NAVEGABILIDADE DO ZAMBEZE – AS EVIDÊNCIAS DE CONFLITOS DE INTERESSES ACUMULAM-SE
Até se enganam ao nomearem porta-vozes e defensores…
Beira (Canalmoz) - Não tem lógica e nem se pode aceitar que alguém possa ser juiz em causa própria. Todos os que tem interesses privados nos portos de Nacala e da Beira, nas linhas férreas que confluem para estes dois portos são obviamente contra a possibilidade do Malawi e Zâmbia realizarem suas importações e exportações por via do rio Zambeze. E até são contra que outros negócios locais possam proporcionar progressivamente mais negócios aos locais e a elites nacionais que se possam vir a formar com autonomia relativamente aos grupos actuais preponderantes.
Obviamente que no domínio das relações económicas e comerciais tem sempre peso o interesse dos interlocutores. Na esteira do Caso Chire-Zambeze despoletado por questões relacionadas com a sua navegabilidade existe um processo de clivagem e crescente de desentendimento entre o executivo de Lilongwe e o de Maputo. Não é bom o tom e as relações de momento também estão azedas. As acusações mútuas acabam revelando a qualidade e tipo de relacionamento existente no seio da SADC.
Uma questão que deveria ser tratada no quadro dos mecanismos internacionalmente aceites e em conjugação com os interesses económicos e políticos de dois ou três países da região estão sendo conduzidos de maneira pouca diplomática e profissional.
Uns podem dizer que o Malawi colocou “a carroça à frente dos bois” ao avançar com a construção do porto de Nsanje antes de garantir acesso ao rio Zambeze.
Do lado malawiano multiplicam-se vozes de que o governo de Moçambique estás sendo obstrucionista e colocando interesses particulares acima do direito que países do interior e sem acesso directo ao mar possuem.
Em Moçambique o governo monta operações mediáticas para transformar o problema em outra coisa que de facto não é. Convenhamos que a pouca gente convence a tese da necessidade realização de estudos ambientais embora isso seja prática corrente a nível mundial. Quantas vezes não se atropelam as conclusões dos estudos de impacto ambiental e projectos abertamente contra o ambiente são autorizados?
Mesmo a lógica financeira de autorização de projectos como o da MOZAL parte de fundamentos discutíveis e ambientalmente hostis ao interesse último dos moçambicanos. Não é pelos ganhos económicos arrecadados pelo país que o empreendimento foi estabelecido em Moçambique.
É trampa aparecer com números grandiosos e desta maneira procurar justificar porque são os moçambicanos que têm de aceitar conviver com a poluição e não os cidadãos de onde vem a corporação proprietária da Mozal. Será porque empobrecidos temos de aceitar tudo e mesmo lixo tóxico?
Voltando ao grande rio está claro que determinados interesses da nomenclatura de Maputo serão beliscados se o projecto de navegar o Zambeze for avante. Sem ingenuidade nem pretensões de transparência é evidente que os detractores daquele projecto se movimentam a mando de interesses específicos e a coberto de uma pretensa bagagem intelectual e técnica.
Se é inquestionável que o governo moçambicano exija um estudo de impacto ambiental idóneo também é de bom tom que não se ponha a disparar salvas de artilharia em certa comunicação social ao mesmo tempo que nos canais diplomáticos nos diz que está conversando sobre o assunto.
Há que se tratar deste e de outros assuntos similares com boa-fé e clarividência. O governo deve estar suficientemente informado e abalizado nos assuntos que discute com os vizinhos e com outros. Qualquer dia é o Zimbabwe que se coloca contra entraves à utilização do rio Pungué e depois?
A sensibilidade e sentido estratégico como se tratarem estes assuntos vai contribuir para o crescimento da SADC e promover o real desenvolvimento regional e de cada país em si.
Os interesses circunstanciais de gente que está agora no poder e que tem sob sua alçada os dossiers económico-financeiros da actualidade não podem sobrepor-se aos interesses genuínos dos cidadãos em geral.
Há que pedir contenção aos governantes e aos fazedores de opinião de seus países de modo a que os interesses genuínos da região não sejam preteridos em nome de algo que já não faz parte da agenda efectiva de seus países.
O futuro dos vizinhos depende da maneira como eles escolham entenderem-se hoje.
Exigir processos de integração transparente significa acautelar os interesses de todos e embarcar numa via que irá promover aquele desenvolvimento tão falado como o desejado. Se ao nível de uma comunidade regional como a SADC não se conseguem criar os elementos de coesão e cooperação necessários mais difícil será viabilizar a União Africana.
Afinal o projecto ou sonho de Estados Unidos de África não tem mesmo pernas para andar…E o da SADC parece estar a tornar-se um absurdo manietado por grupinhos particulares…
(Noé Nhantumbo)
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