Friday, 21 November 2014

Da (Re)lembraça do Max Love ao direito à indignação, Por Luis Nhachote em Quelimane




Faz hoje um ano que o jovem músico, Max Love, foi assassinado nesta cidade por um dos guardas da segurança do governador Joaquim Verissímo, quando celebrava, junto com parte de vós aqui presentes, a reeleição do edil Manuel de Araújo, para a condução do destino colectivo de Quelimane e de todos que nela residem.
Na condição de observador dessas eleições autárquicas, eu encontrava-me nesta cidade para aferir o grau participativo, os números e civismo com que as mesmas decorreram.
No dia 21 de Novembro de 2013, no calor da vitória que levou a maioria dos municipes às ruas nessas celebrações, eu estava sentado algures, numa internet café, quando uma SMS entrou no meu celular dando conta do assassinato do Max Love. “Mataram um jovem cantor em frente da residência do governador” dizia a mensagem!
Apesar do destino não ter convergido para que nos conhecessemos em vida, os valores nobres e universalisados do direito a vida, não me permitiram que ficasse estático na “internet café”. O homicidio voluntário qualificado é um crime previsto e punivel nos termos do código penal vigente no país que conheço e a declaração universal dos Direitos Humanos, consagra o direito a vida.
Por isso, tomei o primeiro taxi-bicicleta que me apareceu em frente e fui de imediato ao local aonde o crime tinha acontecido, meia horas antes da minha chegada nesse local onde ainda fervia à indignação popular, parte dos guardas do governador da província, impedia aos municipes de continuarem a marcha, quando o corpo de Max Love, sem vida, dava entrada no Hospital Provincial de Quelimane.
Fazendo uso do crachá que me tinha sido facultado pelos órgãos de administração eleitoral, exibi-o aos guardas para que permitissem a minha passagem pelo local onde os algozes, quais vampiros sedentos de sangue, tinham, com as armas do totalitarismo e da arrogância, posto fim a vida de um cidadão nacional que escolheu Quelimane como lugar para se estabelecer.
Seu único crime: celebrar a vitória da oposição e do seu canditado. A mais prova cabal da intolerância política, criava este “mártir” dos dias difícies da consolidação da nossa perene democracia!
Chegado ao hospital, pude ler nos olhos dos presentes, o sentimento de revolta, contida na raiva em hibernação...
Mataram Max Love. Assassinaram Max Love.
Uma parte de todos nós também foi “assassinada” naquele fatídico dia 21 de Novembro.
É essa parte de nós “assassinada” que pretendemos resgatar aqui, nesta homenagem ao jovem cantor.
Como resgatamos essa parte de nós que também foi um pouco “assassinada”?
Resgatamos exercendo na plenitude o direito à indignação, ao protesto formal, junto as autoridades competentes.
Ninguém deve ficar impune aos crimes de homicídio voluntário, sobretudo quando o rosto do “assassino” foi identificado.
Soube que os autos foram abertos e um processo foi então instaurado. Soube também, que o responsável directo deste crime a todos os títulos condenável, foi “afastado de circulação”.
É por isso então urgente, que como cidadãos protegidos pela mesma lei mãe, a nossa Constituição da República, nos erguamos.  
Se a Procuradoria Geral da República, entidade conhecida como advogada do Estado – e dos seus cidadãos – e garante da legalidade já remeteu a acusação ao tribunais compententes então o criminoso deve ser julgado seja ele quem fôr.
É preciso que petições sejam escritas e assinadas e entregues a outras entidades, tais como a Liga dos Direitos Humanos, ao Concelho Constitucional, ao Ministério da Justiça, ao Tribunal Supremo, denunciando a apátia da justiça na resolução deste caso, que infelizmente não trará de volta o Max Love, mas que de certeza irá sementar o direito a dignidade pela vida.
É verdade que a expressão mais alta da “insensibilidade”  ao assassinato de Max Love, veio da parte do nosso mais alto magistrado da Nação, que a 7 de Abril, ignorou o minuto de silêncio solicitado pelo Presidente da Autarquia de Quelimane, Manuel de Araújo, aquando da celebração do 7 de Abril (Dia da Mulher Moçambicana), num comício popular que teve lugar na Praça dos Heróis Moçambicanos em memória do jovem músico Max Love.
Mas isso não nós pode fazer vergar de exigirmos, todos os dias, que a JUSTIÇA SEJA FEITA.
Desafio a todos os presentes, a criação da Associação dos Amigos do Max Love, uma agremiação que poderá servir como meio de pressão para a resolução deste caso e de tantos outros anónimos que teimam em perdurar na consolidação de um verdadeiro Estado de Direito e Democrático, onde ninguém esteja SENTADO em CIMA DA LEI!

Muito obrigado
Luis Nhachote,
Quelimane 21 de Novembro de 2014

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