Thursday 23 September 2010

Secretária de Estado, Hillary Rodham Clinton sobre a Política Externa dos Estados

8 de setembro de 2010


Pronunciamento, Conselho de Relações Exteriores

Washington, DC

SECRETÁRIA HILLARY CLINTON: Muito obrigada, Richard. É um prazer estar aqui de volta ao Conselho com dois braços para trabalhar. Isso é algo que me deixa muito feliz e agradecida, e obrigada por você ter feito referência àquilo que foi o mais difícil ato de equilibrismo deste meu período como secretária de Estado: organizar o casamento da minha filha, o qual, como não cansava de contar às pessoas em minhas viagens aos lugares mais turbulentos, foi muito mais estressante do que qualquer outra coisa em minha agenda. (Risos.) É realmente um prazer ver tantos amigos e colegas e ter novamente esta oportunidade de discutir com vocês onde se encontra nosso país e para onde, espero, estamos nos dirigindo.



Está claro que muitos de nós e muitos de vocês na platéia estão acabando de chegar das férias de verão. Ontem, no Departamento de Estado, parecia o primeiro dia de aula. Todos chegaram em nossa reunião matinal e – (risos) – com a aparência muito mais saudável do que a que tinham antes sair de férias. E também é óbvio que para nós não há descanso. Os eventos da semana passada nos manteve ocupados.



Estamos trabalhando para dar apoio às conversações diretas entre israelenses e palestinos, e, na próxima semana, viajarei ao Egito e à Jerusalém para uma segunda rodada dessas negociações. No Iraque, onde nossa missão de combate chegou ao fim, estamos transferindo e fazendo a transição para uma parceria sem precedentes liderada por civis. Estamos intensificando a pressão internacional sobre o Irã para negociar seriamente sobre seu programa nuclear. Estamos trabalhando com o Paquistão à medida que o país se recupera das enchentes devastadoras e continua a combater o extremismo violento. E, é claro, a guerra no Afeganistão é sempre uma das coisas mais importantes em nossa mente e em nossa agenda.



Ora, nenhum desses desafios existe separadamente. Considerem as conversações de paz no Oriente Médio. Em um aspecto, elas são negociações bilaterais envolvendo dois povos e uma faixa relativamente pequena de terra. Mas dê um passo atrás e fica evidente o quanto são importantes as dimensões regionais e até mesmo as dimensões globais do que teve início na última semana. E como é importante o papel que instituições como o Quarteto, formado por Estados Unidos, Rússia, União Europeia e ONU, bem como a Liga Árabe, estão desempenhando e, da mesma forma, se não mais, como a participação americana é realmente vital.

Resolver problemas de política externa atualmente nos obriga a pensar numa perspectiva regional e global, para ver as intersecções e conexões que ligam nações, regiões e interesses, para unir as pessoas de uma maneira que só os Estados Unidos conseguem.



Creio que o mundo está contando conosco hoje assim como no passado. “Quando antigos adversários necessitam de um intermediador honesto ou quando as liberdades fundamentais necessitam de um defensor, as pessoas nos procuram. Quando a terra treme ou os rios transbordam, quando as pandemias se alastram ou tensões contidas explodem em violência, o mundo nos procura. Vejo isso no rosto das pessoas que encontro nas minhas viagens, não apenas nos jovens que ainda sonham com a promessa dos Estados Unidos de oportunidade e igualdade, mas também de diplomatas e líderes políticos experientes que, admitam eles ou não, veem o compromisso baseado em princípios e o espírito de que tudo é possível que acompanham o engajamento americano. E eles realmente esperam não apenas o engajamento dos Estados Unidos, mas sua liderança.



E nada me deixa mais orgulhosa do que representar esta grande nação nos mais remotos cantos do mundo. Sou filha de um homem que cresceu na Depressão e treinou jovens marinheiros para lutar no Pacífico. E sou mãe de uma jovem que faz parte de uma geração de americanos que está participando no mundo de maneiras novas e empolgantes. E, nessas duas histórias, vejo a promessa e o progresso dos Estados Unidos, e tenho a mais profunda fé em nosso povo. Ela nunca esteve mais forte.



Sei que esses são dias difíceis para muitos americanos, mas as dificuldades e as adversidades jamais derrotaram ou desanimaram este país. Em toda a nossa história, nas guerras quentes e frias, nas dificuldades econômicas e na longa marcha para uma união mais perfeita, os americanos sempre encararam os desafios que enfrentamos. É como nós somos. Está no nosso DNA. Nós acreditamos verdadeiramente que não há limites para o que é possível ou para o que pode ser realizado.



E agora, após anos de guerra e incerteza, as pessoas se perguntam o que o futuro nos prepara, em nosso país e no exterior.



Portanto, deixem-me dizer claramente: “Os Estados Unidos podem, devem e vão liderar neste novo século.



De fato, as complexidades e conexões do mundo de hoje deram lugar a um novo momento americano, um momento em que nossa liderança global é essencial, mesmo se precisarmos liderar de novas maneiras. Um momento em que aquelas coisas que fazem de nós quem somos como nação – nossa abertura e inovação, nossa determinação e devoção aos valores essenciais – nunca foram tão necessários.

Este é um momento que deve ser aproveitado por meio de trabalho árduo e decisões corajosas para lançar as bases de uma liderança americana que há de durar por várias décadas.



Contudo, isso não é argumento para que os Estados Unidos façam tudo sozinhos; longe disso. O mundo nos procura porque os Estados Unidos têm o alcance e a determinação para mobilizar o esforço compartilhado necessário para solucionar problemas em escala global em defesa dos nossos próprios interesses, mas também como um motor para o progresso. Nesse aspecto, não temos rivais.



Para os Estados Unidos, a liderança global é uma responsabilidade e uma oportunidade única.

Quando estive aqui no Conselho de Relações Exteriores há pouco mais de um ano para falar da visão do governo Obama sobre a liderança americana em um mundo que está mudando, defendi uma nova arquitetura global que pudesse ajudar as nações a se unirem como parceiras na solução de problemas comuns. Hoje quero expandir essa idéia, mas em especial explicar como estamos pondo isso em prática.



A arquitetura é a arte e a ciência de planejar estruturas que sirvam a nossos propósitos comuns, construídas para durar e resistir ao estresse. E é isso que queremos construir: uma rede de alianças e parcerias, organizações regionais e instituições globais que sejam duradouras e dinâmicas o suficiente para nos ajudar a enfrentar os desafios atuais e a nos adaptar às ameaças que sequer imaginamos, assim como nossos pais jamais sonharam com derretimento de geleiras ou bombas sujas.



Sabemos que isso pode ser feito, porque os antecessores do presidente Obama na Casa Branca e os meus no Departamento de Estado já o fizeram. Após a Segunda Guerra Mundial, a nação que tinha construído a ferrovia transcontinental, a linha de montagem e o arranha-céu, voltou sua atenção para a construção dos pilares da cooperação global. A terceira Guerra Mundial que tantos temiam, nunca aconteceu. E vários milhões de pessoas saíram da pobreza e usufruíram de seus direitos humanos pela primeira vez. Esses foram os benefícios de uma arquitetura global montada ao longo de muitos anos por líderes americanos dos dois partidos políticos.



Mas essa arquitetura serviu a uma época diferente e a um mundo diferente. Como disse o presidente Obama, hoje ela “se verga sob o peso de novas ameaças”. As grandes potências estão em paz, mas novos atores – bons e maus – estão cada vez mais determinando os assuntos internacionais. Os desafios que enfrentamos são mais complexos que nunca, assim como as respostas necessárias para superá-los. É por isso que estamos construindo uma arquitetura global que reflita e aproveite as realidades do século 21.



Sabemos que alianças, parcerias e instituições por si só não podem e não resolvem os problemas. Somente as pessoas e as nações resolvem os problemas. Mas uma arquitetura pode facilitar a ação eficaz ao apoiar a formação de coalizões e a assunção de compromissos que constituem a tarefa diária da diplomacia. Ela pode facilitar a identificação de interesses comuns e convertê-los em ação comum. E pode ajudar a integrar as potências emergentes na comunidade internacional com obrigações e expectativas claras.



Não temos ilusões que essas metas possam ser atingidas da noite para o dia nem que os países subitamente deixem de ter interesses divergentes. Sabemos que o teste da nossa liderança é a forma como administramos essas diferenças e como galvanizamos nações e pessoas em torno daquilo que elas têm em comum, mesmo quando elas têm histórias distintas, recursos desiguais e visões de mundo conflitantes. E sabemos que nosso método para a solução de problemas deve variar de acordo com o problema e o parceiro. A liderança americana, portanto, deve ser tão dinâmica quanto os desafios que enfrentamos.



Mas há duas constantes em nossa liderança, que estão no cerne da Estratégia de Segurança Nacional traçada pelo presidente e divulgada em maio, e que permeia tudo o que fazemos.



A primeira é a renovação nacional voltada para o fortalecimento das fontes de poder americano, em especial nossa força econômica e autoridade moral. Trata-se mais do que assegurar que tenhamos os recursos necessários para conduzir a política externa, embora isso seja fundamentalmente importante. Eu me lembro de que quando era menina, fiquei estimulada com a afirmação do presidente Eisenhower de que a educação nos ajudaria a ganhar a Guerra Fria. Eu realmente levei isso a sério. Eu não gostava de matemática, mas descobri que precisava estudar matemática pelo meu país. (Risos.) Também acreditei que precisávamos investir em nosso povo, em seus talentos e em nossa infraestrutura.



O presidente Eisenhower estava certo. A grandeza dos Estados Unidos, em boa parte, sempre resultou do dinamismo da nossa economia e da criatividade do nosso povo. Hoje, mais do que nunca, nossa habilidade para exercer liderança global depende da construção de uma base sólida aqui em nosso país. É por isso que débito crescente e infraestrutura em frangalhos são ameaças bem reais à segurança nacional de longo prazo. O presidente Obama sabe disso. Vocês podem constatar isso nas novas iniciativas econômicas anunciadas por ele esta semana e em seu foco implacável em fazer uma reviravolta na economia.



A segunda constante é a diplomacia internacional – a boa e velha diplomacia – destinada a unir nações para que resolvam problemas comuns e atinjam aspirações compartilhadas. Como disse Dean Acheson em 1951, “a habilidade de evocar apoio de outros” é “tão importante quanto a capacidade de impor”. Para esse fim, temos restaurado velhas alianças e formado novas parcerias. Reforçamos instituições que oferecem incentivos para a cooperação, desestímulos para a falta de comprometimento e defesas contra aqueles que podem minar o progresso global. E apoiamos os valores que estão no cerne do caráter americano.



Assim, não deve haver engano. Naturalmente, este governo também está comprometido a manter a maior força armada da história mundial e, se necessário, vamos nos defender e aos nossos amigos com vigor.



Após mais de um ano e meio, começamos a ver os dividendos dessa estratégia. Estamos avançando os interesses dos Estados Unidos e progredindo em alguns de nossos desafios mais prementes. Atualmente, podemos dizer com confiança que esse modelo de liderança americana, que coloca toda ferramenta à nossa disposição para trabalhar em defesa de nossas obras de interesse nacional, oferece a melhor esperança em um mundo perigoso. Gostaria de apresentar várias medidas que estamos adotando com relação à implementação dessa estratégia.



Primeira, recorremos a nossos aliados mais próximos, as nações que compartilham nossos valores e interesses fundamentais e nosso compromisso com a solução de problemas que nos são comuns. Da Europa e América do Norte ao Leste Asiático e Pacífico, estamos renovando e aprofundando as alianças que são a base da segurança e da prosperidade globais.



E gostaria de dizer algumas palavras, em especial, sobre a Europa. Em novembro, tive o privilégio de ajudar a comemorar o 20o aniversário da queda do Muro de Berlim, que encerrou o passado falido da Europa. E neste terceiro trimestre na Polônia, celebramos o 10o aniversário da Comunidade de Democracias, que contempla um futuro mais brilhante. Nos dois eventos, lembraram-me da longa distância que percorremos juntos. Quanta força retiramos do manancial de nossos valores e aspirações comuns. Os laços entre a Europa e os Estados Unidos foram forjados por meio de guerra e paz vigilante, mas estão enraizados em nosso compromisso compartilhado com a liberdade, a democracia e a dignidade humana. No momento, estamos trabalhando com nossos aliados europeus em quase todos os desafios globais. O presidente Obama e eu trabalhamos para fortalecer nossos laços bilaterais e multilaterais na Europa.



E a União Europeia pós-Tratado de Lisboa está desenvolvendo um papel global mais amplo e, como consequência, nosso relacionamento está crescendo e mudando. Agora, haverá alguns desafios à medida que nos ajustamos a novos atores influentes como o Parlamento da União Europeia, mas esses debates são entre amigos e serão sempre secundários aos interesses e valores fundamentais que compartilhamos. E não há dúvida de que uma União Europeia mais forte é bom para os Estados Unidos e bom para o mundo.



E, naturalmente, a Otan continua sendo a aliança mais bem-sucedida do mundo. Juntos com nossos aliados, inclusive com os novos membros da Otan na Europa Central e Oriental, estamos elaborando um novo Conceito Estratégico que nos ajudará a enfrentar não somente as ameaças tradicionais, mas também as emergentes como a segurança cibernética e a proliferação nuclear. Exatamente ontem, o presidente Obama e eu discutimos essas questões com o secretário-geral da Otan, o sr. Rasmussen.



Depois que os Estados Unidos foram atacados em 11/9, nossos aliados invocaram o Artigo V da Carta da Otan pela primeira vez. Eles se uniram a nós na luta contra a Al Qaeda e o Taleban. E após o presidente Obama redirecionar a missão no Afeganistão, eles contribuíram com milhares de novos soldados e assistência técnica significativa. Honramos os sacrifícios que nossos aliados continuam a fazer e reconhecemos que somos sempre mais fortes quando nos unimos.



Um princípio básico de todas as nossas alianças é a responsabilidade compartilhada. Toda nação deve se esforçar para fazer sua parte. Uma liderança americana não significa que fazemos tudo sozinhos. Contribuímos com nossa parte, com frequência a maior, mas também temos altas expectativas com relação aos governos e povos com os quais trabalhamos em conjunto.



Ajudar outras nações a desenvolver capacidade para resolver seus próprios problemas – e participar da solução de outros problemas comuns – tem sido há muito tempo um marco da liderança americana. Nossas contribuições para a reconstrução da Europa são bem conhecidas, para a transformação do Japão e da Alemanha. Nós os transformamos de agressores a aliados, para o crescimento da Coreia do Sul em uma democracia vibrante que agora contribui para o progresso global. Essas são algumas das realizações da política externa americana de que mais nos orgulhamos.



Nesta era interconectada, a segurança e a prosperidade dos Estados Unidos dependem mais do que nunca da habilidade dos outros para assumir responsabilidade pela neutralização das ameaças e superação dos desafios no próprio país e na própria região.



É por isso que uma segunda medida em nossa estratégia para a liderança global é ajudar a capacitar parceiros em desenvolvimento. Ajudar países a obter ferramentas e apoio necessários para resolver seus próprios problemas. Ajudar a tirar as pessoas, seus familiares e sua sociedade da pobreza, longe do extremismo e rumo ao progresso sustentável.



Nós no governo Obama consideramos o desenvolvimento um imperativo estratégico, econômico e moral. É central para avançar os interesses americanos – tão central quanto a diplomacia e a defesa. Nossa abordagem não é, contudo, o desenvolvimento só pelo desenvolvimento, é uma estratégia integrada para resolver problemas.



Veja o trabalho para criar instituições e estimular o desenvolvimento econômico nos Territórios Palestinos, algo que Jim Wolfensohn conhece de perto. Os Estados Unidos investem centenas de milhões de dólares para capacitar palestinos porque sabemos que o progresso no local melhora a segurança e ajuda a lançar as bases para um futuro Estado palestino. E cria condições mais favoráveis para negociações. A confiança que a nova força de segurança palestina exibiu afetou a avaliação da liderança israelense, e os Estados Unidos estavam por detrás construindo essa força de segurança junto com outros parceiros como a Jordânia. Mas a principal responsabilidade está nas decisões tomadas pela própria Autoridade Palestina. Portanto, com nossa ajuda e a coragem e o compromisso dos palestinos, vemos progresso que influencia as negociações e traz mais esperanças de que haverá um acordo.



E, naturalmente, essa é a coisa certa a ser feita. Concordamos com isso. Mas, não se enganem, isso se baseia em nosso entendimento de que todas as pessoas estão mais dispostas a assumir riscos pela paz quando lhes dão mais oportunidade. E isso é particularmente verdadeiro quando se trata de mulheres. Vocês sabem que não terminaria este discurso sem mencionar as mulheres e os seus direitos. Acreditamos firmemente que investir em oportunidades para as mulheres traz avanços sociais e econômicos que são vantajosos não apenas para as famílias e sociedades, mas têm um efeito de repercussão que beneficia outras pessoas, incluindo-nos também.



Da mesma forma, investimentos em países como Bangladesh e Gana apostam em um futuro de união com seus vizinhos e outros países, não apenas para resolverem seus próprios problemas um tanto difíceis de pobreza, mas também para serem baluartes que enviam uma mensagem diferente para sua região. Levamos em conta também os países que estão se desenvolvendo rapidamente e já exercem influência como China, Índia, Turquia, México, Brasil, Indonésia, África do Sul e Rússia.



Nossa terceira medida principal, portanto, é aprofundar o engajamento com esses centros emergentes de influência. Nós, nossos aliados e, de fato, pessoas do mundo todo têm interesse e estão exercendo papéis construtivos, regionais e globais. Porque ser uma potência do século 21 significa ter de aceitar uma parte do ônus de resolver problemas comuns e de seguir um conjunto de regras do jogo, por assim dizer, em tudo, desde direitos de propriedade intelectual até liberdades fundamentais.



Portanto, mediante ampla consulta bilateral e dentro do contexto das instituições regionais e globais, esperamos que esses países comecem a assumir maior responsabilidade. Por exemplo, em nosso mais recente Diálogo Estratégico e Econômico na China, pela primeira vez, o desenvolvimento foi incluído na agenda, algo que os chineses estão fazendo em conjunto com seus interesses comerciais, mas sobre o qual queríamos começar a discutir para podermos cooperar melhor e talvez compartilhar as lições sobre como buscar o desenvolvimento de forma mais eficaz. Em um país da África, estamos construindo um hospital e os chineses estão construindo uma estrada; pensamos que seria uma boa idéia a estrada chegar até o hospital. É esse tipo de discussão que, a nosso ver, pode fazer diferença para os povos com os quais estamos envolvidos.



A Índia, a maior democracia do mundo, tem uma enorme convergência de valores fundamentais e uma ampla variedade de interesses tanto nacionais quanto regionais. E estamos lançando as bases para uma parceria indispensável. O presidente Obama usará sua visita em novembro para levar nosso relacionamento ao próximo nível.



No caso da Rússia, quando tomamos posse, as relações estavam frias ou esfriando, e havia suspeitas de um retorno à Guerra Fria. Isso pode ter animado escritores de romance de espionagem e estrategistas de poltrona, mas qualquer um que leve a sério a solução de problemas mundiais como a proliferação de armas nucleares sabia que sem o trabalho conjunto da Rússia e dos Estados Unidos, pouco seria conseguido. Assim, pusemos um foco novo no relacionamento. Oferecemos um relacionamento fundamentado não apenas no respeito mútuo, mas também na responsabilidade mútua.



No decorrer dos últimos 18 meses, conseguimos: um novo tratado histórico sobre redução de armas ao qual o Senado se dedicará na próxima semana; cooperação com a China e o Conselho de Segurança da ONU sobre novas e severas sanções contra o Irã e a Coreia do Norte; um acordo temporário para apoiar nossos esforços no Afeganistão; um novo intercâmbio bilateral entre a comissão presidencial e a sociedade civil que está formando vínculos pessoais mais estreitos; e, é claro, lembraram-nos no terceiro trimestre, os escritores de romance de espionagem têm muito sobre o que escrever, portanto, é uma espécie de situação benéfica para todos. (Risos.)



O trabalho com essas potências emergentes nem sempre é tranquilo ou fácil. Desentendimentos são inevitáveis. E em certas questões como direitos humanos com a China ou a ocupação da Geórgia pela Rússia, nós simplesmente não chegamos a um entendimento, e os Estados Unidos não hesitarão em denunciar e manter nossa posição. Quando essas nações não aceitam a responsabilidade que resulta do aumento da influência, faremos todo o possível para incentivá-los a mudar seu curso enquanto seguimos adiante com outros parceiros. Mas sabemos que será difícil, se não impossível, forjar a espécie de futuro que esperamos no século 21 sem aumento da cooperação abrangente.



Nossa meta é criar relações produtivas que sobrevivam aos períodos de desacordo e nos possibilite continuar a trabalhar juntos. Um elemento fundamental disso é engajar-se diretamente com o povo desses países. A tecnologia e a rapidez das comunicações, em conjunto com a disseminação da democracia, pelo menos em tecnologia, possibilitou às pessoas se manifestarem e exigir o poder de opinião sobre seu próprio futuro. A opinião pública e as emoções têm importância mesmo em Estados autoritários. Assim, em quase todos os países visitados por mim, não me encontro somente com autoridades governamentais. Na Rússia, dei uma entrevista em uma das poucas estações de rádio independentes que restam. Na Arábia Saudita, tive uma reunião em uma faculdade para mulheres. No Paquistão, respondi perguntas de todos os jornalistas, estudantes e líderes empresariais que encontrei.



Portanto, ao mesmo tempo que expandimos nossos relacionamentos com os centros emergentes de influência, trabalhamos para engajá-los com seu próprio público. Escuto repetidamente, quando dou entrevistas tanto na Indonésia, quanto na República Democrática do Congo ou no Brasil, a novidade que é para as pessoas uma autoridade chegar e aceitar perguntas do público. Dessa forma não estamos somente envolvendo o povo e divulgando e explicando valores e opiniões dos Estados Unidos; estamos também enviando uma mensagem a esses líderes. Fazendo assim, deixamos claro que esperamos mais da parte deles e queremos ver os desafios que enfrentamos serem tratados em contexto regional.



Imaginem a dinâmica complexa em torno do extremismo violento no Afeganistão e no Paquistão e sua expansão para o resto do mundo a partir desses dois países ou o processo de reintegração do Iraque com os países vizinhos, uma vizinhança de fato bem complicada. A dinâmica regional não permanecerá estática. E há muitos outros atores trabalhando dia e noite para influenciar os resultados dessas situações especiais.



E sabemos também que outras potências emergentes como a China e o Brasil têm suas próprias noções sobre qual deveria ser o resultado correto ou como devem ser as instituições regionais, e estão bem ativos na busca desses resultados. Nosso amigos, nosso aliados e as pessoas no mundo todo que compartilham nossos valores dependem de nós para permanecer firmemente engajados. A quarta medida em nossa estratégia é revigorar o compromisso dos Estados Unidos de ser um líder ativo, transatlântico, transpacífico e continental.



Em uma série de discursos e consultas em andamento com nossos parceiros, lançamos os princípios básicos da cooperação regional e trabalhamos para fortalecer as instituições e nos adaptarmos a novas circunstâncias.



Veja a região do Pacífico Asiático. Quando tomamos posse, havia a percepção, correta ou não, de que os Estados Unidos estavam ausentes. Portanto, deixamos claro desde o começo que estávamos de volta. Reafirmamos nossos vínculos com fortes aliados como Coreia do Sul, Japão e Austrália e aprofundamos nosso engajamento com a China e a Índia.



Atualmente, a região do Pacífico Asiático tem poucas instituições fortes para incentivar a cooperação eficaz e reduzir o atrito da competição, assim, começamos a construir uma arquitetura regional mais uniforme com o envolvimento profundo dos Estados Unidos.



No âmbito econômico, expandimos nossas relações com a Apec, que inclui quatro dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos e recebe 60% de nossas exportações. Queremos conseguir as vantagens de maior integração econômica. Para isso, devemos estar dispostos a atuar. Com essa finalidade, estamos trabalhando para ratificar um acordo de livre comércio com a Coreia do Sul, buscamos um acordo regional com as nações da Parceria Transpacífica e sabemos que isso ajudará a criar novos empregos e oportunidades em nosso país.



Também decidimos nos engajar com a Cúpula do Leste Asiático, incentivando seu desenvolvimento em uma instituição política e de segurança básica. Representarei os Estados Unidos na Cúpula do Leste Asiático deste ano em Hanói, preparando o caminho para a participação presidencial em 2011.



E no Sudeste Asiático, a Asean realmente abarca mais de 600 milhões de pessoas em seus países-membros. Há mais investimentos americanos em negócios dos países da Asean do que na China. Reforçamos nosso relacionamento com a adesão ao Tratado de Amizade e Cooperação, anunciando nossa intenção de abrir uma missão diplomática e nomear um embaixador para a Asean em Jacarta e o compromisso de realizar cúpulas anuais EUA-Asean.



Sabemos que a região do Pacífico Asiático crescerá em importância e o desenvolvimento dessas instituições estabelecerão hábitos de cooperação vitais para a estabilidade e a prosperidade.



As instituições eficientes são igualmente fundamentais no âmbito global. Portanto, nossa quinta medida foi o reengajamento com instituições globais e o trabalho para modernizá-las de modo que possam lidar com os novos desafios que enfrentamos. Nós obviamente precisamos de instituições flexíveis, inclusivas e complementares, em vez de instituições que só competem entre si por espaço e jurisdição. Precisamos que elas desempenhem funções produtivas que organizem nossos esforços comuns e apliquem o sistema de direitos e responsabilidades.



A ONU continua sendo a única instituição global mais importante. Somos constantemente lembrados de seu valor: o Conselho de Segurança promulgando sanções contra o Irã e a Coreia do Norte; forças da paz patrulhando ruas de Monróvia e Porto Príncipe; trabalhadores de ajuda humanitária dando assistência às vítimas das enchentes no Paquistão e aos desabrigados em Darfur; e, mais recentemente, a Assembleia Geral da ONU criando uma nova entidade chamada Mulheres da ONU, que promoverá a igualdade de gênero e expandirá as oportunidades para mulheres e meninas, além de combater a violência e a discriminação que elas enfrentam.



Mas somos também lembrados constantemente de suas limitações. É difícil, como muitos de vocês na platéia sabem, para os 192 Estados Membros da ONU obter consenso sobre a reforma institucional, inclusive e especialmente a reforma do Conselho de Segurança. Acreditamos que os Estados Unidos têm de desempenhar um papel na reforma da ONU, e defendemos uma reforma do Conselho de Segurança que melhore o desempenho geral da ONU, sua eficácia e eficiência. Da mesma forma e com muita firmeza apoiamos reformas operacionais que permitam o destacamento mais rápido das missões de campo da ONU, com número adequado de soldados e policiais bem equipados e treinados e com a qualidade de liderança e conhecimento especializado civil de que necessitam. Nós não somente apoiamos como defendemos reformas administrativas e economias que evitem desperdício, fraudes e abusos.



A ONU nunca pretendeu atacar todos os desafios, e nem deveria. Então, estamos trabalhando com outras organizações. Para responder à crise financeira global, nós promovemos o G-20. Convocamos a primeira Cúpula sobre Segurança Nuclear. Novas ou antigas, a eficácia das instituições depende do compromisso de seus membros. E vimos um nível de compromisso com essas instituições que continuará a ser cultivado.



Nossos esforços sobre mudanças climáticas – e vejo nosso enviado especial Todd Stern aqui presente – oferecem um exemplo de como estamos trabalhando por meio de vários locais e mecanismos. O processo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas permite que todos nós – países desenvolvidos e em desenvolvimento, do Norte, do Sul, do Oriente e do Ocidente – trabalhemos com uma única instituição para tratar desse desafio compartilhado.



Mas nós também lançamos o Fórum das Grandes Economias para ter como foco os maiores emissores, inclusive nós mesmos. E quando as negociações em Copenhague chegaram a um impasse, o presidente Obama e eu nos reunimos com a África do Sul, a China, a Índia e o Brasil para tentar chegar a um compromisso. E então, com nossos colegas da Europa e de outros lugares, elaboramos um acordo que, embora longe de ser perfeito, salvou a cúpula do fracasso e representa um progresso a partir do qual poderemos avançar. Porque, pela primeira vez, todas as grandes economias firmaram compromissos nacionais para frear as emissões de carbono e informar com transparência seus esforços de mitigação.



Sabemos que há muito a ser feito com relação a questões substanciais, e a ênfase em democracia, direitos humanos e Estado de Direito deve continuar para que consolidem as bases dessas instituições.



Há algo que eu encaro com seriedade, porque não faz sentido tentar construir instituições para o século 21 que não ajam para impedir a repressão e resistir à pressão sobre os direitos humanos, que ampliam as liberdades fundamentais ao longo do tempo para locais onde elas têm sido negadas por tempo demais.



E isso representa nossa sexta medida principal. Estamos apoiando e defendendo os valores universais consagrados na Carta das Nações Unidas e na Declaração Universal dos Direitos Humanos.



Porque, hoje em dia, esses princípios estão ameaçados em todos os lugares. Em muitos lugares, novas democracias estão lutando para criar raízes sólidas. Regimes autoritários estão reprimindo a sociedade civil e o pluralismo. Alguns líderes consideram a democracia uma inconveniência que atrapalha o exercício eficiente do poder nacional.



Essa visão de mundo deve ser confrontada e desafiada em toda a parte. A democracia precisa de defesa. A luta para fazer dos direitos humanos uma realidade humana precisa de defensores.



E esse trabalho começa em casa, onde rejeitamos a falsa escolha entre nossa segurança e nossos valores. E continua no mundo todo, onde os direitos humanos estão sempre em nossas agendas diplomáticas e de desenvolvimento, mesmo com nações de cuja cooperação dependemos em uma ampla gama de questões, como o Egito, a China e a Rússia. Temos o compromisso de defender esses valores nas fronteiras digitais do século 21. Muito foi dito sobre a arte de governar e a nossa e-diplomacia do século 21, mas acreditamos realmente que isso é uma ferramenta adicional importante a ser utilizada.



E na Cracóvia, neste terceiro trimestre, anunciei a criação de um novo fundo para apoiar a sociedade civil e as ONGs envolvidas nessa luta no mundo todo, um foco constante da política dos EUA.



Como todas essas medidas – aprofundamento das relações com aliados e potências emergentes, fortalecimento de instituições e valores compartilhados – funcionam juntas para fazer avançar nossos interesses? Bem, podemos apenas olhar para o esforço que empreendemos no último ano para acabar com as atividades nucleares provocadoras do Irã e seu constante não cumprimento das obrigações internacionais. Ainda há muito trabalho a ser feito, mas estamos abordando o desafio do Irã como um exemplo da liderança americana em ação.



Primeiro, começamos tornando os Estados Unidos um parceiro total e um participante ativo dos esforços diplomáticos internacionais com relação ao Irã. Estivemos à margem e, francamente, esse não era um local confortável para se estar. Por meio da nossa firme disposição para engajar o Irã diretamente, reenergizamos as conversações com nossos aliados e estamos removendo todas as desculpas para a falta de avanço.



Segundo, buscamos enquadrar a questão no regime de não proliferação global, no qual as regras do jogo estão claramente definidas para todas as partes envolvidas. Para liderar pelo exemplo, renovamos nossos próprios esforços de desarmamento. Nosso apoio aprofundado às instituições globais, tal como a AIEA, destaca a autoridade do sistema internacional. E o Irã, por outro lado, continua a se manter afastado por seus próprios atos, gerando até críticas à sua recusa em permitir a visita de inspetores da AIEA da Rússia e da China nos últimos dias. Sua intransigência representa um desafio às regras a que todos os países devem aderir.



E, terceiro, fortalecemos nossas relações com os países de cuja ajuda precisamos para que a diplomacia seja bem-sucedida. Por meio da clássica diplomacia tradicional, chegamos ao amplo consenso de dar as boas vindas ao Irã de volta à comunidade das nações se o país honrar suas obrigações e, da mesma forma, obrigar o Irã a prestar contas se continuar com sua insubordinação.



Neste segundo trimestre, o Conselho de Segurança da ONU aprovou o mais forte e abrangente conjunto de sanções. A União Europeia então seguiu com a implementação vigorosa dessa resolução. Várias outras nações estão implementando suas próprias medidas adicionais, inclusive a Austrália, o Canadá, a Noruega e, mais recentemente, o Japão. Então, acredito que o Irã esteja começando a sentir o impacto dessas sanções. Mas, além do que o governo está fazendo, os setores financeiro e comercial internacionais também estão começando a reconhecer os riscos de fazer negócios com o Irã.



Sanções e pressões, contudo, não são um fim em si mesmos. Elas são os “elementos básicos” de alavancagem de uma solução negociada, com a qual nós e nossos parceiros continuamos comprometidos. A escolha para os líderes do Irã é clara, e eles devem decidir se aceitam suas obrigações ou o crescente isolamento, bem como os custos que isso acarreta, e veremos qual será sua decisão.



Nossa tarefa daqui em diante é continuar a desenvolver essa abordagem para produzir as ferramentas de que precisamos, e temos de fortalecer o poder civil. Quando estive aqui no ano passado, estávamos apenas no início do processo de solicitação ao Congresso de mais diplomatas e mais especialistas em desenvolvimento. Precisávamos de mais pessoal para o Serviços Público e de Relações Exteriores. O Congresso já tinha então fundos alocados para mais de 1.100 novos funcionários para os Serviços Público e de Relações Exteriores. A USAID iniciou uma série de reformas com o objetivo de restabelecer-se como a primeira agência mundial de desenvolvimento. Precisamos repensar, reformar e recalibrar de forma generalizada. E em tempos de orçamentos apertados, não temos apenas de garantir que nossos recursos sejam gastos de forma prudente; temos de convencer o contribuinte americano e os membros do Congresso que isso é um investimento importante. Foi por isso que lancei a primeira Revisão Quadrienal de Diplomacia e Desenvolvimento. Chamamos isso de QDDR, revisão completa do Departamento de Estado e da USAID para sugerir como podemos nos equipar, financiar e organizar melhor. Falarei mais sobre o assunto nas próximas semanas quando essa revisão estiver terminada e publicada.



Mas reconhecemos o escopo dos esforços que empreendemos. Tive muitos conselhos maravilhosos dos meus antecessores. E um dos conselhos mais comuns foi: Você pode escolher tentar administrar o edifício ou administrar o mundo; você não pode tentar fazer as duas coisas. (Risos.) Estamos tentando fazer as duas coisas, o que, para começar, é uma tarefa impossível.



Mas não estamos tentando fazer isso sozinhos. Estamos formando uma parceria mais estreita com o Departamento de Defesa. Bob Gates tem sido um dos maiores defensores da posição que estamos tomando e que estou revelando hoje. Gates está constantemente estimulando o Congresso a nos conceder os recursos que estamos pedindo. Mas há uma questão legítima, e alguns de vocês a levantaram, eu sei, na imprensa e em outros lugares: Como você pode tentar administrar ou pelo menos tratar e até tentar resolver todos esses problemas?



Mas nossa resposta hoje, quando não há nada que não venha a público, é: Do que desistimos? O que guardamos na gaveta? Deixamos de lado o desenvolvimento? Deixamos de lado alguns conflitos importantes? Deixamos de tentar evitar que outros conflitos venham à tona outra vez? Desistimos da democracia e dos direitos humanos? Não acredito que isso seja possível ou desejável. E não é isso que os americanos fazem. Mas isso exige, sim, muita paciência estratégica.



Quando nossos soldados voltam para casa, como voltaram do Iraque e mais tarde voltarão do Afeganistão, ainda estaremos envolvidos em esforços diplomáticos e de desenvolvimento, tentando proteger o mundo dos perigos nucleares e fazê-lo voltar-se para as mudanças climáticas, o combate à pobreza, a diminuição da epidemia do HIV-Aids e o enfrentamento da fome e das doenças. Esse não é um trabalho de um ano, nem mesmo de um mandato presidencial, mas sim de uma vida toda. E é um trabalho de gerações.



Os Estados Unidos firmaram compromissos de gerações para construir o tipo de mundo que queremos habitar agora e por muitas décadas. Não podemos ignorar essa responsabilidade. Somos uma nação que sempre acreditou que temos o poder de moldar nosso próprio destino e construir um caminho novo e melhor e, francamente, juntar as pessoas com os mesmos ideais e de todas as partes do mundo. Então, continuaremos a fazer tudo que podemos para exercer as melhores tradições de liderança americana interna e externamente, para construir um futuro mais pacífico e próspero para as nossas crianças e as crianças do mundo todo.



Obrigada. (Aplausos.)





Para mais informacoes queiram por favor consultar o seguinte endereco electronico:

http://www.cfr.org/publication/22896/conversation_with_us_secretary_of_state_hillary_rodham_clinton.html

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