Tuesday 4 October 2011

Recordando o General! A Opiniao do Mano Melo

Elegia a um homem de diplomacia inata Estavamos no longíncuo ano de 1975, quando tive o primeiro embate ideológico contigo. Discutiamos um qualquer aspecto, de que eu tinha uma idéia própria e o meu pai com um olhar severo, admoestou-me, porque estávamos em face de alguém, para ele, de quem não se devia contrariar. Tempos depois, em plena estrada, bem próximo das antigas oficinas do Patricio & Filhos, encontramo-nos, e por iniciativa tua, pões na mesa, ou melhor, no passeio a discussão sobre o fuzilamento acabado de acontecer, e perguntavas-nos qual era a nossa opinião. Sem papas na língua, sem heroicismo, mas com a ingenuidade própria da rebelião dos meus frescos 20 anos, lá vou eu lampeiro, desfilando a minha opinião, contrariando toda a teoria que ias desnovelando, contra os temores dos meus colegas, ao redor, porque na época áurea da Revolução, estava fora de hipótese, contrariar qualquer Governador. Singularmente, Bonifácio Gruveta Massamba, na vez de inimigo, tornou-se, contra todas hipóteses, um grande amigo. Amizade, que não obstante a diferença de idades, fomos cimentando, de tal jeito que passamos a ter momentos sérios, alegres, de farra e de grande intimidade. Parece que te oiço agora dizeres-me: sabes, algumas pessoas perguntam-me com é possivel nós sermos amigos, se sempre privei com o teu pai. E logo depois, o teu riso. Bonifácio Gruveta, homem, simples, afável, com uma capacidade incrível de ouvir. Recordo-me que não houve dia nenhum, que fosse à tua casa em Quelimane, que não estivesse alguém para pôr o seu problema, esperando de ti, um conselho, uma opinião, uma solução. A modéstia, que te era inata e peculiar, fez com que não aceitasses o nosso reiteirado pedido de registarmos os teus feitos, na luta armada. Infelizmente, para nós e para história, quando depois de muita insistência acedeste e... já era tarde demais. Mas do pouco que disseste naquela noite de ânsia da nossa parte, eu e o nosso amigo, tremiamos de emoção, assutamo-nos com a dimensão dos factos relatados por ti, como se de nada fosse. Gruvas, eu admirava em ti, o teu sentido de futuro, o teu ser diferente, tu um político de gema, que aceitava as outras opções e convivia com elas, e por isso algumas vezes mal interpretado, e nem por isso deixaste de fazer. Comigo, sabendo-me apolítico, sempre respeitaste a minha opção. Nesse processo, acabei aprendendo no teu pragmatismo, que entre o ódio e o amor há muitos mais sentimentos, e belíssimos, do que podemos imaginar. Bone, como muitos te chamavam, homem de trato fino, apesar de muito pouca instrução académica, e nunca escondeste isso, mas de uma cultura de invejar e que sabia estar convinientemente em todos ambientes. Homem de fortes convicções, mas que as expressava suavemente. Voluntarioso, simples, disposto a fazer qualquer coisa para ajudar. Recordaste quando do desaparecimento físico da minha tia e tu chegares e dizeres-me, o que vais fazer? Então eu vou fazer isto! Um General ir tratar de um assunto de burocracia pessoalmente, sem mandar interposta pessoa?! Fiquei pequenino. General, a minha vénia muito especial, pelos teus feitos com pequenos anónimos sem condições, aos quais pagaste estudos, alguns deles, hoje doctores; e sem nunca disso teres feito alarde. General, vergo-me perante ti, pela tua generosidade em perdoar, rendo-me pela tua capacidade de fazeres amigos. Não era fácil estar contigo num restaurante, quer no Maputo, quer em Quelimane, e manter-se o mínimo de privacidade, porque quem entrasse, fazia sempre questão de te cumprimentar. E tu, General, sempre disponível e afável. General, adorava a tua forma alegre de estar na vida. Não dispensavas uma alegre risada, e quando possível uma sonora gargalhada. Só os autênticos. Meu grande e saudoso amigo, eu munhânhwua, como me tratavas, não tenho a pretensão de retratar-te, posto que pela tua dimensão, não cabes na minha máquina, apenas um pretesto para te dizer: até sempre!

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