– Considera o académico e ex-deputado da Renamo pelo círculo eleitoral da Zambézia, Manuel de Araújo
Quelimane (Canalmoz) – Na última avaliação nacional da pobreza, divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a província da Zambézia é apontada como a que conheceu o maior aumento da pobreza, nos últimos 6 a 7 anos. O Professor Doutor Manuel de Araújo não tem dúvidas quanto às razões que estão a afundar aquela província central do país, afinal a sua província natal. “Há fraqueza estrutural por parte do Governo, do próprio plano estratégico do desenvolvimento da província”, diz Manuel de Araújo em entrevista exclusiva ao Canalmoz.
O Professor Manuel Araújo considera que a regressão no desenvolvimento económico e social da província da Zambézia se deve a políticas e estratégias pouco claras do governo e ausência de uma estrutura com qualidade e capacidade suficiente para levar a cabo os planos de desenvolvimento traçados.
“Os dados do próprio Governo demonstram que a província da Zambézia faz parte daquele grupo de províncias que ao invés de progredirem, regrediram, nos principais índices de desenvolvimento”. O último Inquérito sobre Orçamento Familiar demonstra, de facto, que a província da Zambézia é a campeã em termos de retrocesso em comparação com outras províncias”, recordou o antigo deputado da oposição, para quem “esta questão deve preocupar a todos cidadãos, não apenas os residentes da província”.
“Não posso confirmar se há falta de vontade política, o que eu posso dizer é que há falta de capacidades. Há fraqueza estrutural por parte do Governo, do próprio Plano Estratégico de Desenvolvimento da província e penso que neste momento ao invés de andarmos a apontar os culpados, o que temos que fazer é redobrar esforços, arregaçarmos as mangas e identificarmos as fraquezas e juntos traçarmos um novo plano estratégico para a província da Zambézia e traçarmos os planos de desenvolvimento e podermos avançar rumo ao desenvolvimento da província”, propôs.
“Tive encontros de trabalho e de cortesia com o governador, com os directores do Turismo, Obras Públicas e da Educação e notei uma grande vontade em lapidar o diamante zambeziano, só que não temos meios nem recursos humanos para a dimensão e gravidade dos problemas que a província enfrenta! Sem ovos, não se fazem omeletas! A política orçamental, fiscal, monetária e cambial deste país estão a matar a Zambézia! Precisamos de mudanças radicais na concepção, gestão e implementação desses instrumentos!”, explicou Manuel de Araújo, para sustentar que não falta vontade política.
Estratégias contradizem-se
Mais adiante, Manuel de Araújo disse que o principal motivo da regressão do desenvolvimento a nível da província de Zambézia se deve acima de tudo à ausência de correspondência entre os diversos sectores que concorrem para o mesmo factor, ou seja, para um desenvolvimento integrado.
“Primeiro são estratégias falhadas. Eu tive oportunidade de dizer ao próprio Presidente da República que há um problema grave com as estratégias de desenvolvimento deste país, porque as estratégias não convergem entre si. Por exemplo, falava da questão do tabaco, enquanto o Ministério da Agricultura promove a cultura do tabaco, o Ministério da Saúde faz campanhas para a diminuição do consumo do tabaco, porque isso prejudica a saúde. Eu acho que as estratégias dos ministérios devem coincidir”, disse o académico.
O académico repisou a necessidade de haver diálogo entre as instituições do Governo. “Os ministérios devem falar entre si. Os planos devem ser complementares”. “Por exemplo, na área do Turismo é importante que quando se formula o plano estratégico do sector do Turismo participe, por exemplo o Ministério da Agricultura, porque o Ministério tem um papel importante no turismo, assim como as Obras Públicas, a Industria e Comércio e até a Educação”, disse.
MPD é inoperacional
Durante a entrevista Manuel Araújo sugeriu a existência de um Ministério de Planificação e Desenvolvimento mais operacional. “Temos que ter um Ministério do Plano e Desenvolvimento que deve assumir o seu papel que é coordenar a produção de estratégias. Sairmos dos planos sectoriais para planos coerentes de desenvolvimento nacional. Aí, eu penso que está o principal desafio”, concluiu o ex-deputado da Renamo na Assembleia da República.
(Aunício da Silva)
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