Monday, 16 July 2012

A Opiniao de Armando Cuna!

O clã Simango



Não concordo com Ericino Salema quando afirma que “o MDM parece ser mais

uma organização familiar. Não um projecto nacional… Tudo se resume ao clã

Simango. Tenho algumas dúvidas que se faça política com família”. Clã

porquê? Por estarem a militar na mesma organização Lutero e Daviz? Ou por

ambos terem funções de responsabilidade no partido?



Tomás Salomão-João Mário Salomão; Luísa Diogo-Vitória Dias Diogo; António

Sumbana-Fernando Sumbana são irmãos que foram Ministros de um mesmo governo

e nunca ouvi ninguém a rotular a Frelimo de ser clã dessas famílias.



Li com muita atenção a longa e interessante entrevista que Ericino Salema

concedeu ao jornal Canal de Moçambique do dia 04 de Julho de 2012.

Interessante sobretudo pela profundidade que ele dá às respostas a algumas

questões que lhe foram colocadas.



Tal como em qualquer boa entrevista, há respostas com as quais

imediatamente o leitor com elas se identifica.



Concordo plenamente com Ericino Salema quando observa para a necessidade de

o Chefe de Estado ser mais tolerante com a opinião diferente da dele. O

nosso Chefe de Estado não pode passar a vida a chamar nomes feios

(“tagarelas”, “distraídos”,etc.) a todos quantos não estejam de acordo com

ele.



Acima de tudo ele é homem sujeito, por isso mesmo, a que outros homens não

concordem com ele. Por razões várias. O facto de nem sempre eu estar de

acordo com ele não me converte num “tagarela” nem faz de mim uma pessoa

“distraída”.



Concordo com Ericino Salema quando afirma que “a actuação da esposa do

senhor Armando Guebuza, a primeira-dama, é um perigo para a democracia.

Temos uma primeira-dama que já apareceu em público, isso gravado pelas

próprias câmaras da TV, a dar ordens a Administradores Distritais, a

Governadores Provinciais sobre como devem agir num e noutro assunto”.



Concordo com estas e muitas outras partes da entrevista.



Ganho o dia sempre que leio pronunciamentos assim, principalmente de

pessoas jovens. É sempre para este estado de alma que me empurram, por

exemplo, as brilhantes intervenções de Salomão Moyana e de Tomás Viera

Mário no programa “Pontos de Vista”, da STV. A sua ousadia nessas

abordagens convence-me sempre de que não há nenhuma Pátria construída com

base em opiniões de pessoas medrosas e apenas preocupadas com o

politicamente correcto. A grande América chegou onde está hoje, respeitando

a diferença.



Já não concordo com Ericino Salema quando afirma que “o MDM parece ser mais

uma organização familiar.



Não um projecto nacional…



Tudo se resume ao clã Simango. Tenho algumas dúvidas que se faça política

com família”. Clã porquê?



Por estarem a militar na mesma organização Lutero e Daviz? Ou por ambos

terem funções de responsabilidade no partido? Tomás Salomão-João Mário

Salomão; Luísa Diogo-Vitória Dias Diogo; António Sumbana-Fernando Sumbana

são irmãos que foram Ministros de um mesmo governo e nunca ouvi ninguém a

rotular a Frelimo de ser clã dessas famílias.



É uma completa aberração Ericino Salema duvidar de que se faça política com

família.



Porque é que não? De onde é que ele foi tirar esta ideia? Só pode ser de

detractores do MDM. O mundo está cheio de famílias inteiras que se envolvem

em política sem nenhuns problemas decorrentes disso.



A América tem os Kennedys e, mais recentemente os Bushs. A Índia tem os

Gandis. Muito recentemente Portugal teve o Miguel e o Paulo Portas. Três

dos quatro filhos de Zulficar Ali Bhutto (Benazir Bhutto, Mir e Shaw

Nawaz), Primeiro-Ministro do Paquistão derrubado por um golpe de Estado

conduzido por Zia-ul-Haq e mais tarde enforcado, estiveram intensamente

envolvidos em política.



À política, existem pessoas que lá vão parar por opção. Na gestão dos

Estados, há crimes graves que se cometem sobre pessoas.



Desses crimes, muitas vezes há sobreviventes a quem se deve pedir

desculpas, pelo que aconteceu.



Os fortes, são magnânimos e têm a coragem de darem esse passo. Foi o que

fez o Papa João Paulo II quando pediu desculpas aos Judeus pelos crimes

cometidos há séculos atrás pela igreja católica. Teve a nobreza de assumir

esses erros e pedir desculpas aos sobreviventes das famílias afectadas.



E isso não fez dele uma pessoa pequena. Pelo contrário.



Zulficar Ali Bhutto morreu enforcado, às escondidas, por Zia ul-Haq seu

Chefe de Estado-Maior, depois do golpe de Estado. Esta situação não deu

escolha nem à viúva, nem aos filhos. O destino empurrou os três irmãos a

baterem-se por um Paquistão mais justo e a exigirem justiça pelo

assassinato do pai. Justiça e não vingança.



As pessoas que executaram (o termo correcto é assassinaram), às escondidas,

os pais de Lutero e de Daviz, nunca se mostraram arrependidas pelo que

fizeram. Apesar de na altura existirem tribunais, continuam a pensar que

fizeram bem em ter feito todas aquelas coisas na calada da noite e não se

sentem, por isso mesmo, obrigadas sequer a devolver os corpos dos

executados à família.



Canal de Moçambique – 11.07.2012

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