ncomo era censurada! Que machado da Graça historiava, caracterizava e repudiava no seu refinado e majestral estilo. Da Graça dizia ‘que o monstro, que parecia morto e enterrado, levantou de novo a cabeça e mordeu...E Da Graça terminava seu artigo rematando ‘E não gostei nada de lhe ver a cara nojenta a levantar-se, de novo, da podridão onde jazia’! Que Lourenço Jossias, editor do Zambeze, queixava-se na sua ‘Mensagem do Editor’ de 12 de Agosto de 2004, da censura, desta vez protagonizada pelo Conselho Superior de Comunicacao Social a um orgao informativo local ‘Vem do CSCS a censura’. Jossias afirmava categoricamente que ‘tal como receávamos ha algum tempo , a censura esta de volta em Mocambique’. Que alegadamente, eruditos colegas do Dr. Namburete no MISA, quais Judas Escariotes, punham a sua cabeça a premio exigindo a sua saída naquele orgao, uma vez que na opinião daqueles, o alinhamento abertro do Dr. Namburete com a Oposicao, constituía um acto que em pouco dignificaria o MISA! – Como se nos não soubéssemos dos alinhamentos de cada um de nos! Porque tanta hipocrisia? Porque adoptar a táctica da avestruz, que prefere esconder a cabeça deixando o rabo de fora? Será que precisamos que um miúdo venha exclamar que o ‘Rei vai nu?’Ai recordei-me de Jesus Cristo, que quando quiseram apedrejar Maria Madalena, pediu aos presentes para que atirasse a primeira pedra quem não tivesse pecado!... e o resultado foi o que se viu. Nenhum dos presentes teve a coragem de atirar a primeira pedra porque afinal de contas eram todos pecaminosos! Existira alguém neste pais que não tenha partido?

Dizia eu que enganei-me porque não dei o valor que merecia o SOS que alegadamente veio de Nampula, segundo o qual um dos presidenciaveis havia afirmado de boca cheia ‘que acabaria com ‘homens da Renamo’ ou com ‘homens armados da Renamo!’ não sendo especialista em linguística e muito menos em analise semântica, confesso a minha ignorância nas implicacoes de cada uma destas frases, se e que os orgaos de informacao que reportaram o facto foram fieis.! Apesar destes e de outros sinais, eu teimava em sonhar com um pais imaginário! Um pais de bom senso, um pais em que a lógica da paz e a racionalidade eram os denominadores comuns! Um pais em que o Comandante Geral da Policia, ignora um principio básico da actividade policial, a proporcionalidade no uso da forca! E que a imagem do meu pais não pode ficar refém da fuga de dois indivíduos que violentaram um terceiro! Será que a captura dos dois foragidos compensa a imagem que o pais perdeu? O medo que se impos nos investidores, a perda da certeza da pais que nos pacatos cidadãos perdemos, a confiança que tínhamos na policia? Infelizmente, sonhava eu com um pais de paz efectiva, sonhava eu com um pais irreal, um pais que so existia na minha pobre imaginacao, porque o pais real, esse, estava noutras paragens, noutras galáxia, bem distantes da nossa!

Mas eu não via! Não via porque andava demasiado empolgado e quica embriagado pela paz que teimava em saborear. Não liguei a esses pequenos detalhes e o resultado foi ter ‘caído de quatro’, como muitos o fizeram quando Inhaminga ardeu!.

Mas Inhaminga não estava so. Inhaminga vinha acompanhado de outras Inhamingas. E foi a procura dessas ‘outras’ Inhamingas que rabisquei este texto, na esperança de que esteja a contribuir para o estabelecimento de um sistema de SOS da sociedade civil!.

Dias antes, enquanto devorava o livro de Ncomo, um pássaro soprara aos meus ouvidos que a publicidade do livro fora banida. Não quis acreditar pois não poderia conceber que os meus amigos Anguilaze e/ou Ponguana na nossa querida TVM fossem capazes de censurar o que quer que fosse! Fiz ouvidos de mercador e apesar de me ter encontrado varias vezes na SNJ com o Anguilaze, não o quis confrontar, porque acreditava na sua inocencia! E que não posso acreditar que existam jovens da minha geracao, formados e profissionais competentes que tenham a coragem de censurar uma obra, um trabalho de outro jovem! Ao invés de confrontar a realidade que me era apresentada, decidi eu próprio censura-la para não me decepcionar! Engoli em seco mas não liguei esse facto com outros. Cai de quatro quando no ultimo dia de Agosto vi uma ‘explicacao’ da TVM no jornal de ‘Noticias’! Uma explicacao que teve, pelo menos para mim, o perverso efeito de estar a confirmar que de facto ‘houve censura’!

Me enganara porque, na altura em que escrevia o meu artigo sobre a obra ‘Simango um homem, uma Causa’ de Ncomo circulavam em ‘surdina’ na Cidade de Maputo copias da obra. E me lembro ainda da cara de um amigo meu que tinha o livro debaixo da sovaqueira, mas preferiu fingir nunca ter ouvido falar do livro, para não se embaraçar diante do superior hierárquico!... Ri-me, mas uma vez mais não quis entender que existia uma lógica por detrás daquele gesto, irracional para mim, mas racional para o meu amigo e também para muitos patriotas!

Recordei-me ainda que logo que li o primeiro artigo sobre a Obra, publicado no Demos, tive a percepcao de que estava perante um acontecimento singular na historiografia moçambicana. Porque não conhecia o autor, liguei ao Demos para saber se seria possível obter uma copia da obra ou então falar com o autor. Uma voz feminina, doce mas suave, respondeu-me. Apesar da doçura da voz, a resposta ao meu pedido foi peremptória- não era possível nem obter a copia, nem falar com o autor pois a obra não estava ainda a venda e que ela não tinha o numero do autor. Achei estranho que uma secretaria de um orgao de informacao publico fosse tão seca, e mais ainda que não tivesse os números de telefone de um dos articulistas do seu jornal! Pedi para falar com o editor, e ela apesar de ‘carinhosa’ respondeu na sua cândida mas presunçosa voz ‘o editor não esta, volte a ligar amanha, se ainda estiver interessado! Da licença, se despediu! Embasbacado, resignei-me e desisti ...

Recordei-me ainda que ao mesmo tempo que ‘assinava’ a carta de resignacao, entrou uma chamada no meu cell. Tratava-se de um dos ‘conceituados’ comentaristas políticos da praça. Será desta que conseguirei o livro? Retorqui em surdina. Pedi ao meu amigo, por sinal com boas conexões ‘dentro do baralho’ para ver se dentro das suas influencias poderia conseguir uma copia da obra. No seu estilo característico tal amigo, garantiu-me que num espaço de horas conseguiria a obra. Não esperei horas, esperei semanas, ate que me apercebi que pura e simplesmente o meu amigo não tinha a obra. Não entendi porque e que ele não poderia assumir que não tinha a obra! Coisas da Maputo ou melhor da vida!. Mais tarde compreendi que do mesmo modo que para certas pessoas não ter sido convidado a reunião de quadros consistia um embaraco não ter tido acesso a obra significava para muitos que não se fazia parte do baralho! E que parece que ha pessoas que gostam de dar nas vistas como fazendo parte do baralho! O que e que se ganha com isso, não sei pois minha pobre cabeça não esta preparada para resolver equacoes exponenciais e muito menos derivadas! Mais um sinal de que algo vai mal na nossa sociedade1

Recordei-me ainda que dias depois deste incidente, para surpresa minha, entrei no gabinete de um grande amigo meu, por sinal bem colocado na hierarquia do ‘baralho’. Vi que seu semblante estava reluzente. Desconfiei que ele tivesse uma grande novidade para me anunciar. Habituado a estas ‘manobras’, fiz-me rogado! Não mostrei a curiosidade que me invadia o espírito e fui fazendo o jogo do meu amigo. Ele não aguentou com a ‘minha falta’ de curiosidade”: abriu a pasta que fazia questão em não deixa-la longe de si e disparou: olha o que tenho – era o famigerado livro! Saltei de alegria! Finalmente iria ter acesso a obra, exclamei. Pedi para ver, mas meu amigo optou por certificar-se que a porta do seu Gabinete estava hermeticamente fechada. Depois com um sorriso que mais parecia de um bebe, que acabava de descobrir um rebuçado nos bolsos, passou-me a obra. Li a capa e a contracapa. Dei umas dedadas na introducao e ... alguém bateu a porta!. O meu grande amigo saltou da cadeira, e sem me ter apercebido o livro jazia de novo na pasta guarnecida! Abriu a porta e voltamos a normalidade, carregados daquela cumplicidade que caracteriza os ‘tempos da censura’!

Terminada a conversa despedi-me. Fiquei horas e dias a fio a pensar naquele episodio. Fez-me recordar os anos de outrora quando menino. Eu era aluno na Escola Anexa ao Centro de Formacao de Professores Primários de Nicoadala. Deveria ter uns 10 ou 11 anos. Por descuido, sintonizei a Rádio Quizumba! Meu pai, zeloso cidadão e ciente do erro que cometera, chamou-me a parte depois de ter desligado o aparelho. Fez um discurso evasivo que me deixou cheio de medo pois deu para perceber que o velho nao tinha gostado da brincadeia! Aprendi a licao, e jurei não repetir a proeza. Mas, agora passados mais de vinte anos confesso, que de vez em quando ia escutando a famosa Rádio!. Não que entendesse la muito bem o que diziam mas como devem saber da sempre gozo saber que estamos fazendo algo proibido! Coisas da vida!

Não percebia bem naquela altura qual era o problema, mas quando o mais velho diz que não, primeiro se cumpre e depois e que se reclama! Nem que isso leve anos como e o caso vertente!

Fiquei, dizia eu horas a fio a tentar perceber as razoes que levariam a um alto quadro do partido no poder, uma pessoa que tinha um ranking invejável na nomenclatura ler em surdina um livro que dentro em breve seria publico! Achei ridículo! A minha racionalidade recusava-se a aceitar o que via e vivia! Ou seja porque tanto medo mesmo dentro da nomenclatura?

Não deveria eu ter percebido que a paz em que vivíamos era aparente, que havia muitos medos, e que o pais estava refém da sua própria historia recente! Não deveria eu ter percebido que o meu pais estava enfermo e que precisava de uma terrapia de choque? Não deveria eu ter percebido que todos, mas todos mesmo éramos vitimas de uma doença resultado de anos de guerra, censura, falta de liberdade, repressão etc etc etc? Não deveria eu ter percebido que o primeiro passo para a cura de qualquer doença e reconhecermos que estamos doentes! E que o segundo e irmos ao medico; E o terceiro e tomarmos a medicacao! Não deveria eu ter sabido que enquanto não nos dermos conta da gravidade da nossa doença, jamais estaremos curados porque recusaremos ir ao medico e por consequência não tomaremos a medicacao!?

Recordei-me ainda que enquanto varria as ruas de Maputo para conseguir uma copia da obra, eis que um amigo, por sinal jornalista de renome na nossa praca, disse-me que tinha a obra. Não me fiz de rogado e pedi a obra. Na primeira tentativa disse-me que ‘nao valia a pena’, pois na sua óptica o livro por-me-ia ‘zangado’! Não percebi na altura porque e que aquele amigo achava que eu ficaria zangado lendo a obra! E mais na altura achei-o arrogante por se dar ao direito de julgar-me a revelia e a priori! Não insisti. Deixei-o a vontade. Mas não poderia resistir a tentacao. Volvidos dias pedi de novo, e desta vez obtive a obra, claro não sem antes me ter dito que tinha 48 hrs para devorar a obra, pois havia uma bicha infindável. Foi ai que soube que havia uma bicha de intelectuais incluindo ministros, secretários permanentes, directores nacionais, editores, jornalistas a espera! E que a única forma de obter a obra era por ‘cunhas’ numa cumplicidade que ultrapassava a minha racionalidade e a promessa de ler o livro em tempo recorde.! Comecei a ler o livro por volta das 20:00 e ao amanhecer ja o tinha devorado! Liguei a pessoa a seguir na enorme bicha e este por sorte não estava disponível pois iria viajar. Assim, tive tempo de sobra para furar a bicha e deixar que meu pai a saboreasse a seu bel prazer sem a maratona que tive de fazer ate que o meu amigo re-aparecesse.

Não deveria eu ter sabido que quando decidi publicar o artigo sobre o livro de Ncomo alguns amigos a quem dei o prazer de saborear o artigo disseram-me premptoriamente que o artigo não seria publicado! E que me haviam garantido que tanto a obra como o artigo jamais seriam publicados em Moçambique?! Que ate ‘inventaram’ uma estratégia que o ‘sistema’ arranjaria para confiscar as copias?!

Enganei-me porque eu tinha quase a garantia de que o meu artigo seria, no mínimo, publicado no semanário Zambeze ou no Savana. O que eu não tinha a certeza era se seria ou não publicado no Noticias ou no Domingo. Contudo porque queria publica-lo no dia do lançamento da obra, a única opcao para mim era o Noticias. Meus amigos riram-se na minha cara chamando-me nomes pois achavam que eu estava a sonhar demais. Deveria estar a delirar e que não deveria estar a viver no pais real! Que os anos de exílio haviam destrocado minha visão sobre o pais etc etc etc. Apesar destes avisos a navegacao decidi avançar. Liguei ao Noticias e me disseram para enviar o artigo. Enviei-o e aguardei... Não quererão imaginar a cara dos meus amigos quando lhes mostrei uma copia do ‘Noticias’ com o meu artigo!! Não quiseram acreditar! Foi essa incredulidade que me fez acreditar que eu estava certo, e que meus amigos estavam errados! Mas como se pode ver a minha certeza era apenas um desvio a regra, para tristeza minha! Que a publicacao do meu artigo pode ter-se devido a uma falha no sistema, a mesma falha que deixou que a publicidade do livro de Ncomo fosse transmitida!

Recordo-me ainda que na manha seguinte a primeira chamada que recebi foi a de Ncomo, o autor do livro, que conhecera a escassos dias, a felicitar-me pela publicacao do artigo.

Recordo-me ainda da ‘chuva’ de telefonemas ‘amigos’que se seguiram, uns a congratular, e como era obvio, outros a alertar-me de que estava a pisar o risco. Alguns amigos fizeram questão de informar que eu ultrapassara o risco! Outros ainda imploraram que eu deveria parar de escrever se queria continuar vivo! Interessante foi a chamada de um amigo que me perguntou porque e que eu estava a cometer suicídio! Confesso que não entendia meus amigos! Ficava perplexo com tanta preocupacao a volta de um simples artigo!

Recordo-me ainda que para meu ‘alivio’ momentâneo alguns amigos, e ate alguns de dentro do baralho’se mostravam indignados pelo facto de o artigo ter sido publicado na ‘pagina dos leitores’. ‘Como e que um artigo como aquele sai na carta dos leitores? Se fosse meu, remataram, mandava parar a publicacao da segunda parte!. Ri-me por dentro pois imaginava as voltas que o artigo deve ter dado para ver a luz do dia!..
Lembro-me que perante tal conselho apenas ’encolhi os ombros’e retorqui – ‘A carta dos leitores e para o povo, e eu sendo parte do povo anonimo ate sinto-me orgulhoso de publicar no local que me e destinado, onde estarei na companhia dos meus. Afinal de contas quem sou eu para exigir paginas de destaque?

Lembro-me ainda que das varias chamadas recebidas, algumas queriam saber como e que eu conseguira ‘furar’o ‘Noticias’. Na altura não entendia bem o que e que queriam dizer com ‘furar’ na semântica politica e social moçambicana. Mas agora compreendo pois alguns pássaros ‘fofoqueiros’ me informaram que a publicacao do artigo no ‘Noticias’ não fora pacifica!

Lembro-me ainda quão feliz estava eu com a publicacao do artigo, pois conseguira o meu objectivo principal: publicar o artigo no dia do lançamento do livro naquele que alguns observadores da praça consideram de ‘bastiao da puridade ideológica do partido no poder’. O que eu não sabia era que aquele poderia ser uma excepcao e não a regra!

Enquanto raciocinava sobre Inhaminga, vieram-me a memoria alguns trechos anteriores que poderiam ter-me alertado sobre a aparente paz em que vivíamos.
Recordei-me que quando estava ainda em Londres, quando publiquei um artigo dando a minha singela opinião sobre a ‘racionalidade’ da derrota do então Primeiro-Ministro Dr. Pascoal Mocumbi ao cargo de Director Geral da OMS, fui informado que um alto dirigente havia ligado ‘querendo saber’quem e que me mandava escrever, como se eu não tivesse cabeça para pensar!. Na minha ingenuidade académica, estava eu convencido que estava a assumir uma atitude patriótica ao por o dedo na ferida com o objectivo de mostrar os ‘handcaps da campanha’, uma campanha que perdemos e ao perder não so perdemos o dinheiro do erário publico usado para tal campanha como perdemos parte do nosso prestigio nacional! Portanto, pensava eu que era importante tirar as ilacoes do processo para que não os voltássemos a cometer em candidaturas próximas! Enganado estava eu! Fui bombardeado com mensagens via sms bem como emails. Na altura confesso que não entendia o que se estava a passar pois alguns amigos chegaram a perguntar-me se eu decidira pedir asilo politico. Ou se havia decidido nunca mais pisar o solo pátrio1 Confesso que na altura ri-me! Mas agora parece ter compeendido a lógica de meus amigos!.

Recordo-me ainda da interessante conversa que tive com o Emílio Manhique da RM, que no seu jeito característico e meio gozao perguntou-me ‘Araujo, sabes que enquanto Mocumbi estiver no poder não terás emprego em Moçambique? Fiquei boquiaberto. Primeiro porque fiquei sem saber se estava a brincar ou não. Segundo fiquei sem saber se se tratava de um recado ou não. Mas o mais interessante era um misto de curiosidade pois gostaria de saber quem e que havia dito ao Manhique que eu andava a procura de emprego! Em todo o caso agradeci o aviso e encolhi os meus ombros!

So que para surpresa minha, voltidos escassos meses ja Mocumbi não era Primeiro Ministro, o que deve ter trazido algum alivio ao meu amigo Manhique, pois finalmente ja ‘podia apanhar emprego, pois Mocumbi ja não era Primeiro Ministro!.

Recordei-me ainda de um caso interessante, aquando da morte do meu ex-professor de Historia Universal e de Filosofia, Dr. Raul Honwana. Incidentalmente estava na capela o Dr. Mocumbi, e a maior parte dos meus amigos sussuravam: ja te encontraste com o teu amigo? Atónico fiquei pois que saiba nunca fui amigo nem inimigo de Mocumbi. Conheci-o como meu superior hierárquico quando era Ministro dos Negócios Estrangeiros e eu militava na Associacao de Estudantes (AERIM) no ISRI. Coisas interessantes da vida social do meu pais.

Recordei-me ainda que amigos meus quando me querem apresentar a pessoas que por forca do ‘exílio’ não conheci afirmam premptoriamente – este e o autor do artigo sobre a derrota de Mocumbi! E quase que invariavelmente segue-se um –ah, ok! E tiveste coragem de vir ao pais? Normalmente não respondo! Porque a minha presença, acho eu, e a melhor resposta!


Depois deste roteiro todo deixem-me voltar a questão e base. Quem ganha com Inhaminga? Quem ganha quando manchamos a imagem do pais, afugentando os investidores estrangeiros que tanto precisamos? Quem ganha quando amordaçamos jovens patriotas? Quem? Quem ganha mentimos a nos mesmos? Agora que nos aproximamos do 4 de Outubro não seria altura para repensarmos num ‘Movimento Pela Paz? Quem ganha quando ‘matamos o imperativo de pensar diferente? Quem ganha quando desligamos o motor da inovacao?
Não tenho respostas apenas sei que perco eu, perde a minha geracao, perde o meu povo e perde o meu pais! Quem ganha com tantas PERDAS?

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