Thursday 17 June 2010

A OPINIAO DE BAYANO VALY

Sim, à Geração da Verdade!

Por Bayano Valy

Não se trata de nenhum erro. Quero dizer Geração da Verdade e não Geração da Viragem; esta última deixo para o Presidente Armando Guebuza, os doutores de propaganda da Frelimo e os demais “geracionistas” disseminarem-na ad nauseum.

Pessoalmente, entendo que a discussão das tais Três Gerações enquadra-se dentro da estratégia de marketing político do partido Frelimo, ou seja, criou-se um produto tão ubíquo quanto irreal – todo o mundo fala dele mas não existe senão apenas nos discursos.

Várias questões podem ser colocadas mormente o fundamental objectivo da Geração da Viragem: por exemplo, é possível derrotar a pobreza? Não se conhece nenhum país em que a pobreza foi derrotada, mesmo os mais poderosos têm bolsas de fome no seu seio. Não se estará a colocar a fasquia tão alta que nem o Gigante de Manjacaze conseguiria ultrapassar? Ademais, “lutar contra algo” traz sempre consigo uma conotação negativa; nem sei se isso não impacta negativamente na psique social moçambicana.

Das três gerações que representam a nação, segundo a Frelimo, me parece que apenas uma teve uma vontade própria, uma consciência própria. Foi esta vontade e consciência que a levaram a lutar por Moçambique. Não tiveram ou receberam qualquer orientação que fosse senão das suas próprias consciências, das suas vontades.

O mesmo não se pode dizer da Geração 8 de Março, muito menos do novo produto Geração da Viragem. A Geração 8 de Março foi uma imposição da FRELIMO; os jovens não tiveram muita latitude de escolha. Seguiram ordens e as cumpriram. Portanto, a geração não foi fruto de uma consciência e vontade próprias. O mesmo se pode dizer da proposta Geração da Viragem: não nasce do seio da juventude ou de um sentimento juvenil de que é necessário o seu envolvimento em algo que não seja pensar no seu próprio umbigo. Nasce algures e a juventude, ou um punhado de jovens, os “geracionistas”, vai servindo de caixa de ressonância.

Mas o que mais me espanta é que lança-se um produto e não se quer que o discutamos. Este me parece um dos grandes problemas deste país: faz-se de contas que todos podem falar apenas para o Inglês ver. Um exemplo flagrante, foi o Presidente da República, que aquando da tomada de posse aconselhou o seu governo a não ter receio da crítica justa porque a mesma ajudava a crescer, ter tentado coarctar o debate. Ninguém está assustado, penso que o maior problema é que as explicações não convencem e se não se está convencido, não se pode apropriar de seja lá o que for. Alguém está assustado?

É contra este pano de fundo que eu acho que nós os jovens temos que ter algo nosso, algo que possa espelhar os nossos anseios; algo em que possamos encontrar uma Utopia nossa. Acho eu que é altura de nós os jovens criarmos algo com que possamos nos identificar, uma Geração da Verdade.

A Geração da Verdade seria uma geração de jovens pensantes, com vontade e consciência própria, de jovens que não se preocupassem em defender as cores de seja lá qual fosse o partido político, raça, religião, etnia, entre outros, mas sim as cores da bandeira nacional, visando promover o bem estar cultural, social, económico e político.

Uma geração de jovens que colocaria as ferramentas científicas ao seu dispor na busca constante da verdade (se é que esta existe). Na concepção da Geração da Verdade, a verdade não seria nada menos que encontrar formas de operacionalizar os artigos plasmados na Cons­tituição da República de modo a criar-se um Estado justo, igualitário, emancipador, entre outros.

A Geração da Verdade seria uma geração comprometida em promover a cidadania e alargar o debate na esfera pública; uma geração que promoveria ideias pelo seu mérito e não pela sua atracção política, religiosa, rácica ou étnica.

A Geração da Verdade exaltaria o patriotismo que seria acima de tudo almejar o melhor para Moçambique. Esta geração se constituiria por jovens inquiridores, respeitadores, e responsáveis. Jovens que não se conformam com respostas ou soluções fáceis; jovens que exigem respon­sabilização na má gestão da coisa pública; jovens que promovam a previsibilidade no exercício da burocracia nacional.

Finalmente, a preocupação fundamental da Geração da Verdade seria de produzir co­nhecimento objectivo com o intuito de contribuir no crescimento de Moçambique no concerto da nações. A democracia apenas pode funcionar se exigir de si e das lideranças políticas, económicas e sociais a aplicação de altos padrões de cidadania.

SAVANA – 11.06.2010

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