Friday 22 April 2011

A Opiniao de Machado da Graca, um dos poucos cidadaos lucidos que a matria ainda conserva!

Olá amigo Filipe
Como vai a tua saúde e a da tua família? Do meu
lado tudo bem, felizmente.
Queria hoje falar-te de alguns aspectos ligados
à questão da violência, tema de que se está a falar
agora bastante. Constantemente estamos a ser
bombardeados com declarações das mais variadas
entidades a defenderem a paz e a ausência da
violência na resolução de todo o tipo de conflitos.
Os dirigentes do Governo e da FRELIMO, a
começar ao mais alto nível, em todos os seus discursos
gabam as vantagens da não violência na resolução
de todos os conflitos.
E isto é completamente normal. Em todos os
tempos e em todos os lugares é quem está no poder
que defende a paz e o sossego. A sua paz e o seu
sossego.
Porque, não podemos esquecer, os mesmos
dirigentes da FRELIMO, antes da Independência,
quando o governo colonial-fascista português se
recusou a negociar, recorreram, é claro, à violência, à
Luta Armada de Libertação Nacional.
E, nessa altura, quem defendia a paz era o
Governo de Lisboa, enquanto classificava a FRELIMO
de “terroristas”.
Dizia Bertolt Brecht que todos condenam a
violência do rio, que tudo arrasta, mas ninguém
condena a violência das margens, que o oprimem.
Tudo isto para te dizer que esta coisa da paz e
da não violência é mais complexa do que parece nestas
declarações a que estamos agora a assistir.
Sendo eu uma pessoa totalmente pacífica, não
consigo ser, no entanto, um pacifista.
Se uma pessoa oprime outra, a insulta, a humilha,
a explora sem piedade e esta se revolta e dá uma
sova à primeira, eu não a posso condenar em nome
da paz e da não violência.
O Papa João XXIII disse, um dia, que
desenvolvimento é o novo nome da paz. O que,
traduzido por outras palavras, quer dizer que, se as
pessoas não assistirem ao desenvolvimento, à
melhoria das suas vidas, dificilmente ficarão em paz.
E isto, principalmente, se assistirem, a seu lado, ao
enriquecimento constante e obsceno daqueles mesmos
que tanto apelam à paz e não violência.
E se assistirem, por outro lado, ao uso e abuso
da violência por parte de quem está no poder.
Em Setembro do ano passado a Força de
Intervenção Rápida matou, a tiro, um número
elevado de manifestantes desarmados, num estendal
de violência criminosa.
Mas não ouvimos estes apelos de agora.
Há pouco tempo a mesma FIR actuou novamente,
com violência criminosa, sobre os trabalhadores de
uma empresa de segurança.
E também não ouvimos esses apelos. Pelo
contrário, tudo dá a ideia de que se está a tentar
varrer toda a história para baixo do tapete à espera
que nos esqueçamos do assunto.
Na própria Assembleia da República a bancada
da FRELIMO impossibilitou que os deputados
exigissem contas ao Governo sobre este assunto.
Entre outros argumentos porque, disse o deputado
Carlos Cilia, a FRELIMO respeita a separação dos
poderes e acha que este assunto pertence ao Poder
Judicial.
Mas será que a acção da FIR não é um acto do
Executivo? Não é a FIR um braço do Estado, comandado
pelo Governo do dia? E não é função da Assembleia
da República fiscalizar os actos do Governo?
Por que será, então, que se faz toda esta ofensiva
contra uma violência que ainda se não desencadeou,
e se procura esconder aquela de que já temos
exemplos concretos?
Na minha opinião, se queremos manter esta paz
e não violência, e eu quero isso tanto como qualquer
outro, o caminho é a mudança de políticas no país. É
diminuir o fosso entre os muito ricos e os muito
pobres, é alterar profundamente a distribuição das
riquezas que o país produz.
A fome e a miséria têm, normalmente, o efeito
de tornar as pessoas surdas aos apelos pacifistas.
E a situação actual do país, sem uma oposição
forte, credível e responsável, torna praticamente
impossíveis manifestações pacíficas, como as que se
fazem em muitos países.
No Norte de África e Médio Oriente, muitos
dirigentes, vendo as barbas dos vizinhos a arder,
começaram a meter as suas dentro de água, através
de reformas aos respectivos sistemas políticos.
Entre nós não estou a ver nenhum esforço nesse
sentido.
Vamos ver o que acontece...
Um abraço para ti do

2 comments:

Fijamo said...

Gande Machado da Graca.

MANUEL DE ARAÚJO said...

E verdade o machado esta sempre afiado! Parabens cidadao lucido da minha matria amada! Feliz pascoa! MA