Monday 16 May 2011

A Opiniao de Noe Nhantumbo

“ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS FRANCESAS” JÁ PROVOCAM VÍTIMAS
Ou a Crise Financeira Internacional precisa de uma vítima para contornar algum assunto?
Ou será simplesmente uma questão de excesso de libido de Dominique Srauss-Kahn?...

Uma história parecida há alguns anos atrás e protagonizada pela mesma pessoa despertou a curiosidade internacional. Era uma funcionária do FMI e a questão foi resolvida internamente seguida de pedidos de desculpa.
Agora e algo similar mas diferente na medida em que envolve uma alegada empregada de quartos de um luxuoso hotel de Nova York.
Estaremos em presença de uma maneira de fazer política por outros meios? O recurso a escândalos sexuais em sociedades como a americana tem sido amplamente utilizado para tirar potenciais adversários do caminho. Todo o mundo se recorda de Monica Lewinsky e Bill Clinton.
Num momento em que o mundo a travessa uma grave crise e em que assuntos de extrema importância estão em jogo um caso de natureza sexual desvia a atenção da imprensa mundial e tem todos os ingredientes para afectar politicamente as aspirações de um potencial candidato às eleições presidenciais francesas.
Em África a sexualidade dos líderes políticos pouco ou nada significa na medida em que desde polígamos oficiais aos com ligações extra-conjugais, proliferam, sem consequências de maior para os titulares de cargos públicos ou seus aspirantes.
Até se tornou em prática comum a utilização de favores sexuais como forma de subir na carreira profissional. A ascensão de muitas mulheres, sem querermos ofender a ninguém, ou é por via de cumprimento de objectivos estatísticos ou é em relação directa com agendas do fórum sexual. Diz-se à “boca cheia” que se o teu concorrente a um cargo público em empresas privadas ser mulher coloca o pretendente em primeiro lugar. Não queremos questionar os casos de manifesta competência feminina mas esta é infelizmente a realidade africana.
O vizinho Jacob Zuma é manifestamente polígamo e o também vizinho Mswati III é decano dos polígamos africanos.
Entre nós até se elogia a infidelidade conjugal masculina em nome de uma suposta virilidade dos seus praticantes.
Só que na “velha Europa” e nos EUA onde o puritanismo ainda persiste e é baliza moral bem cultural, qualquer “salto fora da janela” é sancionado com o peso de leis e tradições que gozam de alta consideração social. Os actos que os políticos praticam são escrutinados em sua natureza e sua forma. O terreno é complexo e as ratoeiras tendem a servir interesses de adversários. Chega-se a pagar a informantes e a detectives para descobrirem os segredos sexuais de concorrentes. As armas utilizadas para garantir o acesso ou conquista de votos eleitorais são um complexo emaranhado de procedimentos. Os estrategas das campanhas políticas e eleitorais não dormem enquanto não descobrem meios eficazes para obliterar os seus adversários. E nisto “os fins justificam plenamente os meios”.
Se por enquanto tudo o que rodeia o caso do director geral do FMI ainda é alegação que deverá ser comprovadas em juízo não nos podemos esquecer de casos similares entre gente famosa que foram engendrados e concretizados para a obtenção de vantagens financeiras por parte dos denunciantes.
Joga-se duro no panorama político europeu e americano. Se Donald Trump esgrimiu o caso da certidão de nascimento de Barack Obama para diminuir as hipóteses de reeleição deste, se antes os republicanos já tentaram um “impeachment” a Bill Clinton por suas ligações com a estagiária Mónica Lewinsky porque Nicolas Sarkozy ou a filha de Le Pen não tentariam uma manobra similar? Ou será iniciativa de algum candidato socialista que assim vê Dominique fora da corrida antecipadamente?
Num mundo em que egos fortes entram facilmente em confrontação e em que está em jogo toda uma série de questões que ultrapassam as preocupações do cidadão comum qualquer assunto que cheire a escândalo atrai a atenção dos mídias e os cidadãos vivem um pouco à boleia dos escândalos que lhes são vendidos diariamente.
É a comunicação social ao serviço de interesses particulares e previamente definidos. Ganha quem consegue manobrar nos bastidores e atrair jogadores de peso. Montagens e maquinações são frequentes e mesmo agora mais um caso “cor de rosa” envolve Sílvio Berlusconni na Itália. Uma rapariga de programa está no centro de uma controversa que obriga o primeiro-ministro daquele país a preocupar-se com tribunais e julgamentos.
O lugar da mulher na sociedade merece todo o respeito. Só que isso muitas vezes acontece à custa de sacrifícios desproporcionais para as vítimas e para os prevaricadores.
Entre tratar justamente tentativas de assédio sexual e punir quem as pratica quando se trata de “peixe grande” existe a tendência de se enveredar por uma via que por vezes concorre para utilizar tais oportunidades como arma de arremesso político.
No caso em apreço só há que esperar pela justiça americana.
Convém porém não colocar de lado nenhuma hipótese. Pode ser Paris a ganhar com o sacrifício político óbvio de Dominique Strauss-Kahn mas também podem ser outras instâncias na arena financeira a ganhar com toda esta “novela”.
Os amantes de teorias de conspiração podem também explorar a oportunidade que o lobby americano pode ter em desfazer-se de uma figura cujo resultado imediato é a ascendência de um americano para o cargo de director-geral do FMI.
E em momento de crise financeira internacional quem tem ascendente é quem possui as pedras no terreno. Se os americanos agora possuem alguém à cabeça do Fundo Monetário Internacional isso tem resultados práticos imediatos. Se todo o passado Washington teve preponderância nas decisões das instituições de Bretton Woods isso tem uma relação directa com as figuras que sucessivamente ocuparam os lugares cimeiros nelas.
É preciso estarmos preparados para todos os cenários em que uma simples alegação de assédio sexual pode significar muito mais.
Decerto que em termos de resultados e consequências e para o alegado envolvido elas existirão.

Noé Nhantumbo

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