Prostituição política, golpe dos “serviços de inteligência” ou continuação de um percurso
Crescimento envolve crise, demissões e admissões…
Movimento democrático de Moçambique experimenta sua primeira grande crise?
Beira (Canalmoz) - Terão razão os que dizem que a formação do MDM foi um momento ímpar na história política de Moçambique recente. Uma conjugação de factos propiciou o surgimento de um partido para onde confluíram muitas pessoas provenientes de outros partidos como a Renamo e a Frelimo. Se os dissidentes da Renamo depressa tomaram precedência e se catapultaram para posições de relevo no MDM isso afigura-se como normal considerando a própria origem do MDM. Foi a recusa de uma ordem da liderança da Renamo para que Daviz Simango abandonasse a corrida eleitoral para o Município da Beira que provocou uma rebelião na Beira que acabou por criar condições para formação do MDM. Rapidamente se congregaram vontades e posições que levaram a constituir em tempo recorde uma plataforma eleitoral independente. Daqui para o surgimento de um partido foram poucos passos necessários.
Também rapidamente este novo partido se organizou e estendeu a sua existência para todo o território nacional. Uma acção política desta natureza tem suas consequências e nada é rectilíneo. Se alguém algum dia pensou que seria tudo um mar de rosas depressa os factos se encarregaram de demonstrar o contrário.
Dos saídos da Renamo alguns já tinham um passado de discordância com o presidente daquela formação política e a sua aderência ao MDM era de esperar. Muitos dos que eram membros da Frelimo mesmo sem dar a cara, acabaram votando pelo MDM nas eleições passadas se tomarmos como base o que se diz nos bastidores. Não foi a famosa disciplina partidária que conseguiu acorrentar “camaradas”.
A anunciada demissão de Ismael Mussa do cargo de secretário-geral do MDM é um fenómeno político normal que pode ter consequências graves ou ligeiras segundo a forma como vier a ser gerida pela liderança do MDM. Quais são as razões reais que levaram Mussa a demitir-se? Qual foi a razão que o levou a integrar-se no MDM? Porque saiu da Frelimo para a Renamo?
Dos seus pronunciamentos à imprensa a propósito da sua demissão de SG do MDM pode-se compreender que alguma animosidade existe nas hostes daquele partido sobretudo no que se refere a gestão de dossiers administrativo-financeiros. Aventam-se hipóteses de que alguns segmentos do partido não estão satisfeitos com nomeações para cargos no seio do partido e existe oposição aberta à uma suposta ala intelectual no MDM. É difícil saber com objectividade o que na realidade está acontecendo.
Mas seria demasiada inocência da nossa parte se ignorássemos que em Moçambique muitos intelectuais pensam com a “barriga” e que está comprovado por factos que eles são bastante susceptíveis a acções coordenadas de aliciamento político protagonizadas pelos serviços de inteligência de diferentes quadrantes.
Quem não se lembra de líderes de partidos da oposição participarem em congressos do partido no poder e contribuírem monetariamente para a sua realização? Quem não se recorda de que um líder da oposição até chegou a dançar na sede do Comité Central da Frelimo por ocasião da “retumbante” vitória nas eleições passadas?
Olhar para a decisão de Mussa correr e informar aos mídias que estava demissionário é um exercício complicado sobretudo porque carecemos de elementos para fundamentar qualquer coisa que possamos dizer. Quando alguém aventava a hipótese de que o MDM estava e está fortemente infiltrado por agentes de subversão provenientes da Frelimo e da Renamo pode estar a fazer uma simples constatação de algo que não sofre ou que dificilmente pode sofrer qualquer contestação.
O jogo da manipulação e do engodo, ludibriar e subverter não é novo entre nós. Há já muito tempo que se recorre ao golpe baixo e ao aliciamento de membros de outras formações políticas através de promessas de moageiras, veículos, dinheiro vivo e outros. Muitos cargos de chefia são obtidos ou assegurados através de alinhamentos e filiação em partido político. A permanência em cargos públicos ou o simples exercício de uma profissão no Aparelho de Estado é frequentemente condicionado a aceitação de membro do “partido”. Esta é a realidade que afecta todos os segmentos políticos e de políticos do país. Resistir a avalanche de “ofertas” envenenadas constitui um acto de coragem e coerência política.
A maioria dos sujeitos ao aliciamento não resiste. Sucumbem aos bens matérias envolvidos e acabam criando crises nos partidos de proveniência. Isto constitui material muito apreciável em períodos eleitorais e é utilizado em toda a sua plenitude pela comunicação social afecta ao regime do dia.
É preciso perceber que nada acontece por acaso nos meandros políticos embora alguns dos factos ou ocorrência possam dever-se à compreensão dos fenómenos por parte dos protagonistas. Podem influir para que algo aconteça sem ter a ideia da dimensão ou consequência plena de seus actos.
Julgo que terá havido falta de diálogo estratégico entre as partes envolvidas na gestão da crise no MDM despoletada pelo pedido de demissão de seu secretário-geral Ismael Mussa. Não é de bom-tom nem é saudável que um partido em construção e consolidação sofra uma crise desta dimensão. Não se deve sobrestimar os efeitos de um pedido de demissão qualquer que seja mas também não se deve entrar pela via da facilitação ou subestimação.
Enquanto não houver crescimento do entendimento político, desenvolvimento de uma plataforma ideológica e filosófica que una os membros de diferentes partidos políticos o país continuará sujeito ao improviso, aos golpes de “agentes de inteligência”, ao mercantilismo político e à corrosão que a pobreza exerce na vida dos partidos políticos que não possuem membros que paguem quotas.
Os mercenários que abundam na praça política são agentes disponíveis para prestar serviços a quem pague mais. A percepção dos problemas políticos do país e o seu tratamento apropriado muitas vezes supera a capacidade de nossos políticos escolherem entre o mais importante para seus partidos e para o país.
Desinteligências aparentemente graves não poucas vezes resultam da maneira como os políticos organizam a gestão dos assuntos financeiros de seus partidos. Não tem sido a questão da ideologia que afasta uns a atrai outros. Se alguma tinta vai correr na comunicação social moçambicana sobre a demissão de Ismael Mussa isso virá de quadrantes que sempre se posicionaram contra o seu surgimento e afirmação na arena política moçambicana. Dirão uns que a crise se instalou e outros se regozijarão com a crise. Mas saber realmente que a crise se instalou ou que de facto se trata de algo merecedor dessa denominação só os tempos mais próximos é que dirão.
Os votos dos moçambicanos e a maioria dos moçambicanos está longe de ser intelectual e a importância da intelectualidade nacional embora seja de tomar de tomar em conta pouco significado tem nas contas eleitorais finais. É de acreditar que ao invés de cerrarem fileiras e lutarem pela realização de um projecto político viável alguns moçambicanos com presença nos espaços políticos dos partidos da oposição optem por jogadas fratricidas e nesse sentido qualquer demissão de membros tem consequências negativas. Tem sido a fragmentação da oposição e a ausência de um sentimento e estratégias que transcendam os meros objectivos imediatos de poder deste ou daquele líder que tem condenado a oposição e levado a derrotas eleitorais justas ou engendradas nos meandros do sistema de administração eleitoral do país.
Muitas das manifestações dos políticos que se dizem da oposição são por vezes orientadas por interesses e agendas que pouco tem a ver com os reais interesses dos cidadãos e nesse sentido há que dizer que os acontecimentos recentes são parte de um processo permanente de depuração de fileiras.
De certos quadrantes políticos moçambicanos vamos ouvir que o MDM não tem pernas para andar e que a sua decomposição está para breve. Esse seria o desejo dos que negam a alternância democrática no poder. Julgo que os tempos dirão quem afinal tinha razão no seio do MDM. Desde a sua filiação que Ismael Mussa se terá dado conta como eram as coisas e como era feita a administração e gestão dos assuntos de seu partido. Terá esgotado os mecanismos internos para enfrentar e colocar os seus pontos de vista em relação aos assuntos que constituíam motivo de divergência? Ou terá esperado pela ocasião oportuna para se manifestar publicamente e desta forma pressionar os órgãos do partido a alterarem práticas e procedimentos? Ou será algo muito mais profundo e que faz parte de uma estratégia de longo prazo definida em algum centro de estudos estratégicos de natureza desconhecida?
É preciso analisar, estudar, interpretar e extrair conclusões sobre os factos que ocorrem na arena política. Uma das maneiras de olhar para a questão é perguntar “a quem no fim serve a demissão de Mussa?” Quem perde com ela?...(Noé Nhantumbo)
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