Saturday 25 June 2011

Guilherme Vaz Raposo-Um intelectual exilado na sua propria terra! Celebrando os 36 anos independencia nacional num polo de desenvolvimento democratico


A cada dia que passa, cresce o meu apetite pelos distritos, ouvindo estorias de gente da terra e partilhando experiencias quase divinas! Desta feita resolvi passar os 36 anos num distrito! Para dizer a verdade em varios! O facto decisiso para esta escolha foi o facto de ter encontrado casualmente na ATM , do Stabdard bank dois professores de Mutarara a levantar dinheiro!

Apecebi-me que eram de Mutarara depois de ter reclamado pela demora! Eles estavam a minha frente na fila da ATM, e estranhei a demora! Quando os interpelei, o Professor Kembo, da Escola Secundaria de Mutara, pacientemente explicou-me a tragedia que viviam!


Porque o ministerio da Educacao ja nao paga em numerario, fazendo depositos dos salarios dos professores no Banco Internacional de Mocambique (Mais uma razao para a aprovacao da Lei da Concorrencia), estes sao obrigados a levanta-lo nos balcoes ou ATMs deste banco. Acontece porem que em varios distritos, nao ha simplesmente balcoes ou ATMs! Ai os professores sao obrigados deslocarem-se a outros distritos e no caso em apreco a outras provincias!

Para os professores de mutarara ha tres alternativas: cidade de Tete (a quase 300 quilometros e estrada batita e sem transporte regular), Caia e Quelimane. Acontece porem, como testemunhei varias vezes, que o balcao e ATM de Caia fica muitas vezes sem rede, e foi o que aconteceu com o o agora meu amigo Tembo! Tendo saido de Mutara no intuito de levantar o seu misero salario em Caia (entre 70 a 100 kms), nao pode faze-lo porque a ATM nao tinha 'sistema'! A alternativa era Quelimane a cerca de 200 quilometros! Tendo ouvido a sadica historia, e movido pela curiosidade em conhecer Mutarara, pus-me a caminho! Salvou-me o porco estufado da Tia Veronica para almoco!

Sai no carro de um amigo da Cidade de Quelimane e sucessivamente escalei os distritos de Nicoadala, Mopeia, Morrumbala para finalmente desembarcar no Distrito de Mutarara! Foi e esta sendo uma aventura e quica uma experiencia sem igual!

Interessante notar que a estrada Quelimane-Zero encontra-se num estado transitavel, para nao dizer paradisiaco se compararmos com a maior parte da rede rodoviaria na provincia da Zambezia! Infelizmente o mesmo nao se pode dizer do troco Zero-Morrumbala que e uma verdadeira lastima! Me parece que a empresa Dunavant esta a fazer falta, pois pelos vistos a OLAM, a nova dona da concessao algodoeira em Morrumbala, nao tem estado a fazer o match das actividades que a multinacional anericana fazia, alias suponho nao ser sua tarefa, justificadamente!

Para surpresa minha, a estrada Morrumbala Sede-Rio Chire (podendo-se andar a 80 kms/hora) esta em melhores condicoes que a anterior, isto e a Zero-Morrumbala-sede! A estrada Chire-Mutarara e outra lastima! Um TPC para os manos Meque (FIM) e Vaquina!

Dois pontos marcaram esta viagem! A travessia do Rio Chire e o facto de ter conhecido os pais e parte da familia do meu amigo Egidio Vaz Raposo!

Cheguei a travessia do Chire, depois de ter atravessado a velocidade da luz, a Vila onde nasceu o ex-deputado, politico e renomado advogado da nossa praca, Maximo Dias. a velocidade da luz, porque na vila de Morrumbala nos advertiram que o batelao fechava pontualmente as 17.00 horas. Dito e feito, as 17.05 quando chegamos a travessia, os homens ja se tinham ido! Um pouco de Sena, foi o suficiente para voltar a aldeia e 'recrutar' de volta os eximios funcionarios que prontamente se prestaram a dar-nos a 'txova' que precisavamos para nao ter que ou pernoitar no local (abarrotado de mosquitos) ou entao regressar a vila de Morrumbala ( o que teria deixado o meu amigo Jorge Tinga felicissimo)! Mas nao foi desta!

Enquanto se davam os preparativos para por o batelao, puxado manualmente, chegou um Land Rover sul africano que transportava um casal sul-africano e seus filhos 9por sinal tambem um casal do qual retenho o nome da filha, Jessica). Segundo o casal, o GPS dels dizia_lhes que nao havia como atravessar o famoso Chire! Apanharam nossa boleia e trocamos de cartoes!

Duas horas depois da travessia estava eu pela primeira vez em Mutarara, terra dos meus amigos Joao Jamal, Raul Domingos, Raul Chambote, Florentino Dick e outros! Essa terra magica que produziu nada menos e nada menos o recorde de candidatos presidenciais por distrito (tres)-Casimiro Nhamitambo, Francisco Campira e Raul Domingos! -um fenomero a ser estudado por politologos!

Tanto o Dick, como o Jamal, Chambote contaram-me estorias deste lugar que me criou o desejo de conhecer! E ao entrar no vilarejo, sentia-me ja em casa pois ia reconhecendo os lugares magicos do lugarejo! Era como se estivesse a regrassar a minha terra!

Atravessar o rio Chire ( testando a famosa navegabilidade) foi um momento magico e indescritivel!

Outro momento inesquecivel foi o meu primeiro encontro com um intelectual de craveira internacional, de nome Guilherme Vaz Raposo, por sinal pai do meu amigo Egildo Vaz!

Montado numa cinquentinha, com a inseparavel esposa, o velho-jovem bibliotecariio na escola local, apresenta uma jovialdade fora do normal e uma pujanca intelectual rara! na minha biblioteca faltam apenas sete livros: os relatorios do I, II, III, IV, V, VI, VII, VII Congressos! Por mais que nao se concorde com o seu conteudo, sao instrumentos incontornaveis para quem queira entender a historia de Mocambique-rematou Vaz Raposo.

Depois de cinco minutos de conversa exclamei-'pai agora percebo porque o Egidio fez o curso de Licenciatura em historia'! O velho professor reformado, foi formado em 1964 pela missionaria Escola de Boroma que considera ter sido 'o berco da nacionalidade, do nacionalismo e intelectualidade mocambicana'. Para sustentar afirma que Eduardo Mondlane visitou a missao em 1961/2, e que a missao de Boromo foi o 8 de Marco dos anos Sessenta!

Para Vaz Raposo e importante que as jovens geracoes bebam das fontes ainda vivas para que saibam de onde vem e desta forma possam sustentar com orgulho a nossa heranca, e a nossa auto-estima. 'A vida nao tem sentido se nao conhecermos a origem das coisas'!

- 'Meu filho, sabes porque Quelimane e Quelimane?" E Mocuba? Gurue? Como te podes orgulhar de ser negro africano se nao conheces as tuas origens?

A pouco e pouco o velho ia exibindo seu manancial de conhecimentos acumulados ao longo dos anos, provando-me por A mais B, que eu nao passava de um curioso cretino! A eloquencia do velho Guilherme (Nkutche) e simplesmente fabulosa! O seu conhecimento da historia portuguesa, desde os tempos do Condado portucalense, do Lavrador Dom Dinis ate aos nossos dias espanta a qualquer candidado a intelectual!
Nao e por acso que o velho afirma, com orgulho, que 'foi formado para leccionar, nao so em Mocambique, como em todo 'Imperio Salazarense'- Desde Goa, Diu, Damao, ate a Angola, Sao Tome, Cabo Verde etc!

Quando lhe perguntei se ja escrevera a sua biografia, respondeu-me peremptoriamente e sem pestanejar: 'O Egidio, meu filho, sabera onde localizar os rabiscos que fiz!' Vendo caras de desaprovacao pela descriminacao em termos de genero que acabava de fazer, perispicaz, o velho retificou dizendo " ... ou as minhas filhas..." Era tarde demais, o testemunho fora passado ao herdeiro varao!

Ficou no ar, e disso nao perdoarei a mae Ana, o cheque-mate: o que faz de Mutarara uma barril eterno de revolta contestataria e descontentamento eterno? Sera o facto de ja ter feito parte de Sofala, Zambezia e hoje Tete? ou e a localizacao geografica estrategica encravada entre as tres provincias e o Malawi? Sera o facto de Mutarara ser geologicamente falando o fim, ou principio do fabulosamento rico em minerais Rift Valley?

Muito ficou por contar e descrever as lindas horas que passei ao lado da familia Vaz Raposo! Mas para nao violar a privacidade deles, pois nao tenho autorizacao para contar, quedo-me por aqui, na certeza de que temos 'miliares e miliares' de bibliotecas intelectuais ainda vivas e que devem, ser exploradas atempadamente para preservar a nossa heranca historica e quica a nossa 'auto-estima'!

O dia passou sem me ter apercebido e, quando ja passava da meia noite, a mae Ana, encheu-se de coragem e disse, em tom irrevogavel (no jeito peculiar das poderosas Donas do poder matrilinear do Vale do Zambeze- 'amanha e Domingo, e temos obrigacoes religiosas! Foi o suficiente para nos encolhermos e quebrar a envolvente amizade e cumplicidade que fara de Nkutche Guilherme Vaz Raposo, nao so o pai do Egidio, como tambem meu, mesmo que o 'ciumento' do Egidio nao o queira! Afinal de contas, quem quereria dividir um pai destes?

3 comments:

Egidio Vaz said...

Mano pa, heheheh. Fico sem palavras!

Passades said...

OMG

FABULASTICO E ESTUPENDO

forca mais velho

José Manuel Meque said...

Acabo de descobrir este blog exactamente hoje dia 20 de Agosto, coincidente, dia desta cidade,onde moro presentemente. O facto que me desperta atenção, é sobre a forma como o Doutor Manuel de Araújo, trata o distrito de Mutarara e a sua gente, neste texto foi tão cordial no tratamento das pessoas da minha terra que me viu a nascer. Falou tanto sobre Mutarara, assim com se ele fosse natural daquela parcela do país, me tocou bastante, quando fazia referência ao professor reformado Guilherme Vaz Raposo, pelo sinal meu padrinho de casamento civil. Assistí as aulas do prfessor Guilherme Vaz em Traquino na Missão Nossa Senhora do Carmo em Inhangoma em 1967. Doutor Manuel de Araújo na sua crónica, també apontou assuntos importantes e de interesse público, aliás, foram abordados elementos de extrema importância para que os governos de Tete e zambezia ponderem, no que toca as estradas e o meio de travessia do rio Chire. Doutor, a partir de hoje vou frequentando o seu blog, desde já lhe convido a apreciar"Mwathumuno.blogspot.com", faço pequenos reparos da minha altura. Abraços!
José Manuel Meque
[presidente executivo de ANAMUTARARA]