Saturday 26 February 2011

A Opiniao de António de Almeida

Vovô Camal e papá Pio, o que se passa com o carnaval chuabo?

Faça sol, calor, chuva ou frio, o carnaval é uma tradição do povo chuabo ou passou a ser tradição e só para recordar que a toral musical do carnaval é o samba, pelo menos para Quelimane e isso já vem vindo dos tempos dos meus avós, para não ter que figurar aqui, dês de que os animais falavam e não é para tocar ritmos que agradem aos barbas azuis.

Naquela altura, as bandas musicais tocavam e encantavam o público e os grupos ganhavam prémios justamente e não se olhava a cara das empresas. Os bairros concorriam sem medo de serem descriminados.

Hoje o carnaval anda doente, quem sabe mutilado, amputado por pessoas que nem se quer tem o carácter de contribuir para a postura do carnaval chuabo e se calhar nunca tiveram um.

Onde estava o papá Pio quando nomeou para a organização de eventos culturais, pessoas arrogantes que esticam o pescoço e levantam os ombros como que se as partes não pertencessem ao corpo; será que isso é saudável para a nossa cultura que já está magra pela cólera transmitida pelo desprezo do poder? É mesmo saudável papá Pio?

Papá, a gestão de algo não se faz por meio de amizade, mas sim por meio de profissionalismo e com pessoas que conhecem as coisas. Não é por eu fumar um cachimbo com este ou aquele, que devo nomear as cegas outros cegos.

Não quero na brancura deste espaço e a tinta preta, tirar o mérito das pessoas, mas por favor eu sou chuabo e doe-me ver que o nosso carnaval já há muito que está no velório, a caminho do cemitério, onde já foram enterradas outras tantas culturas do meu povo.

É isso mesmo que nós escolhemos? Não! Nós queremos um carnaval a nossa moda e não a moda do vovô de outras culturas.

Porque é que sempre tem que mudar o realístico da Zambézia? A nossa terra tem um povo e esse povo tem o seu carácter e não se pode mudar.

Nós munícipes atentos, exigimos do papá Pio, um carnaval típico dos chuabos. Recorde-se velho, que essa é uma cerimónia que apenas acontece uma vez por ano e não vale desmoronar a natureza da mesma.

Daqui a pouco, se calhar, teremos carnaval num ano e no outro não, porque nesse ritmo que as coisas estão, só da mesmo para desconfiar a capacidade de quem organiza.

Da para esclarecer que tipo de desfile é aquele que vimos?

Claro, os argumentos serão tantos ao ponto de convencer a qualquer um, mas nós munícipes atentos não caímos nessa ladainha.

Senhor presidente do município de Quelimane, é preciso ter consciência de que cultura é diferente de aculturação e há alguns detalhes da cultura que não podem ser fundidos. A fusão é um processo de negociação a não de imposição.

Quando negociamos para atingir algum resultado, os mesmos são positivos; mas quando apenas impusermos os nossos ideais, estamos a beira de desmoronar todo um processo que devia ser seguido pacificamente.

Ao debruçar-me sobre isso, é porque tenho ouvido lamentações dos participantes.

Hoje, os SALDICOS e os Garimpeiros são bandas que já não participam na festa de carnaval, porque sentiram-se injustiçadas por algum que mamou o tako das bandas.

Hoje são convidados os putos músicos que agora tocam por gosma, mas amanhã irão cobrar porque a fome e a responsabilidade os irá apertar. E ai vovó, como vão ficar as coisas? Vamos ter um carnaval animado pelos DJ´s? Que pena mesmo, ter pessoas caducas no sistema operativo.

Hoje o nosso carnaval está virado do avesso e anda de pernas para o ar. Mas de quem é a culpa? É de quem organiza, ou de quem procurou o organizador?

Hoje a música do carnaval não se ouve, porque arranjam megafones, pagam preços baixos e descaradamente dizem que é aparelhagem. Será que o município de Quelimane não tem capacidade de adquirir uma boa aparelhagem para fazer face aos eventos culturais? Será que não?

Hoje as barracas tocam tudo e não respeitam a música tocada do carnaval; mas como respeitar também se não se ouve!

Será que devemos assumir isso como realidade ou negligência?

A mim doe tanto saber e ver que existem pessoas que apareceram para afundar a minha pobre Zambézia e deixar o meu povo desnorteado.

Mas acredito que existem zambezianos de verdade que vão um dia exigir dos barbas azuis que assustam o desenvolvimento, e ai, serão conotadas pessoas que nada tem a ver e sabem porquê?

Porque o poder faz com que as pessoas se tornem ruins, perversas, arrogantes e até ignorantes, pensando que o povo não tem e nem faz análises.

Cuidado!

Carnaval é carnaval mas usar o nome do carnaval para ludibriar o povo é outra coisa.

1 comment:

Fusão e Aquisição said...

Gostei muito da sua visão: "A fusão é um processo de negociação a não de imposição" e concordamos plenamente. Excelente artigo!