Choque britânico
De Londres
Para Via Fanzine
Tradução: Pepe Chaves
Na terça-feira (22/06) o novo governo conservador-liberal britânico anunciou o maior ajuste econômico em uma geração. O choque busca reestruturar o modelo social, no qual, o Estado se retira cada vez mais da economia, enquanto o eixo do crescimento se alicerça no setor privado e em suas exportações.
Para o governo, de todo o grupo das 20 potências, o Reino Unido é a que tem o maior déficit. Enquanto a anterior administração trabalhista falava em corte de £73 milhões (US$ 110 milhões), a coalizão Cameron-Clegg pede um corte 50% maior (de £113 mil milhões ou US$ 170 milhões).
O novo secretário da economia George Osborne propõe “sanear” a economia buscando £3,5 milhões (US$ 5 milhões) através do congelamento de salários públicos, além do corte de £5.5 milhões (US$ 8 milhões) em benefícios aos doentes, desempregados e crianças, gerando £13 milhões extras com reajuste de impostos ao consumo, subindo de 17.5% para 20%, acumulando uma grande soma e eliminando 25% das despesas de todos os ministérios (com exceção de Saúde e Cooperação Internacional).
Antes das eleições de 06/05, os conservadores prometeram que não subiriam o imposto sobre as vendas e os liberais desejavam a manobra. Hoje, estes dois partidos têm lembrado que até janeiro elevarão este imposto a 20%, o que implica em um curto lapso de tempo, no qual o contribuinte vai experimentar o imposto com acréscimo de um terço (com Brown, subiu de 15% para 17.5% e com Cameron, de 17.5% a 20%).
O governo sustenta que se trata de um ajuste duro, mas igualitário, pois afetará a todos. Aceitando o postulado liberal de proteger os mais necessitados, não impõe impostos aos que recebem menos de £10,000 (US$ 15,000) anuais. No entanto, sindicatos sustentam que este reajuste promove uma “guerra de classes”, pois serão os pobres que devem sofrer mais com o imposto ao consumo, vez que, o congelamento de salários e benefícios infantis, deve gerar uma onda de demissões em massa no setor público. Por isso, os atuais e os futuros desempregados terão menos benefícios.
As previsões sustentam que a economia só crescerá 1.2% em 2010 e 2.3% em 2011 (o que implica numa taxa muito inferior à da África) e que a taxa de desemprego será de 8%. A oposição alerta que estas medidas paralisam a recuperação econômica, aumentam o desemprego em números muito superiores aos indicados e geram o risco de o país ter uma inflação de dois dígitos.
Os mercados, ao contrário, têm reagido positivamente, acreditando que tais medidas devem estabilizar a economia. O setor privado é, precisamente, quem fará o teste para ver se o novo modelo vai funcionar e, por isso, tem recebido incentivos, como isenções tributárias. Terá que experimentar, na prática, o que ocorrerá ao Reino Unido e se esta nação conseguirá se transpor rapidamente para um modelo do tipo China ou Alemanha, baseado nas exportações privadas.
Um fantasma que ameaça ao Reino Unido é uma nova onda de protestos sociais e sindicais, enquanto os trabalhistas querem aproveitar o choque para se potenciar a partir da oposição, rompendo com liberais e seus aliados conservadores.
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