Sunday 20 June 2010

A Opiniao de Robert B. Zoellick

O fim do Terceiro Mundo?

Há décadas os estudiosos da segurança e política internacional vêm debatendo o surgimento de um sistema multipolar. É chegado o momento de reconhecer um novo paralelo econômico.

Maputo, Sexta-Feira, 14 de Maio de 2010:: Notícias
Se 1989 presenciou o fim da “Segunda Guerra” com o desaparecimento do comunismo, 2009 viu o fim do que era conhecido como o “Terceiro Mundo.” Estamos agora em uma economia mundial nova, multipolar e em rápida evolução – na qual alguns países em desenvolvimento surgem agora como potências econômicas; outros caminham no sentido de se tornarem polos adicionais de crescimento; e outros ainda lutam para alcançar seu potencial neste novo sistema – no qual o Norte e o Sul, o Leste e Oeste agora orientam novos navegadores econômicos sem identificar modelos econômicos antigos.

A pobreza continua e deve ser enfocada. Estados fracassados permanecem e devem ser enfocados. Os desafios globais se estão intensificando e devem ser enfocados. Mas a maneira de enforcarmos estas questões está mudando. As categorizações ultrapassadas de Primeiro e Terceiro Mundos, doadores e suplicantes, dirigentes e dirigidos, não se enquadram mais.

As implicações são profundas: para o multilateralismo, para a ação cooperativa global, para as relações de poder e para as instituições internacionais.

O MULTILATERALISMO É IMPORTANTE

A crise econômica global demonstrou que o multilateralismo é importante. À beira do abismo, os países uniram-se para salvar a economia global. O moderno G-20 nasceu da crise. Mostrou seu potencial agindo rapidamente para reforçar a confiança. A questão agora é saber se isso foi uma distorção ou um vislumbre.

Ao refletirem sobre 2009, os historiadores considerarão o episódio como um caso isolado de cooperação internacional ou o início de algo novo? Agora alguns consideram a tentativa de Woodrow Wilson de criar um novo sistema internacional após a Primeira Guerra Mundial como uma oportunidade perdida que deixou o mundo à deriva entre perigos. Será este um momento semelhante?

O perigo agora é o seguinte: quando diminuir o medo da crise, também diminuirá a disposição de cooperar. Já sentimos as forças gravitacionais trazendo um mundo de Estados-nação de volta à busca de interesses mais estreitos.

Isso seria um erro. As placas tectônicas, tanto econômicas como políticas, estão se deslocando. Podemos deslocar-nos com elas ou continuar a ver um novo mundo através do prisma do antigo. Precisamos reconhecer as novas realidades. E agir baseados nelas.

O QUE É DIFERENTE?

O mundo em desenvolvimento não foi a causa da crise, mas pode ser parte importante da solução. Nosso mundo terá aspecto diferente em 10 anos e a demanda virá não somente dos Estados Unidos mas de todo o mundo.

Já podemos perceber as mudanças. A parcela da Ásia na economia global em termos de paridade do poder aquisitivo tem aumentado constantemente, passando de 7 porcento em 1980 a 21 porcento em 2008. As bolsas de valores da Ásia representam agora 32 porcento da capitalização do mercado global, 30 porcento à frente dos Estados Unidos e 25 porcento da Europa. No ano passado a China superou a Alemanha, tornando-se o maior exportador do mundo. Superou também os Estados Unidos, tornando-se o maior mercado de automóveis do mundo.

Os números das importações contam uma história diferente: o mundo em desenvolvimento está se tornando um impulsor da economia global. Grande parte da recuperação do comércio mundial é devida a uma forte demanda de importações entre os países em desenvolvimento. As importações desses países já estão 2 porcento acima do ponto mais alto antes da crise em Abril de 2008. Em contraste, as importações dos países de alta renda ainda estão 19 porcento abaixo do ponto mais alto anterior. Embora as importações do mundo em desenvolvimento sejam apenas cerca de metade das importações dos países de alta renda, estão crescendo a uma taxa muito mais rápida. Como resultado, representam mais da metade do aumento da demanda de importações mundiais desde 2000. (Continua).

Robert B. Zoellick – Presidente Grupo Banco Mundial

No comments: