Thursday, 8 September 2011

Dança tradicional em vias de extinção em Lugela


  
Texto: António de Almeida
Foto: António de Almeida


Se por um lado a globalização trouxe algo de bom, por outro está a desmoronar o mosaico cultural em várias partes do globo terrestre e principalmente na África que se tornou num continente de experiencias modernas e Moçambique faz parte de uma África experimental.
A província da Zambézia já foi um grande bastião da cultura moçambicana, onde todo o mundo vinha colher dela a cultura de um povo, mas hoje, nem se quer sobra um museu que possa dignificar a província da Zambézia. Essa abordagem faz parte de um resultado de uma entrevista feita no distrito de Lugela, no posto administrativo de Namagoa, onde nos tempos se praticava uma dança tradicional muito concorrida e denominada Essequere, segundo um ancião da comunidade e pastor da Igreja do 7º dia, Gonçalves Bernardo Suate.


A dança é praticada por um grupo misto, composto por homens e mulheres, onde fazem uma roda humana e as pessoas dançam no meio da roda, onde entram aos pares para a devida representação.
A dança tem como objectivo, animar festas familiares como casamentos e outros rituais, bem como serve para invocar os espíritos dos antepassados nas cerimónias tradicionais, mas nunca foi usada para os rituais de iniciação.
Entretanto, esta dança está em vias de extinção por não estar a ser praticada, tudo porque os mais velhos acreditam que os jovens de hoje preferem danças bem mais modernas em detrimento da dança essequere. Um outro ponto que leva a dança a não ser praticada, é a falta de instrumentos harmónicos que contribuem para que seja criado o ritmo para que as pessoas se movimentem dançando. 
Neste caso, algumas pessoas no posto administrativo de Namagoa, reconhecem que muitas das vezes não é a falta de instrumentos, mas as pessoas ficam estacionárias em busca de ajuda para aquisição de instrumentos que elas próprias podem fabricar para que tal ritual não se extinga. Para outras, o governo não tem politicas culturais localizadas capazes de desenvolver o mosaico cultural.
Esta abordagem foi feita a partir do princípio que tais instrumentos são muita das vezes compostos por um almofariz, paus, e a indumentária não tem tanto rigor e pode-se usar roupas quaisquer.
Entretanto, Gonçalves Bernardo Suate, ancião entrevistado pela nossa reportagem, reconhece que neste momento, só o posto administrativo de Namagoa pratica tal dança, mas sem muita frequência, o que pode estar na origem da extinção da referida dança tradicional.
A província da Zambézia tem vindo a registar um forte crescimento de músicos locais, que deveriam explorar mais os ritmos tradicionais para enquadrarem as suas líricas e contribuir para a evolução dos ritmos tradicionais como uma identidade.
O que acontece é que não se sabe ao certo quais os ritmos musicais tocados pelos músicos da nova geração.
Todavia, procuramos conversar com alguns jovens da nossa província, sobre essa falta de investigação, ao que responderam que faltam de meios para se fazer uma pesquisa aprofundada, para que se adquira profundo conhecimento sobre os ritmos tradicionais. Os jovens acreditam que não é tão fácil assim tocar com perfeição ritmos tradicionais, se o que se pretende é valorizar a identidade dos zambezianos.
Para os músicos, não existe nenhum apoio por parte das autoridades culturais, como forma de impulsionar as investigações rítmicas. Para os entrevistados, eles nem se quer acreditam que o sector da cultura esteja a fazer algo que possa contribuir para o enriquecimento do mosaico cultural na Zambézia.

O que diz o sector da cultura?

Fontes que declinaram ser identificadas da casa da cultura da Zambézia, entendem que os argumentos dos jovens músicos são feitos sem cabimento e que eles deveriam ser mais proactivos nos seus objectivos, procurarem mostrar que de facto tem vontade de fazer pesquisa dos ritmos tradicionais e desenharem um bom projeto das referidas pesquisas.
Contudo, reconhecem que o sector da cultura na Zambézia anda desprovido de numerários o que muitas das vezes faz com que a cultura vergue sem atingir as metas de desenvolvimento pretendidas.
Sobre este episódio, muitas das vezes o que se tem notado, são os jovens músicos a procurarem sua sorte, compondo músicas e canções sem que as autoridades que deviam ser competentes apoiassem aos músicos.


Opinião de algumas individualidades


Algumas pessoas por nós abordadas, reconhecem que os ritmos tradicionais na Zambézia estão mesmo a extinguir-se não só por falta da prática, mas também por falta de valorização.
Elas acham que o que está na origem de tudo isso é a falta de promoção de eventos culturais na província e recordam que noutros tempos, podia-se ver danças tradicionais aos domingos no bairro Brandão, mas hoje não se vê mais tais divertimentos.
Os nossos entrevistados foram unânimes em afirmar que a juventude hoje, pouco se preocupa em saber quais são os nossos valores socioculturais e acabam perdidos se direcção nenhuma para seguir.
Para essas pessoas, ainda não existem músicos, mas sim curiosos que pretendem emergir no mundo da música sem antes fazerem um estudo adequado dos ritmos tradicionais.

Quais os ritmos tocados pelos nossos músicos?

Não se sabe ao certo quais são os ritmos tocados pelos músicos.
O que se tem ouvido são ritmos distorcidos, sem nenhuma composição musical, canções completamente pejorativas e muitas das vezes insultuosas que ferem sensibilidade de muitas pessoas que escutam tais músicas e canções.
 Se por um lado está a vontade de compor, por outro está a vontade de lançar ao público, para ser conhecido, mesmo que o produto não esteja finalizado, os músicos actuais pouco se importam com a qualidade da coisa.
 Esta abordagem foi feita por Teodoro Mais Tempo, musico nascido em Quelimane e actualmente a residir na cidade de Maputo, onde tem produzido para muitos cantores da actualidade.
Para Mais Tempo, nem mesmo os que ele produz, têm pressa de ter um mercado e pouco se preocupam com a qualidade. Isso sob o ponto de vista do músico, é um desnorteio total por parte de quem se diz músico.
Mais Tempo diz ainda que para fazer música de qualidade, é necessário ter em mente que hoje a música já não é simplesmente cultura, mas é também ciência e deve contudo, ser estudada de forma mais contundente e só assim é que se pode de facto herdar ritmos ricos que a nossa terra tem como identidade.

4 comments:

Muna said...

Excelente.

Zicomo

Fijamo said...

Os bons costumes o vento levou... PS:. Abraco Muna

mana chuabo said...

Eu tinha ovido sobre danca de Lugela.Pessoal de Cha Lugela dizia sobre isso.Tambem nao deve esquecer danca tradiocinal de Gile.Uma tipo de danca com cobra-Jiboia.

Helder Phill said...

Gramei do texto... Observemos igualmente que ate a propria lingua de Quelimane "Chuabo" um dia estara por via de stincao. Vejam que durante um descurso as pessoas acabam misturando algumas palavras em portugues.... Esta mal isso...