Sunday 24 April 2011

Discurso do deputado Anselmo Victor (Antes da Ordem do Dia)

Excelencias:
A 25 de Junho de 1975, o povo moçambicano encheu-se de alegria ao celebrar a sua independência, conquistada na base do sacrificio e sob derramamento de sangue de milhares dos seus filhos. Nesse dia, proclamava-se a independência total e completa,e no país era instaurado uma República Popular.Claro, grande parte dos moçambicanos não sabiam o que é isso de independência total e completa e não sabiam que significado tinha o termo República Popular. Até por má interpretação, alguns diziam que era República do povo.
No mesmo ano, surgem, em Dezembro as primeiras manifestações de revolta de moçambicanos em todo país, protagonizadas por militantes e militares da Frelimo integrados nas FPLM contra o tipo de regime implantado, que se caraterizava por intolerância política, erradicação da propriedade privada, eliminação da assistência jurídica aos moçambicanos, instauração da pena de morte e do chamboco, combate a religião chegando o regime a declarar que “Deus não existe”, daí transformando igrejas em centros de dança e prostituição e mesquitas em currais de porcos, num cenário completo de profanação, terror e brutalidade do Estado, traíndo completamente o espírito de paz de Eduardo Mondlane e da luta de libertacção nacional onde todo povo participou.
Rapidamente, tal como na ex-União Soviética e na China, o país se tornou numa gigantesca prisão, onde os dirigentes se tornaram carrascos do seu próprio povo e prisioneiros predilectos eram os que não comungavam as suas práticas.

Nao se podia falar da oposição política, quem assim se atrevesse, era imediatamente morto ou preso pois era considerado inimigo do povo não sendo permitido pensar diferente. Foi assim que Andre Matade Matsangaisse e outros combatentes pela independência, presos em Sacuzi, um dos inúmeros e ferozes campos de concentração ditos de reeducação salvaram-se tendo se formado a Resistencia Nacional Moçambicana – RENAMO, aglutinando os anseios de todo povo moçambicano ante o novo opressor nacional.
Da mesma forma que o colonialismo portugues não cedia independência por via pacífica, a luta armada da Renamo, foi a única via encontrada pelo povo moçambicano para mudar o sistema desumano, macabro, satânico instalado na nossa pátria.
A provar o esmagador apoio popular, toda luta da Renamo foi desenvolvida dentro do território moçambicano; toda direcção da Renamo actuava e vivia dentro do território moçambicano. Portanto, a luta da Renamo teve apoio total do povo moçambicano que o acolheu e amparou, contrariamente a luta dos nossos compatriotas que foi dirigida a partir de Tanzania nos campos de Nachingueia, Bagamoio e outros mas todos no estrangeiro.
O povo venceu, a Frelimo perdeu. Com a vitória da Renamo, depois de tantas derrotas da Frelimo no campo de batalha, e estarem circunscritos `as cidades onde actualmente pretendem distribuir a cesta básica, no lugar de aumento salarial e criação de postos de trabalho, a Frelimo não teve outra alternativa senão render e submeter se aos objectivos da luta da Renamo que foram e são pluralismo político, eleições livres e justas, mercado livre, livre expressão, iniciativa privada,liberdade religiosa, valorização da nossa tradição. Actualmente, a Frelimo diz aplicar esses princípios, mas porque não constitui sua doutrina, aplica-os mal, tendo instalado um capitalismo selvagem sem regras, no lugar de economía de mercado.
Hoje, a justeza da luta da Renamo é confirmada. Mas disvirtuada pelo actual estatuto que os carrascos do povo, alguns dos quais presentes nesta sala usufruem. A titulo de exemplo, hoje esses carrascos ja vão a igreja, ja põem fatos e gravatas ao invés de balalaicas da mesma côr, fraudulentamente apoderam-se de empresas, tornam-se ricos com aquilo que é do povo,vêm a este pódio, apregoam a paz e chamam de inimigos os que não comungam seus ideais, querendo reeditar que não se pode pensar de forma diferente. Somos pela paz sim mas não a paz do cemitério de que tanto falou o Espinosa.
Os carrascos de ontem e de hoje, autoproclamados democratas, correm para que as instituições de ensino, hospitais, ruas, avenidas tomem seus nomes como grandes heróis, e quando na sua insaciável apetência pelo dinheiro não vinga vêm dizer que nada tem a ver com o empreendimento, ameaçando inclusive de morte aos dirigentes desses empreendimentos em actos inúteis e extemporâneos ignorando a justiça e os tribunais.
Ganhamos. Hoje, graças a luta iniciada por André Matade Matsangaisse, continuada por Afonso Macacho Marceta Dlhakama estamos aqui, apesar do roubo, fomos eleitos porque como sempre, o povo confia em nós.

Alguém me perguntava: qual é o discurso da Frelimo, após independência, durante a guerra civil, após guerra civil e nesta fase. Não há diferença. O discurso é sempre o mesmo. Discurso de Nachingueia.

Muito obrigado
Anselmo Victor

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