Friday, 29 October 2010

A Opiniao de Machado da Graça

Marco do Correio



Bom dia Juvenal

Como vai a tua vida? Do meu lado tudo bem,felizmente.

Gostava de comentar hoje, contigo, a “carta” que o Adelino Buque mandou ao Jorge Rebelo, através do “Correio da manhã”. Texto que li com algum desagrado mas sem grande surpresa.

Tudo isso pela forma de argumentar do Buque.



Não tendo capacidade para rebater as ideias do Rebelo sobre o enriquecimento de uma certa elite governamental à custa do Povo, Adelino Buque entrou pelo caminho de tentar desqualificar o Jorge Rebelo, através do seu passado, tirando assim valor às suas actuais ideias.



Não discutiu ideias, atacou o homem. E atacou o homem, ao longo de todo o texto,

devido às formas repressivas que a FRELIMO, da época pós-Independência, usou contra a liberdade de expressão do pensamento.



Permanentemente ele atira à cara do Rebelo o facto de que, quando este era Ministro da

Informação e ideólogo do partido, críticas à governação não teriam sido toleradas.

Mas Buque tenta ir mais longe do que isso. Tenta dizer que, em comparação com esse passado de falta de liberdade, o momento actual é muito melhor. E tenta inferir que é muito melhor em todos os aspectos e não só na liberdade de imprensa e de expressão.



Ao criticar a falta dessas liberdades, no tempo de Samora, Adelino Buque está a atacar toda a

governação daquela época e ao exaltar a actual liberdade está a exaltar toda a governação actual.



Como quem diz que a actual liberdade faz parte de um pacote que inclui também o tal enriquecimento da elite sem olhar a meios para a conseguir.



O que, obviamente, é levar as coisas demasiado longe. É longa a lista de países em que se goza de total liberdade de expressão mas onde muitos dos elementos da nossa elite estariam há anos na cadeia devido à forma como enriqueceram.



E a forma como o povo moçambicano recorda os tempos de Samora é bem indicativa de que a falta de liberdade de expressão não impedia outros aspectos da governação em que o Povo e os seus direitos eram respeitados e acarinhados. Ao contrário do que hoje se passa.

Além disso, Juvenal, eu posso falar à vontade sobre estas coisas porque fiz parte de um significativo grupo de jornalistas que se bateu sempre pelo alargamento dessas liberdades, sofrendo muitas vezes as consequências dessa luta. E, talvez por falta de memória da minha parte, não me recordo de alguma vez ter visto o Adelino Buque ao nosso lado.



Talvez já andasse, por esses tempos, de escova em punho a polir o seu trajecto pela escada do sucesso acima. Actividade em que tem já alguma excelência como, de resto, esta “carta” ajuda a perceber.



Enfim, como diria Mondlane, quem nasceu para ser galinha nunca voará como as águias.



Embora possa ir engordando à custa do milho que lhe vão dando.



Um abraço para ti do



Correio da Manha No. 3435 de 29 de Outubro de 2010

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