Thursday 2 June 2011

Presidente Ruandês responsabiliza governantes africanos por intervenções estrangeiras

O Presidente ruandês, Paul Kagamé, considerou que a intervenção
militar das potências internacionais nos países em crise em África,
baseando-se nos casos da Côte d’Ivoire e da Líbia, é a "consequência
dum fracasso colectivo e individual dos dirigentes africanos".

« Quando alguns Estados africanos criam eles próprios as condições
duma ingerência externa nos seus próprios assuntos, a sua
responsabilidade é inteira. Se a nossa própria fraqueza e a nossa má
governação nos expõem à manipulação, é inútil queixar-se», declarou
Paul Kagamé em entrevista à revista « Jeune Afrique » a publicar
segunda-feira.

Na Côte d’Ivoire, afirmou Kagamé, as imagens da detenção de Laurent
Gbagbo « inspiraram-me uma espécie de tristeza quanto à maneira como
se faz e concebe a política em África ».

« Quanto mais olho mais vejo, detrás , a sombra do cenarista
estrangeiro. O facto de que 50 anos após as independências, o destino
do povo ivoiriense, da sua economia, da sua moeda, da sua vida
política estejam ainda controlados pela antiga potência colonial põe
problema. É isto que estas imagens mostram antes de tudo”, afirmou o
Presidente rwandês.
Paul Kagamé indicou que se França interveio na Côte d’Ivoire foi
devido à incapacidade da União Africana e da Comunidade Económica dos
Estados da África Ocidental (CEDEAO) a resolver a crise neste país,
acrescentando que é a consequência dum « fracasso colectivo e
individual » dos Africanos.

« Qual é, enquanto Africanos , a nossa parte de responsabilidade?",
interrogou-se o chefe do Estado rwandês. “Que imagem a própria África
dá ao resto do mundo? Pensamos que o espectáculo dum Exército
estrangeiro, mesmo sob cobertura onusina, intervindo nas ruas duma
capital africana é uma boa coisa? Por que nós, Africanos, deixamo-nos
que se nos criem este tipo de situações? Temos a coragem de nos
olharmos num espelho? », questionou-se.



O que há por trás da invasão da Líbia??


Em recente reunião do Conselho Parlamentar da Europa (CPE), Svetlana
Goriatcheva, da delegação russa, não conseguiu segurar sua indignação
e soltou o verbo. Em tradução livre, disse: "Senhoras e senhores
parlamentares, há três dias estamos aqui falando do sexo dos anjos.
Enquanto isto, bombas caem às dezenas nas cabeças dos líbios,
misturando sangue e areia. Sinceramente, não entendo a reacção passiva
e indiferente dos senhores".

Goriatcheva afirmou que as potências centrais protegem os ditadores
amigos dos EUA e da União Europeia que estão massacrando, com a ajuda
da Arábia Saudita, manifestantes que nas ruas exigem mais democracia e
melhores condições de vida. 'Não vejo aqui ninguém exigindo a cabeça
desses ditadores'.

Disse mais: 1. Querem a cabeça de Kadafi porque "ele se negou a
prorrogar os contratos de fornecimento de petróleo" nas mesmas
condições de antes, como exigiam a França, Inglaterra, Itália e
Espanha. 2. A Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, que
estabeleceu a zona de exclusão aérea na Líbia, 'além de não prever a
participação da OTAN nas operações, está sendo interpretada com uma
amplitude absolutamente fora de propósito'.

Os senhores membros do CPE engoliram em seco. Mas, há outra causa,
além do petróleo, sobre a qual a jornalista Ellen Brown chama a
atenção no Asia Times Online. Em síntese, como diria Hamlet, há muito
mais coisas entre o céu e a terra do que possa imaginar nossa vã
filosofia.

Alertas da jornalista: 1. Contradição – enquanto o Conselho de
Segurança da ONU trabalhava "febrilmente" para condenar os ataques de
Kadafi contra 'manifestantes', o Conselho de Direitos Humanos
elaborava "um relatório carregado de elogios à Líbia, no quesito de
direitos humanos".
2. O general (da reserva) Wesley Clark disse que "10 dias após o 11 de
setembro de 2001, os EUA tinham planos de invadir 7 países em 5 anos:
Iraque, [Afeganistão], Síria, Líbia, Somália, Sudão e Irão".

Pois é, "os líbios têm tratamento médico gratuito; a educação é
universal e gratuita; ao casar, cada casal líbio recebe um empréstimo
sem juros de US$ 50 mil; agricultores são isentos de impostos;
gasolina e pão são subsidiados; etc, etc."

Já afirmei que a revolta na Líbia não é do povo, mas sim de um grupo
de oposição organizada e armada principalmente pelos EUA para derrubar
Kadafi e tomar o poder. A importante revelação sintetizada por Ellen
Brown: "Robert Wenzel, do Economic Policy Journal, afirmou que nunca
antes ouvira falar de rebeldes que, com alguns dias de rebelião, já
criaram um banco central!".

Qual o mistério do banco central 'dos rebeldes'? É que Kadafi, como
Saddan, se negou a aceitar o dólar como moeda internacional e passou a
exigir euros. Pior, conclamou os países africanos a criar uma nova
moeda: o dinar-ouro. EUA e UE quase enfartaram. Sarkozy declarou que
"a Líbia se transformou numa ameaça à segurança financeira
internacional".

O xis da questão, é que nestas condições as potências centrais
perderiam os meios de manipular os preços internacionais. Cortar o
pescoço de Kadafi (como o de Saddan) e fundar um banco central
subalterno na Líbia é a forma de 'cortar o mal pela raiz'. E tome
tomahawk na cabeça do povo líbio.



Petróleo? Que nada! Imperialismo quer o Banco Central da Líbia Caso o
governo Kadafi caia, será interessante observar se o recém-criado
banco central líbio associar-se-á ao Banco de Compensações
Internacionais, se a indústria líbia do petróleo será imediatamente
privatizada e vendida a investidores globais e se continuará a haver
água, educação e assistência médica universais e gratuitas na Líbia.

Vários comentaristas e analistas de economia já observaram o estranho
fato de os rebeldes líbios terem tido tempo, em plena rebelião, para
criar, em Março, seu próprio banco central ‘rebelde’ – antes até de
haver governo ou Estado. Robert Wenzel escreveu no Economic Policy
Journal: “Mais um recorde, para o livro Guiness. Nunca antes ouvi
falar de rebeldes que, com alguns dias de rebelião, já criaram um
banco central. O movimento sugere que haja algo mais, naqueles
rebeldes, além do exército de voluntários, e que podem estar em acção,
ali, projectos muito mais sofisticados” (em
http://www.economicpolicyjournal.com/2011/03/libyan-rebels-form-central-bank.html).


Alex Newman escreveu, no New American: “Em declaração distribuída
semana passada, os rebeldes líbios relataram resultados de reunião
realizada dia 19/3. Dentre outros informes, os supostos rebeldes
esfarrapados anunciaram “a designação do Banco Central de Benghazi
como autoridade monetária competente para definir as políticas
monetárias da Líbia, o qual terá sede provisória em Benghazi” (em
http://www.thenewamerican.com/world-mainmenu-26/africa-mainmenu-27/6915-libyan-rebels-create-central-bank-oil-company).


Newman citou o editor-chefe da rede CNBC John Carney, que comentou:
“Parece-me que seja a primeira vez no mundo, que grupo revolucionário
cria banco central ainda durante os combates pelo poder político.
Sinal de o quanto são poderosos os banqueiros centrais que estão
surgindo nesses tempos extraordinários”.


Outra anomalia também chama a atenção, na justificativa para que os
EUA alinhem-se oficialmente ao lado dos rebeldes. Fala-se das
violações dos direitos humanos, mas há contradições. Segundo artigo
publicado na página internet da rede Fox News, dia 28/2:

“Enquanto a ONU trabalha febrilmente para condenar o ataque de Muamar
Kadafi contra manifestantes, o Conselho de Direitos Humanos
preparava-se para divulgar relatório carregado de elogios à Líbia, no
quesito direitos humanos.

O relatório regista aumento de oportunidades educacionais e louva a
posição oficial de fazer dos direitos humanos ‘uma prioridade’ para
aprimorar ‘o quadro constitucional’. Vários países, entre os quais o
Irão, Venezuela, Coreia do Norte, Arábia Saudita e Canadá, deram notas
positivas à Líbia no quesito protecção legal aos cidadãos – os mesmos
que agora se estariam levantando contra o governo e sendo cruelmente
atacados pelo mesmo governo” (em
http://nation.foxnews.com/united-nations/2011/03/01/un-poised-praise-libyas-human-rights-record).

Sejam quais forem os crimes pessoais de Kadafi, o povo líbio parecia
viver muito bem. Uma delegação de médicos russos, ucranianos e
bielorrussos escreveu carta aberta ao presidente Dmitry Medvedev e ao
primeiro-ministro Vladimir Putin da Rússia, em que dizem que, depois
de habituados à vida na Líbia, são de opinião que poucos países vivem
em condições tão favoráveis quanto os líbios: “[Os líbios] têm
tratamento médico gratuito e seus hospitais oferecem o que há de
melhor, no mundo, em tratamentos e equipamentos médicos. A educação é
universal e gratuita, muitos jovens recebem bolsas de estudo no
exterior, pagas pelo Estado. Ao casar, cada casal líbio recebe
empréstimo sem juros de 60 mil dinares líbios (cerca de US$ 50 mil),
como auxílio do Estado para constituir família. Há empréstimos
oficiais sem juros e, pelo que vimos, sem prazo. Dados os subsídios
que o Estado paga, o preço de carros é muito inferior ao que se vê na
Europa e praticamente todas as famílias têm carro. Gasolina e pão são
subsidiados e baratíssimos, e os agricultores são isentos de impostos.
O povo líbio é pacífico e calmo, não é dado a beber e os líbios são
muito religiosos (em
http://alexandravaliente.wordpress.com/2011/03/26/nato-u-s-war-crimes-open-letter-from-citizens-of-ukraine-belarus-and-russia-working-and-living-in-libya/)”.

Os médicos insistem que falta informação à comunidade internacional
sobre a luta contra o regime. “Quem, afinal, se rebelaria contra o
governo que vemos aqui?” – perguntam.

Ainda que muito disso não passe de propaganda, não há como negar pelo
menos uma grande realização do governo de Kadafi: há água farta para a
população, e gratuita. O Estado construiu um grande aqueduto que traz
água ao deserto e implantou na Líbia o maior e mais caro projecto de
irrigação que há no mundo (o Projecto “Grande rio feito pelo homem”
[ing. GMMR, Great Man-Made River] custou US$ 33 bilhões). Na Líbia, a
água é muito mais crucialmente importante para os cidadãos, que o
petróleo.

O GMMR abastece 70% da população com água potável e para irrigação,
bombeada do imenso Sistema Aquífero de Arenito Níbio, do sul até as
áreas urbanizadas no litoral, localizadas ao norte, a 4 mil
quilómetros de distância da fonte. Isso, pelo menos, não há dúvidas de
que o governo de Kadafi fez bem feito.

Outro argumento que se tem usado para explicar o ataque à Líbia é que
se trataria “do petróleo”, ideia que também apresenta inúmeras
contradições. Como observou o National Journal, a Líbia produz apenas
2% do petróleo mundial. Só a Arábia Saudita, só ela, tem capacidade
para aumentar a oferta de petróleo e suprir qualquer demanda que se
criasse pela falta do petróleo líbio, e mesmo que a Líbia fosse
varrida do mapa. Além do mais, se trata de petróleo, por que tanta
pressa para criar um novo banco central?

Outros dados intrigantes voltam a circular na Internet, mostrando
entrevista realizada em 2007, pela página Democracy Now, com o general
da reserva Wesley Clark. Naquela entrevista, o general Clark diz que
10 dias depois do 11 de Setembro de 2001, um general lhe disse que já
estava tomada a decisão de invadir o Iraque. Clark conta que a notícia
o surpreendeu e que perguntou por quê. “Não sei”, foi a resposta, “acho
que é porque ninguém sabe o que fazer!”. Mais tarde, o mesmo
informante contou ao general Clark que havia planos para invadir sete
países em cinco anos: Iraque, Síria, Líbano, Somália, Sudão, Líbia e
Irão.

O que há de comum entre esses sete países? Os que estudamos o sistema
bancário e os bancos centrais em todo o mundo sabemos que nenhum
desses países aparece na lista dos 56 países filiados ao Bank for
International Settlements (BIS) [Banco de Compensações Internacionais;
é o ‘banco central’ dos bancos centrais; organização internacional
responsável pela supervisão bancária, que visa “promover a cooperação
entre os bancos centrais e outras agências na busca de estabilidade
monetária e financeira” mundial, com sede na Basileia, Suíça (NTs, com
informações de http://pt.wikipedia.org/wiki/Banco_de_Compensa%C3%A7%C3%B5es_Internacionais)].
Se não fazem parte do BIS, esses países estão fora do campo
regula tório dos banqueiros centrais reunidos no BIS, na Suíça.

Os renegados mais resistentes são precisamente a Líbia e o Iraque –
dois países que já foram directamente atacados. Kenneth Schortgen Jr,
escrevendo em Examiner.com, observou que “seis meses antes de os EUA
atacarem o Iraque, o Iraque passou a exigir euros, em vez de dólares,
nas vendas de petróleo – o que converteu o Iraque em ameaça mortal,
porque ameaçava o domínio do dólar como moeda internacional de
reserva, na modalidade de petrodólar” (em
http://wn.com/pre_market_movers_february_4th,_2011?orderby=relevance&upload_time=today)

Segundo matéria publicada em jornal russo dia 28/3/2011, “Bombing of
Líbia - Punishment for Ghaddafi for His Attempt to Refuse US Dollar”
(em http://kir-t34.livejournal.com/14869.html), Kadafi fez movimento
semelhante ao dos iraquianos: começou a recusar dólares e a exigir
euros, e conclamou os países árabes e africanos a usar uma nova moeda,
o dinar de ouro. Kadafi planejava conseguir que toda a África, seus
200 milhões de habitantes, passassem a viver com essa nova moeda
única.

Ao longo do ano passado, vários países árabes e muitos países
africanos aprovaram a nova moeda. Restaram contra só a África do Sul e
alguns países da cúpula da Liga Árabe. A iniciativa não foi vista com
bons olhos pelos EUA e pela União Europeia; o presidente Nicolas
Sarkozy declarou que a Líbia seria ameaça à segurança financeira da
humanidade. Kadafi não se impressionou e prosseguiu na sua campanha
para criar uma moeda da África.

Com o que, afinal, podemos voltar ao mistério do novo banco central
‘rebelde’ na Líbia. Em artigo publicado em Market Oracle, Eric Encina
escreve:

“Fato raramente mencionado pelos ‘especialistas’, ‘comentaristas’
‘analistas’ ou políticos ocidentais é que o Banco Central da Líbia é
100% banco público. Hoje, o governo da Líbia cria a própria moeda, o
dinar líbio, graças ao uso que dá ao seu banco central público
nacional. Ninguém pode dizer que a Líbia não seja nação soberana, rica
em recursos naturais e capaz de comandar o próprio destino económico.
O principal problema dos cartéis dos bancos globais é que, para
negociar com a Líbia, têm de negociar através do Banco Central líbio e
em moeda nacional líbia. Nessas condições não têm controle sobre a
negociação nem meios para manipular os preços e condições de
negociação.

O objectivo de derrubar o Banco Central Líbio (CBL) não aparece nos
discursos de Obama, Cameron e Sarkozy, mas não há dúvidas de que é
objectivo prioritário na agenda da grande finança globalista: incluir a
Líbia na lista de países financeiramente obedientes” (em
http://www.marketoracle.co.uk/Article27208.html).

A Líbia não tem só petróleo e água. Segundo o Fundo Monetário
Internacional, o banco central líbio mantém lastro de cerca de 144
toneladas de ouro. Com esse tipo de moeda-lastro, quem precisa de BIS,
FMI e seus ‘aconselhamentos’?

Dadas essas evidências, é preciso agora considerar mais de perto as
regras do Banco de Compensações Internacionais e o efeito que têm nas
economias locais. Artigo que se lê na página do BIS na internet
(http://www.bis.org/about/index.htm) declara que os bancos centrais
reunidos na Rede de Governança dos Bancos Centrais devem manter, como
seu objectivo único ou básico, “preservar a estabilidade de preços”.

Devem ser independentes dos governos nacionais, para garantir que
nenhuma consideração política interfira no funcionamento.
“Estabilidade de preços” significa manter suprimento estável de moeda,
mesmo que isso implique castigar a população com pesadíssimas dívidas
externas. Os bancos centrais ‘coligados’ são encorajados a não
aumentar o suprimento de moeda mediante emissão de dinheiro e devem
usar o dinheiro em benefício do Estado, directamente ou mediante
empréstimos.

Em artigo de 2002 em Asia Times Online, intitulado “The BIS vs
national Banks” (14/5/2002), Henry Liu dizia:

“As regulações do BIS têm o único objectivo de fortalecer o sistema
bancário internacional privado, mesmo que à custa das economias
nacionais. O BIS faz para os sistemas bancários nacionais o mesmo que
o FMI fez aos regimes monetários nacionais. Economias nacionais que
sirvam aos interesses da finança globalizada deixam de servir a
interesses nacionais.

... o FDI [ing. foreign direct investment, investimento estrangeiro
directo] com valor nominal em moedas estrangeiras, quase sempre o
dólar, condenou muitas economias nacionais a um desenvolvimento sem
equilíbrio, voltado para exportar, sobretudo para gerar pagamentos em
dólar aos investidores estrangeiros directos, com mínimo benefício às
economias nacionais”
(http://www.atimes.com/global-econ/DE14Dj01.html).


E acrescentava: “Se se aplica a “Teoria do Dinheiro do Estado” de
Knapp, qualquer governo pode pagar com a própria moeda todas as
necessidades do seu próprio desenvolvimento, para manter o pleno
emprego sem inflação”. A “Teoria do Dinheiro do Estado” refere-se a
dinheiro criado por governos, não por bancos privados.


A pressuposição da lei que manda não tomar empréstimos do próprio
banco central do governo é que esses empréstimos seriam
inflacionários, e que tomar empréstimos do dinheiro que haja em bancos
estrangeiros ou do FMI não seria inflacionário. Mas, hoje, todos os
bancos criam de fato o dinheiro que emprestam, seja dinheiro público
ou privado. A maior parte do dinheiro novo, hoje, vem de empréstimos
bancários. Tomar empréstimos do próprio banco central governamental
tem a vantagem de que o empréstimo é praticamente sem juros. Já se
sabe que se se eliminam os juros, o custo dos projectos públicos cai em
média 50%.

Tudo faz crer que o sistema líbio funciona desse modo. Segundo a
Wikipedia, entre as funções do Banco Central da Líbia está incluída a
de “emitir e regulamentar os créditos e moedas circulantes na Líbia” e
“gerir e emitir todos os empréstimos estatais”. O banco central da
Líbia, público, pode administrar e administra a moeda nacional e faz
empréstimos com vistas a atender, em primeiro lugar, os interesses do
Estado líbio.

Só assim se entende que a Líbia tenha recursos para oferecer educação
e atendimento médico universal e gratuito, e para dar a cada novo
casal, como presente de núpcias, US$ 50 mil em empréstimo que o Estado
faz, sem juros. Só assim se entende que o país tenha tido meios para
pagar os US$ 33 bilhões que lhe custaram o projecto do GMMR. Hoje, os
líbios temem que os ataques aéreos da Otan cheguem aos aquedutos desse
projecto, o que, sim, geraria mais um desastre humanitário.

Difícil crer, nesse quadro, que os ataques à Líbia tenham a ver
exclusivamente com o petróleo. Quase certamente têm a ver, também, com
a independência radical do banco central líbio. Com energia, água e
crédito abundante para desenvolver a infra-estrutura para que energia e
petróleo sejam postos a serviço do bem estar dos líbios, a Líbia pode
sobreviver à distância das garras dos financiadores/credores
estrangeiros. E aí, afinal, está a real ameaça que a Líbia traz: a
Líbia pode provar ao mundo que é possível fazer o que a Líbia faz.

Inúmeros países não têm petróleo, mas estão em desenvolvimento novas
tecnologias que podem tornam nações não produtoras de petróleo
independentes, em termos energéticos, sobretudo se os custos para
construir a infra-estrutura são reduzidos à metade, porque os
empréstimos saem do próprio banco central nacional e público, gerido
em nome de interesses públicos. A independência no campo da energia
libertará os governos da rede dos banqueiros internacionais, e da
necessidade de direccionar a produção doméstica para os mercados
estrangeiros, para pagar o serviço das dívidas.

Caso o governo Kadafi caia, será interessante observar se o
recém-criado banco central líbio associar-se-á ao Banco de
Compensações Internacionais, se a indústria líbia do petróleo será
imediatamente privatizada e vendida a investidores globais e se
continuará a haver água, educação e assistência médica universais e
gratuitas na Líbia.

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