Wednesday 8 August 2007

30 anos depois-Mocambique quovadis? Ou seja uma Radiografia ao pais real !

Dedico este artigo ao Prof. Dr. Lourenco do Rosario - A minha prenda pelos 30 anos de Independencia!

Desta vez escrevo do Mocambique B ou se quiserem do Mocambique dois. B porque este Mocambique de onde vos escrevo difere sobremaneira do Mocambique A ou 1, se quiserem. Dou-me a veleidade e quica a arrogancia e atrevimento de emprestar um termo usado por aquele que por merito proprio e sem escovismos veio substituir Brazao Mazula, como referencia obrigatoria da nossa academia. Se nao para todos pelos menos para mim! E que ha ja bons meses que me sentia orfao, e sem ponto de referencia, desde que Brazao Mazula decidiu dar um tiro nas suas proprias credenciais politico-academicas! Estou a falar da figura do mediatico Prof. Dr. Lourenco do Rosario. Este ilustre academico, numa entrevista singular, na TVM disse ha dias coisas que muita gente nao tem ‘ a coragem de dizer’ pelo menos em publico ou seja tirou a pele de politico e usou a de um academico comprometido com a verdade. Um academico que diz aquilo que pensa, independentemente das consequencias que dai advierem! Para quem o quis ouvir, Do Rosario disse muito mais do que disse naquela singela entrevista. Nesta pequena cronica nao poderei dizer tudo o que ouvi. Vou apenas singir-me a uma ou duas coisas. Inter alia, ouvi-o dizer, se e que nao imaginei ouvi-lo dizer que ‘ este pais funcionava a duas velocidades’ . Uma afirmacao profunda e cheia de significados vinda de quem veio. Uma afirmacao que nos deveria levar a um debate serio sobre a problematica das assimetrias regionais. Uma afirmacao que pode ser interpretada de muitas formas de acordo com a formatacao intelectual de cada receptor. Uma afirmacao susceptivel a varias interpretacoes. Algumas ate que podem diferir do contexto original em que o autor as proferiu! Mas uma vez ca fora, e porque a linguagem oral nao se apaga, tais palavras tem o direito de serem interpretadas e de evoluir na direccao em que elas quiserem, pois as palavras ditas, e expelidas ca para fora sao como um filho, que uma vez gerado, uma vez ca fora nao podemos faze-lo voltar as entranhas da progenitora, e muito menos limita-lo nos sonhos e voos que ele decidir dar! Dai que dou-me a veleidade de na minha pobre imaginacao afirmar que na minha acepcao o pensamento do digno douto apesar de profundo e serio estava incompleto e pecava pela simplicidade. Mas nao e por pecar pela simplicidade que o valor de tal afirmacao perde a sua forca. Pelo contrario! Ela permite-nos divagar e raciocinar ate onde nossa imaginacao poder! E ai esta o merito do Prof. Dr. Do Rosario! Ai esta o merito de um academico-gerar ideias controversas que nos levem ao debate da nossa situacao.

A complementar o raciocinio do douto senhor, na minha modesta opiniao Mocambique nao funciona apenas a duas velocidades. Mocambique, como um carro normal e moderno funciona a seis velocidades. E para demonstrar o meu raciocinio, deixem-me deleitar-vos com um passeio as pais real, atraves de uma viagem fruto das minhas recentes investidas as entranhas do Mocambique real. Explico-me.

Levo na minha bagagem como premissa basica o facto de para mim existirem seis Mocambiques, mas para nao ferir a unicidade do Estado mocambicano plasmado na Constituicao Mocambicana, direi nao que existem seis Mocambiques mas que existe um e apenas um Mocambique (uno e indivisivel) que funciona a seis velocidades. E mais polite e acima de tudo e mais politicamente correcto! Mas mesmo assim sem o dizer ficou a ideia!

Assim sendo, no meu mundo imaginario na primeira velocidade funcionaria o Mocambique urbano, no qual fazem parte as Cidades de Maputo e Matola. Estas Cidades apesar de degradadas e em continua ‘ruralizacao’ (excepcao seja feita a Polanashield) parecem estar a ressurgir do marasmo a que estavam submetidas como consequencia da guerra, ma gestao, invasao dos deslocados, ma planificacao centralizada e outros males sociais. Estas duas urbes nao so beneficiam dos espolios provenientes de todo o pais, seja humano, financeiro ou material, como tambem, se incluirmos seus arredores, atraem e consomem qualquer coisa como dois tercos do investimento directo estrangeiro! Tem o maior parque industrial do pais,as maiores e melhores universidades (mais de oito), tem as sedes dos tres poderes: o governo, o parlamento, o judicial, tem as representacoes diplomaticas e como se isto nao bastasse sao vizinhas da unica potencia regional, a Africa do Sul.

E para estas cidades que toda a riqueza humana, material e financeira desagua. E aqui que todas as empresas do grupo A, independentemente da sua localizacao no territorio nacional pagam seus impostos, depositam seus lucros e fazem seus emprestimos para novos investimentos. E mais todo o jovem que termine o decimo segundo ano, ou o ensino tecnico profissional tem apenas um sonho: ir a Maputo/Matola porque e la que se situa a possibilidade de sonhar, a possibilidade de ascender na vida social, profissional e academica. Estas duas Cidades sao se quisermos o coracao e o sangue do pais. Coracao esse que em tempos remotos pertencia ao mocambique B, comecando pela Cidade da Beira e Matola equivalente, a Cidade de Dondo!

Na segunda velocidade estariam algumas urbes provinciais. Nesta categoria militariam em primeiro lugar a Cidade de Nampula, em segundo a da Beira e a Cidade de Chimoio. A Cidade de Nampula como que por milagre divino faz parte das tres Cidades do pais que conseguiram acordar do marasmo. As outras sao Chimoio e Pemba. Chimoio por influencia dos farmeiros e homens de negocio zimbabweanos bem como da tolerancia do meu amigo ex-sindicalista Soares Nhaca e Pemba por influencia do turismo e ha quem diga, tal como Nampula por serem parte do famigerado ‘corredor da droga’. Porque Nampula floresce a Beira desmorece ainda nao sei explicar, apesar de ter ja em maos algumas hipoteses de trabalho.

Na terceira velocidade, encontramos as Cidades de Pemba, Tete, Cuamba e Nacala. Pemba rejuvenesce pelo potencial turistico bem como pela introducao de algumas faculdades/cursos sendo a destacar a Gestao de Turismo e Informatica. Cuamba ao que parece pela introducao da corajosa decisao do Padre Couto e da sua Universidade Catolica em abrir uma Faculdade de Agronomia. Tete parece nem subir nem descer e Nacala parece refem da incapacidade dos novos gestores do Corredor de Nacala de acordarem aquele gigante adormecido!

Na Quarta velocidade, encontramos as cidades rurais- Lichinga, Inhambane, Xai-Xai, Mocuba, Dondo etc.. Estas parecem nao ter nada a dizer. Continuam o seu sono e decadencias profundos. Lichinga apesar da aposta dos Suecos continua impavida no seu lugar e parece nao estar a sentir-se incomodada pela passagem barrulhenta do comboio ou barco da globalizacao. Xai-Xai recuperou de maneira magnificente das cheias de 2000, mas continua longe de ser polo de desenvolvimento! Mocuba, morreu de morte programada! Esburracada, humilhada e abandonada a ex-cidade continua sua marcha rumo a total ruralizacao da urbe. Dondo teima em andar apesar de lhe terem amputado as pernas!

Na Quinta velocidade temos o pais real, que por sua vez pode subdividir-se em muitas subvelocidades!
E esse pais real que ainda nao tem vos. Ainda nao e representado no parlamento e muito menos no governo! Carece de escolas, de hospitais, de medicos, de enfermeiros. Mas mais do que tudo isso carece de cantinas, o tal motor que podera revolucionar o mundo rural mocambicano.

No computo geral as Cidades da Beira e Quelimane sao a Sexta mudanca, ou seja a retaguarda. Estas duas cidades parecem ser aquelas que ao nivel do pais se ruralizaram mais. Perderam o seu ar de graca, bem como o espirito citadino! As empresas que deveriam sustentar a emergencia de uma burguesia e elites locais faliram ou foram falidas. As elites demitiram-se do seu papel e desapareceram e em seu lugar surgiram pequenos funcionarios publicos ligados a nomenklatura que despedacam e distribuem entre si os parcos espolios das empresas estatais entao existentes, e com esses parcos recursos vao investindo a sua riqueza em tascas ou entao em mais amantes!

Como dizia meu amigo Daniel da Costa, nestas duas Cidades a Cultura, aquele sol que nunca descia, ha muito que desceu! Ja nao ha eventos nem espacos culturais de referencia, as salas de cinema viraram lanchonetes, as respectivas marginais, onde jovens ensaiavam seus primeiros passos edilicos, foram transformados em locais onde verdadeiras matilhas namoram em pleno dia, as ruas viraram mais buracos do que estradas, os portos viraram centros de exportacao de toros de madeira e as almas destas duas cidades encontram-se literalmente escancaradas. E impressionante ver o nivel de degradacao social nestas urbes. E impressionante ver quantas jovens que deveriam estar nas escolas se dedicam em pleno dia a prostituicao! E impressionante ver nestas duas urbes quantos jovens passam o dia nos respectivos chungamoios ou entao sentados o dia todo vendendo seus sonhos ao ddesbarato! E impressionante ver como estas duas urbes deixaram de sonhor!

A unica diferenca entre estas duas urbes reside no facto de a Beira parecer estar a recuperar do seu passado recente de cidade morta, fruto da introducao de uma nova administracao municipal jovem, profissional e dinamica bem como a introducao recente de tres universidades: A Catolica, pioneira, a UP e a Faculdade de Direito da UEM. Em Quelimane, Dondo, Mocuba ou Gurue fazem faltam estes condimentos: administracoes municipais que nao decidem com base nos suspiros de Maputo, uma faculdade publica de economia, direito, agronomia ou jornalismo. Gostaria um dia de perceber se estas cidades auto-ruralizaram-se ou entao se foram deliberadamente ruralizadas!

Ora cada uma destas velocidades necessita de uma estrategia de desenvolvimento diferente. Uma estrategia baseada nas percepcoes dos agentes e das elites locais. Para isso urge a necessidade de as Assembleias Municiapis deixaram de fazer politica partidaria para passarem a fazer politica municipal! E preciso que os parlamentares municipais de Quelimane, Dondo, Mocuba, Gurue, por exemplo deixem de se degladiarem porque uns pertencem ao partido X e ou ao partido Y, e passem a discutir os reais problemas destas urbes! E preciso que os presidemtes municipais desliguem as fichasas que os ligam a Maputolandia, e trabalhem com as elites locais naquilo que sao as prioridades. E preciso que se reforme as Lei das autarquias, para que permita que empresas do grupo A e outras paguem parte dos seus impostos ao edil municipal da regiao onde se encontram! E preciso que se criem Centros de Promocao de Investimento nos municipios. Enfim precisa-se de uma nova utopia uma DESCENTRALIZADA E RESPONSAVEL! Senao Sera ‘ papo furado’ falar de democracia em Mocambique! Poque se democracia nao trouxer desenvolvimento, o povo optara pela ditatura! Perguntem aos Alemaes no tempo de Hitler! E que com este gatinhar o nosso Hitler podera nao estar muito longe!

Mocambique deveria orgulhar-se de ter filhos da categoria do Prof. Dr. Lourenco do Rosario! E porque estamos em semana da celebracao dos 30 anos da nossa utopia independentista permitam-me que vos ofereca este cidadao como minha prenda!

E mais nao disse!

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